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Estudantes pioneiros se emocionam ao relembrar trajetórias na UnB

Em encontro saudosista, ex-alunos relataram aventuras, venturas e desventuras vividas nos primeiros anos da instituição

Em encontro marcado por emoção e nostalgia, ex-alunos da Universidade de Brasília (UnB) relembraram, nesta quarta-feira (27), suas vivências no câmpus Darcy Ribeiro. A mesa-redonda 60 Anos da UnB: pelo olhar dos seus primeiros alunos, contou com a presença de três egressos que testemunharam os 10 primeiros anos da história da universidade. Hoje professores de outras instituições de ensino, os convidados relembraram suas passagens pelo câmpus Darcy Ribeiro, ainda em fase de construção, no auge da ditadura militar.

A coordenadora da mesa, professora emérita do Departamento de Sociologia e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral, abriu o encontro destacando a importância de “escutar os ensinamentos do passado para pensar o futuro”. “Nossa intenção, aqui, hoje, mais do que analisar currículo, é ver esses depoimentos de alunos da nossa UnB”, declarou.

Baiana e dona de extenso currículo no exterior, a professora de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Nadya Araujo Guimarães, fez questão de escrever seu discurso para não se perder em meio ao saudosismo. “Achei melhor calibrar a emoção com texto”, disse ela, no início de sua explanação.

Nadya ingressou na UnB em 1968 e se formou em 1971. Até se graduar em Ciências Sociais, cruzou caminhos entre a história e a sociologia. Ela ressaltou o paradoxo de ter estudado em uma universidade pioneira na reestruturação do ensino superior em um momento crítico de repressão política. “Do lado de fora era pauleira, do lado de dentro era o livre pensar”, pontuou. Para ela, a UnB foi símbolo de resistência. “Tal conjunção fez da UnB, àquela época, uma sólida construção coletiva, capaz de enfrentar e vencer todas as forças autoritárias”, afirmou.

Aluna da primeira turma da UnB e hoje diretora de Convênios e Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), a professora Ana Christina Kratz foi a tardeira palestrante do evento.

Contemporânea de importantes nomes da educação, conviveu com Darcy Ribeiro e Roberto Salmeron, e também com o líder estudantil Honestino Guimarães, que presidiu a Federação dos Estudantes da UnB e foi morto no auge da ditadura, em 1973.

Aprovada no primeiro vestibular da UnB, Kratz ingressou na instituição em 1962. Segundo ela, a experiência de estudar em uma universidade ainda em construção e idealização foi “nova e excitante”. Ela lembou que chegou a ajudar a construir as vigas de concreto armado da primeira residência estudantil da UnB, durante uma aula no câmpus Darcy Ribeiro e se emocionou ao falar sobre as repressões militares ocorridas na época e sobre o papel da universidade em sua trajetória. “Na minha vida, a UnB foi a base daquilo que eu sou hoje”, disse.

Antônio Carlos Carpintero foi o último a falar na reunião ocorrida no Anfiteatro 9 do Instituto Central de Ciências Sul. O professor da Fundação Maurício Grabois (FMG) se formou em arquitetura e urbanismo em 1970 e focou seu discurso em um único acontecimento: o pedido de demissão coletiva de professores, em outubro de 1965.

Segundo ele, o evento foi o estopim para a desestruturação da integração do sentimento universitário durante o regime militar. Após as demissões, a intervenção militar na UnB se deu de forma imediata. “O sentimento coletivo dos alunos marcou muito o significado do que era universidade, que não era apenas a organização e estrutura nova que pretendia renovar totalmente a universidade brasileira [...] A universidade é todo um clima”, disse.

Antes do encerramento, a coordenadora da mesa-redonda, Fernanda Sobral, abriu o encontro para perguntas. O público, formado por alunos e ex-alunos na UnB, também dividiu lembranças pessoais vividas nos câmpus da universidade.

*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende