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Estudantes sem recursos fazem vaquinha para estudar no exterior

Rebeca Freitas sonha em fazer intercâmbio na Martinica. Já Gabrielle Cividanis estuda no Canadá por meio de doações

Para conseguir estudar fora do país, brasileiros de baixa renda estão lançando mão de uma estratégia antiga, mas que pode resultar na realização profissional e de sonhos: apelar para doações da família, de amigos e também alheias.

A estudante do último semestre de letras na Universidade de Brasília (UnB), Rebeca Freitas, 23 anos, é uma delas. Convidada a fazer um intercâmbio na ilha de Martinica, departamento ultramarino insular francês no Caribe, e sem dinheiro para a passagem ou estadia, apelou para a generosidade do próximo. 

Aluna da rede pública desde o ensino médio e moradora de Ceilândia, ela cursou francês por seis anos no Centro Interescolar de Línguas de Ceilândia (CILC) e quatro anos na UnB. “Sempre foi meu sonho de vida fazer um intercâmbio”, diz Rebeca.

A estudante participou, por duas vezes, do programa de intercâmbio de assistente de língua portuguesa na França, e, na segunda, conseguiu se enquadrar no quadro cadastro reserva de vagas. Recentemente, a jovem recebeu a ligação da embaixada francesa para ocupar a vaga.

Para realizar seu sonho, ela decidiu abrir uma vaquinha para arcar com o custo da passagem e da estadia no primeiro mês do programa, já que receberá remuneração para conseguir se manter nos outros meses. Além de ter a oportunidade de imersão no país, Rebeca diz pretender levar a cultura do Brasil ao exterior.

A jovem, que ministra aulas on-line de francês, ressalta, ainda, que o ensino público foi essencial para sua formação. Ela diz que pensa em retornar ao CILC não como aluna, mas, futuramente, como professora. “Foi a Ceilândia que me deu oportunidade para eu ser quem sou hoje”, afirma, emocionada.

Ação entre amigos

A estudante Gabrielle Cividanis, 19, foi mais uma a realizar seu sonho de estudar no exterior com a colaboração de terceiros. Ela foi aprovada em quatro universidades do Canadá: Windsor, Toronto, MountAllison e University of British Columbia. Ela conta que começou a se preparar desde o começo da pandemia para o processo e recebeu a primeira carta em agosto do ano passado. “Fiquei extasiada, minha família ficou muito feliz”, disse.

Há dois anos, Gabrielle foi aprovada no Enem em publicidade, para a Universidade Estadual de Minas Gerais, mas decidiu que era ainda muito nova para fazer o curso. “Tirei o meu gap year (ano sabático) e esse foi o passo principal para eu me descobrir”, afirmou. Após esse período, ela descobriu o gosto pelo curso de relações internacionais e entendeu que queria investigar temas significativos para a sociedade, a fim de contribuir para a igualdade de gênero e educação de qualidade. Gabrielle investiu em trabalho social e conta que começou a ensinar inglês básico para crianças.

Motivada pela prima, que já estuda no Canadá, a jovem então usou seu trabalho de conclusão de curso (TCC) e a experiência do voluntariado para se candidatar nas universidades. Ela estudou inglês em casa e conseguiu alcançar o inglês avançado, exigência cobrada pelas instituições. Depois de tanta dedicação, conseguiu a tão sonhada aprovação. “Como característica do meu objetivo, desejo ajudar outras jovens latinas a caminharem como eu, e seguirem o que acreditam”, afirma.

Arquivo pessoal - Gabrielle foi aprovada em quatro universidades do Canadá e conta com ajuda de vaquinha para conseguir viajar

Entre as universidades que obteve aprovação, Gabrielle escolheu a de Windsor, por ser uma opção mais econômica. Ela recebeu uma bolsa de R$ 15.226 e ajuda financeira de US$ 500, mas diz que o valor ainda não é suficiente para arcar com todos os custos. Por isso, Gabrielle abriu uma vaquinha e já obteve ajuda de familiares, prefeitos e vereadores de São Paulo, sua cidade natal.

*Estagiário sob a supervisão de Jáder Rezende