O livro UnB Anos 70 – Memória do Movimento Estudantil (Editora Alameda) vai virar documentário. Lançado durante a 74ª edição do encontro anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a publicação resgata a história do movimento estudantil nos anos de chumbo da ditadura, abordada por estudos e depoimentos de seus protagonistas, geração que teve papel preponderante na superação do regime militar e na redemocratização do país. A ex-vice-governadora do DF e deputada distrital Arlete Sampaio (PT) informou que depoimentos já começaram a ser gravados.
Coordenado pela jornalista e crítica de cinema Maria do Rosário Caetano, o livro nasceu da compilação de memórias de uma centena de egressos da UnB, que participaram das agitações políticas e estudantis no período, ente eles a deputada distrital e ex-governadora do Distrito Federal, Arlete Sampaio, que aposta na realização de um documentário a partir dos relatos que compõem a obra.
Segundo ela, o processo já está em andamento. “Será mais um importante resgate da memória daquele período. Depoimentos já começaram a ser gravados. São muitas histórias que preenchem uma importante lacuna da história da Universidade de Brasília. Não havia muitos registos daquela época, mas alguns colegas guardam materiais valiosos que podem ser utilizados no filme”, diz.
Arlete Sampaio conta que, durante o processo de realização do livro veio à tona imagens e documentos que julgava perdidas no tempo, como as garimpadas nos arquivos da Comissão Nacional da Verdade, instituída para investigar violações aos Direitos Humanos ocorridas durante a ditadura.
A parlamentar presenteou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com um exemplar do, durante a participação do candidato à presidência na SBPC, na quinta-feira (28). “Foi um encontro rápido, antes de sua palestra ne evento. Ele folheou o livro e ficou impressionado com a qualidade. A reitora Márcia Abrahão estava junto e reiterou a UnB sempre foi espaço de grandes mobilizações.”
Para o especialista em saúde pública, Carlos Megale, que também participou da elaboração da obra literária, o filme é mais uma forma de retratar um momento histórico que não pode ser esquecido. “Imagem é o que fix, o que fica, o que marca. Seria muito importante que essa ideia ganhasse forma”, disse. Megale relata no livro um dos momentos mais curiosos e até divertidos daquele período, o de um grupo de estudantes que encontra um bode num despacho e sacrifica o animal para fazer um churrasco.
A jornalista Maria do Rosário Caetano, organizadora do livro, lembra a noite de quarta-feira (27), no Cine Brasília, quando trechos de seu depoimento somaram-se aos significativos testemunhos de Aurélio Rios, Zeke Beze, Luiz Carlos Mineiro, Gustavo Dourado, o Armagedom, Verônica Carriço e Rênio Quintas. “Esse time ajudou Jimi [Figueiredo, cineasta] a revisitar o protesto anti-Kissinger e anti-Azevedo a realizar uma nova versão de Kiss Kiss Kissinger. Torcemos agora para que o cineasta-músico, que tanto filmou a UnB, realize um longa documental sobre nossa Alma Mater”, disse.
Lançamentos
O livro teve três lançamentos em Brasília, na UnB, no Cine Brasília e no bar Beirute, todos disputadíssimos e coma presença dos autores. No Cine Brasília foram exibidos os filmes O Vidreiro, de Marcos Souza Mendes (1994) e Kiss Kiss Kissinger, de Jimi Figueiredo, Universidade de Brasília: A Construção da Liberdade, de Jorge Bodanzky (1988), e Vestibular 70, de Vladimir Carvalho e Fernando Duarte (1970). Após as projeções, houve debate com os documentaristas Jorge Bodansky, Maria Coeli Vasconcelos, Vladmir Carvalho, Mari Maia, Hélio Doyle, Jimi Figueiredo e Lino Meireles e também com os produtores Caetano Curi, Antônio de Pádua Gurgel, José Carlos Coutinho e o diretor da UnBTV, Rafael Vilas Boas.
“Os lançamentos transbordaram em um inesquecível momento emocional e político. Não é sempre que tantas pessoas, hoje dispersas, mas ligadas por sonhos e lutas de uma década já distante, se encontram para reafirmar o afeto e a comunhão de ideias e compromissos”, disse a jornalista Tereza Cruvinel.
Para ela, o ato na UnB foi o mais marcante, pelo simbolismo e pela energia política que tomou conta do anfiteatro 9, onde foram realizadas várias assembleias e decretada a greve de 1977. “Mas o evento do Cine Brasília também foi emocionante, e a festa no Beirute lavou os corações saudosos da juventude que vivemos da melhor firma possível . Tudo valeu a pena e mostrou que não temos a alma pequena”, disse, parafraseando o escritor português Fernando Pessoa.
O professor e ex-secretário de Educação do GDF, Júlio Gregório, também figura marcante nos lançamentos, destaca que o livro traz várias lições que podem, hoje, servir de exemplo para a estruturação dos movimentos para enfrentar as frequentes ameaças à democracia. “Trata-se de um trabalho de grande importância no resgate de nossa cidadania, nesse momento de luta, de convergência de vários setores da sociedade civil com a redemocratização. A hora é de unir forças”, afirma.