MEIO AMBIENTE

Cor de peixes é influenciada pela profundidade em que vivem, diz estudo

Pesquisadores da UnB observaram que peixes de recife de coral têm o padrão de coloração influenciado pela posição que ocupam na coluna d'água, para facilitar camuflagem

Aline Gouveia*
postado em 25/04/2022 18:13
 (crédito: Edson Acioli/ICMBio)
(crédito: Edson Acioli/ICMBio)

Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) confirmam que espécies de peixes que vivem em profundidades maiores são mais coloridas. "O estudo descobriu que espécies que vivem mais próximas ao fundo assumem padrões de cor conhecidos como disruptivos, que quebram o contorno do corpo em contraste com o fundo", explica o professor Eduardo Bessa, um dos autores da pesquisa.

O estudo teve início em 2020 e, ainda de acordo com os pesquisadores, a maior coloração dos peixes recifais se deve ao fato dos recifes de coral serem bastante coloridos. "Alguns peixes que precisam não serem vistos pelas presas para conseguir chegar mais perto e atacar se beneficiam dessas camuflagens, tanto no formato, de se confundir-se com o fundo, quanto na coloração disruptiva", comenta o professor ao destacar a distinção entre a camuflagem clássica e a da coloração disruptiva. “Não é que o corpo todo se confunda com o meio, é só o contorno do corpo deles que some e eles deixam de ser vistos como um peixe", acrescenta.

Por outro lado, os peixes que vivem mais próximos à superfície possuem coloração mais uniforme e prateada, o que os torna menos perceptíveis aos predadores. Já os de meia-água adotam colorações variadas. "Há espécies de corpo prateado, outras de coloração disruptiva e ainda espécies com uma camuflagem mais clássica, que se confunde com a cor do fundo, e animais de corpo listrado, que apostam em confundir o observador como um bando de zebras faz nas savanas” , comenta o professor.

Para chegar a essa conclusão, a mestranda Luísa Eduarda dos Anjos analisou e categorizou cem espécies de peixes recifais brasileiros. Depois, o professor Felipe Gawryszewski, especialista em ecologia sensorial, usou uma estatística Bayesiana para ver se as categorias de coloração predominavam em um ou em outro nível da coluna d’água. "No fundo do mar, nós temos mais substratos, mais locais para esconder, e os peixes podem ficar em cima de alguma superfície, como rochas ou areia. É comum encontrarmos peixes com os padrões de coloração corporal parecido com o substrato", resume Luísa, primeira autora do trabalho.

Recifes de coral brasileiros

Os recifes de coral abrigam uma variedade de plantas e animais, por isso são considerados o mais diverso habitat marinho do mundo. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os recifes de coral no Brasil se distribuem por uma faixa de aproximadamente 3 mil km. Dados do projeto Coral Vivo apontam a existência de 66 espécies brasileiras de corais.

No entanto, as altas emissões de carbono ameaçam a conservação dos recifes, pois contribuem para a acidificação dos oceanos e o branqueamento dos corais. "Com fenômenos como o branqueamento, por exemplo, os peixes deixarão de ter esse subterfúgio de se tornarem menos visíveis para os predadores ou presas", alerta o professor Eduardo sobre um dos riscos da não preservação dos recifes de coral.

O estudo, intitulado Water column use by reef fishes of different color patterns (Uso da coluna d'água por peixes de recife de diferentes padrões de cor), foi publicado no periódico brasileiro Neotropical Ichthyology. A leitura na íntegra da pesquisa pode ser feita aqui.

*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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