Militante combativa, rígida e defensora das causas sociais, uma das mais queridas mestres da Universidade de Brasília (UnB), Adalgisa Maria Vieira do Rosário faleceu, aos 86 anos, na madrugada desta segunda-feira (20), em Brasília. Responsável pela formação de várias gerações, atuou também com afinco na criação do Sindicato dos Docentes da UnB (ADUnB), fundado em 1978. Natural de Contendas do Sincorá (BA), passou boa parte da vida em Três Marias (MG), até se transferir para Brasília, no final da década de 1960.
Fatos políticos importantes marcaram a vida de Adalgisa. Em 1965, ela teve que fugir do Brasil por ter fundado um centro acadêmico na Universidade Católica de Belo Horizonte (PUC-Minas). Perseguida pelos militares, deixou o país às pressas, portando documento falso. No retorno, em 1970, encontrou um lugar na Faculdade de História da UnB. Lá, incentivou a criação de centros acadêmicos e cursos de pós-graduação em diversas áreas, além de participar da criação do Programa Infanto-Juvenil (PIJ).
A partir dos anos 1980, foi decisiva na documentação da história da faculdade, liderando programas de recuperação de documentos. Integrou o projeto ProMemória, que resgata o patrimônio material da instituição. Participou, ainda, da comissão que celebrou o cinquentenário da universidade, quando foi homenageada por sua trajetória. Fica marcada pelo carinho e pelo interesse aos estudantes.
Segundo o genro Alex Cordeiro Oliveira, 43, Adalgisa sofria da doença de Alzheimer e passava a maior parte do tempo em casa. “Ela acordava com frequência durante à noite e sempre tinha alguém próximo para apoiá-la. Procuramos fazer o possível para garantir melhor qualidade de vida a ela, sempre medindo a oxigenação e fazendo nebulização. Mas nessa madrugada ela não acordou como de costume e a pessoa que estava junto viu que ela não mais respondia”, disse.
A reitora da UnB, Márcia Abrahão, declarou que o legado da professora Adalgisa "viverá sempre na Universidade de Brasília". "A professora Adalgisa Maria Vieira do Rosário foi uma grande defensora das causas sociais que teve uma trajetória importantíssima para a História e para a história da Universidade e cuja passagem pela instituição deixou um legado de enorme relevância para a memória da UnB. Suas contribuições para o resgate de fatos, nomes e contextos que teriam se perdido sem sua preocupação recorrente com a nossa história, especialmente do movimento estudantil, estão conosco, assim como sua defesa incondicional pela democracia", disse.
Para o ex-governador do DF, Rodrigo Rollemberg, 62 anos, Adalgisa foi uma das professoras mais importantes em sua vida acadêmica. “Era exemplar, formou várias gerações de professores de história e foi desempenhou papel fundamental em minha formação política. Lembro dela em 1978, quando estimulou a criação do Centro acadêmico de História e também de sua atuação no processo de reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes), em 1979. Guardo por ela profundo respeito, admiração e gratidão”, disse.
Também ex-aluna de Adalgisa, a historiadora Tereza Eleutério, 56, é mais uma a lembrar da professora com carinho e admiração. “Foi exemplo de militância política. Ingressei na UnB em 1984, no ano das ´Diretas Já' e mergulhamos de cabeça na política. Era uma das nossas bússolas, uma pessoa que ouvíamos muito. Conversava com todos, participava de assembleias, apoiava, nos ensinou a dar a devida importância aos arquivos e teve atuação importantíssima no reconhecimento da profissão de historiador”, disse.
Adalgisa veio a óbito por volta das 5h30 da madrugada. De acordo com família, o corpo será velado e sepultado às 13 horas desta terça-feira (21) no Cemitério Municipal de Três Marias (MG), ao lado dos restos mortais da mãe, seguindo desejo expressado em vida. Adalgisa deixa a filha Raquel Maria Vieira do Rosário, de 36 anos, e o neto Gabriel, 10 anos.