Universitários de vários estados do país ocupam a Casa do Povo durante uma semana. Entre os dias 22 e 29 de julho, eles vão simular a rotina de parlamentares brasileiros e propor projetos de lei nos espaços de poder da Câmara dos Deputados. As atividades fazem parte do Politeia, projeto que prevê a Simulação do Processo Legislativo Brasileiro. A abertura do evento ocorreu nesta sexta-feira (22), no auditório Nereu Ramos, com transmissão ao vivo pela TV Câmara e pelo YouTube. Na sessão, os "parlamentares" tiveram o primeiro compromisso: escolher o presidente da Casa.
A 16ª edição do projeto Politeia, criado em 2003, é organizada pelo projeto de extensão de mesmo nome do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Este ano, 188 estudantes universitários participam como parlamentares, jornalistas, assessores, fotógrafos e membros da organização. São 133 parlamentares, 12 repórteres, oito assessores de imprensa e três fotógrafos. O projeto ainda conta com 37 membros da organização.
É a primeira edição presencial após a pandemia por covid-19. Em 2021, o projeto foi realizado em modelo remoto. Thales Miroma, coordenador geral do Politeia e estudante de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), conta que a gestão precisou fazer uma revolução para a dinâmica on-line. Agora, com a volta presencial, eles aprenderam a unir os benefícios do on-line ao espaço físico da Câmara.
A edição apresenta novidades. O cargo de assessor no modelo presencial, a deliberação remota e a Comissão de Legislação Participativa são inovações para a 16ª Edição. Thales explica que a Comissão de Legislação Participativa foi criada para “fazer com que as pessoas se sentissem parte da simulação, sem precisar participar como parlamentar.” A Comissão permitiu que membros da comunidade enviassem projetos de lei (PL) para discussão e aprovação nas comissões e plenários.
A coordenadora de comunicação e estudante de ciência política da UnB, Giovana Lopes, conta que simular a cobertura política é dar visibilidade para a importância das mídias no processo legislativo.
“A dinâmica é diferente, principalmente porque você não está no protagonismo da simulação. A imprensa está ali para informar mais sobre quem são esses simulantes. Para trazer uma crítica sobre um projeto de lei pautado, algum tema que reflete a sociedade, como aborto, violência doméstica, ensino de línguas em comunidades. Tudo isso envolve o que é o Politeia. A comunicação faz parte de informar não só os simulantes, mas quem vê o projeto de fora.”
Segundo a coordenadora, o objetivo é trazer uma comunicação que vai mesclar a imprensa tradicional, com matérias on-line e jornal impresso, e as redes sociais, com foco no Instagram do projeto Politeia. A gestão conta com filmmakers, social medias, corretoras de texto, repórteres, e agora também com assessores de imprensa na dinâmica presencial. Serão oito assessores trabalhando em dupla com emissão de notas oficiais, comunicação externa e assessoria do parlamentar.
Jonathan e Silva, estudante da UnB, vai assessorar o presidente da casa. Voluntário no setor de comunicação da Unicef Brasil, Jonathan conta que escolheu a assessoria pela experiência na área. “Sei que, por cursar ciência política, eu deveria almejar simular como parlamentar, mas quis começar aos poucos, e já tenho experiência com comunicação.”
Maria da Paz é estudante de psicologia e participa pela primeira vez do projeto. Ela tem experiência com simulações da ONU e da Câmara dos Deputados e decidiu participar como repórter para se preparar, nos bastidores, para as próximas simulações. Para ela, “ver jovens que queiram fazer política e poder comunicar isso para outras pessoas é muito precioso”. A estudante conta que pensou em se inscrever como fotógrafa, mas desistiu pelo peso da câmera. Maria é cadeirante e considerou a acessibilidade na hora de decidir para que cargo se inscrever. Segundo ela, a gestão está dando total apoio e, inclusive, enviaram o mapa da Câmara.
Até agora, os simulantes propuseram 160 projetos de lei para votação nas cinco comissões permanentes: Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC); Comissão de Seguridade Social e Direitos Humanos (CSSDH); Comissão de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (CDET); Comissão de Ciência,Tecnologia, Educação e Comunicação (CCTEC); Comissão de Segurança Pública e Defesa Nacional (CSPDN). O processo de inscrição ocorre dois meses antes da simulação para que os parlamentares cumpram com os prazos antes da semana da simulação.
Vinícius Barros, estudante de ciências sociais da Pontíficia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP), veio para Brasília para participar do Politeia. O estudante chegou a fazer campanha nas suas redes sociais para arrecadar dinheiro para a viagem. Vinícius participará como parlamentar durante o evento e também propôs projetos de lei (PL).
O coordenador geral, Thales Miroma, também participou como parlamentar na edição de 2019. Para ele, ser simulante e coordenador são experiências incomparáveis. “O simulante está inserido no ambiente parlamentar. Você vai para ver como funciona o processo legislativo, as articulações políticas, apresentar e aprovar um projeto para chegar ao plenário. Como coordenador geral, eu tenho experiência de liderar e coordenar um grupo muito grande, são demandas diferentes e personalidades diferentes que precisam estar unidas no mesmo propósito.”
Thales sintetiza o Politeia como um movimento de educação política. “O projeto é para nos sentirmos parte do projeto legislativo. Para que a gente se sinta representado e também possa representar."
*Estagiária sob supervisão de Ana de Sá