Lisboa — As universidades brasileiras querem ampliar as parcerias internacionais para incrementar as pesquisas e reforçar o intercâmbio entre estudantes. Um grupo de representantes das instituições passou a última semana em Portugal, onde foram firmados vários acordos para troca de experiências. Missões semelhantes já tinham percorrido Rússia, China e Israel, disse o professor Celso Niskier, presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).
“Em Portugal, foram três os objetivos: estabelecer parcerias com as universidades privadas, aprender como funciona o sistema de ensino português, vendo diferenças e semelhanças com o Brasil, e absorver parte da riqueza cultural do país europeu”, detalhou Niskier. Segundo ele, a resposta das instituições portuguesas foi muito positiva. Tanto no Porto, quanto em Aveiro, Coimbra e Lisboa, foram ressaltadas a importância de se dar maior mobilidade aos estudantes, aumentar as pesquisas conjuntas e estimular estágios em ambos os lados.
A proposta de internacionalização das universidades brasileiras envolve mais de 330 mantenedoras, assinalou Niskier. Ele acredita que esse movimento será facilitado pelo mundo digital, já que professores dos dois países poderão dar aulas remotas, trocando conhecimento entre eles e com os alunos. “Nossa expectativa é de abrir várias frentes”, afirmou. O professor ressaltou ainda que as parcerias permitirão que as instituições possam enfrentar problemas semelhantes, como a dificuldade em reter os alunos.
“Um dos maiores desafios nesse sentido, no Brasil e em Portugal, é fazer uma ligação mais apropriada entre as universidades e o mercado de trabalho”, disse o presidente da Abmes. Muitos alunos iniciam os estudos, mas acabam abandonando as salas de aula porque não veem oportunidades reais de saírem empregados quando se formarem. Parte dos que se graduam não conseguem exercer as profissões para as quais se habilitaram, aceitando funções completamente diferentes porque precisam trabalhar.
Preconceito
Niskier destacou que uma das diferenças entre Portugal e Brasil é que o país europeu não tem um sistema robusto de ensino à distância (EaD). “Nas universidades brasileiras, 60% disponibilizam esse mecanismo aos alunos”, assinalou o professor. Portugal, por sua vez, está muito à frente do Brasil quando o tema é pesquisas. Não à toa, cada vez mais brasileiros se mudam para o outro lado do Atlântico para desenvolver seus estudos.
“Somente na Universidade de Coimbra, há 450 estudantes brasileiros fazendo doutorado. Eles representam 15% do total”, frisou. De acordo com o professor, Portugal tem muito interesse nesse intercâmbio, devido a seus problemas demográficos. A população local está ficando cada vez mais velha e a taxa de natalidade é muito baixa. A população portuguesa hoje é de 10 milhões de pessoas, enquanto as universidades brasileiras têm 8 milhões de alunos.
Ele reconheceu, porém, que, ao mesmo tempo em que o governo português e as universidades defendem a ida de estudantes brasileiros para o país europeu, há muitos relatos de preconceito contra os estrangeiros. Há professores que rejeitam a escrita em português do Brasil, sob a alegação de que não é o português correto. Além disso, estudantes locais já deram demonstração de xenofobia e as corporações profissionais criam uma série de barreiras para a validação de diplomas brasileiros. “Sobre esse último ponto, estivemos com o embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carrero, e ele nos disse que o acordo para reconhecer os diplomas brasileiros deve ser fechado até o fim deste ano”, contou.
Para o professor, uma das formas de se superar os entraves em relação à validação de diplomas brasileiras é a abertura de unidades de universidades de Portugal no Brasil. O primeiro passo nesse sentido, por sinal, será dado pela Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (Cespu), que se prepara para inaugurar seu primeiro campus em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. “Esse pode ser um caminho, uma instituição portuguesa concedendo diplomas no Brasil”, destacou.
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