Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021 saíram nesta quarta-feira (9), e a partir deles, muitos alunos brasileiros poderão avaliar a possibilidade de entrar no ensino superior este ano. Para 2022, assim como tem sido nos últimos anos, há também diversas possibilidades de estudar fora do país usando a nota do exame. Um dos destinos mais acessíveis para os brasileiros é Portugal. Segundo dados da Direção-Geral de Ensino Superior (DGES) do país, cerca de 40% dos estudantes estrangeiros formados em Portugal são brasileiros.
No país europeu, 51 instituições, tanto públicas quanto privadas, aceitam a nota do exame brasileiro como entrada para a candidatura, justamente por conta de convênios com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Instituições renomadas como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a Universidade do Porto são algumas que abrem a possibilidade de concorrer às vagas por meio do Enem e, por isso, atraem um número cada vez maior de pessoas.
Para estudar no país, há empresas que prestam auxílio para os estudantes no processo de candidatura e até na estadia dentro de Portugal, uma delas, a EduPortugal, é consultora educacional oficial das universidades portuguesas, e cuida justamente da transição, inscrição e acomodação dos estudantes. Cris Lazoti, fundadora da EduPortugal, explicou para o Correio como funciona este processo.
A profissional conta que o Enem é uma forma de substituir o vestibular, onde o aluno submete a documentação que comprova que ele tem o ensino médio concluído no Brasil, juntamente com o passaporte e a nota do Enem, e assim ele se candidata diretamente a algum curso em qualquer universidade. Lazoti deixa claro também que o Enem é somente para efeito de candidatura, e não para ingresso direto, o que confunde certas pessoas.
“Nosso trabalho é facilitar e explicar para o aluno como ele consegue fazer essa aplicação nas nossas universidades parceiras”, explica Cris. O site da EduPortugal contém todas as informações de quais são as universidades parceiras, quais cursos têm vagas disponíveis e a nota mínima para cada um deles — a pontuação mínima exigida para poder concorrer a qualquer universidade no país é de 475 pontos.
Para os que têm dificuldades em se candidatar, a EduPortugal pode fazer a aplicação em nome do aluno. Como as universidades aceitam a nota do Enem como método avaliativo para concorrer às vagas, todo o processo é feito de forma on-line e não é preciso se deslocar para a Europa em nenhuma das etapas. “A facilidade do uso do Enem dá uma comodidade sem igual para o estudante brasileiro. O Enem facilita imensamente todo esse processo”, afirma.
Lazoti explica também que o interesse para estudar em Portugal aumenta constantemente ano após ano. Segundo um balanço que ela mesma fez da demanda na empresa, 2022 apresentou crescimento de 23,7% nos pedidos para candidatura com relação ao mesmo período no ano passado. Para ela, a atratividade do país europeu está bastante relacionada a três fatores em específico: a segurança, a qualidade de ensino, e ao custo. Estudar em Portugal pode trazer benefícios também para quem pensa em trabalhar em outros países europeus, o que para ela também é um atrativo para os brasileiros que buscam uma carreira internacional. “Um aluno formado em uma universidade portuguesa, por Portugal estar inserido na comunidade europeia, o seu diploma tem valor em todos os países da comunidade”, explica.
Cris ainda lembra que o Enem é válido para a concessão de bolsas de estudo nas instituições, que variam entre 25% e 60%, afinal tanto as públicas quanto as privadas possuem um custo. Porém, não são todas que concedem este tipo de ajuda, logo é preciso estar atento se a universidade que você pretende ir tem este tipo de concessão, o que pode ser conferido no site da EduPortugal ou no site próprio da universidade. Ela ainda informa que, em casos especiais, como os das faculdades de engenharia e de economia da Universidade do Porto, os estudantes brasileiros recebem automaticamente uma bolsa de estudo chamada CPLP (Bolsa da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa), que só pelo estudante ter a cidadania portuguesa efetuada ele já recebe um desconto de 50% do valor anual.
Além de Portugal, há outras universidades em diversos países que aceitam a nota do Enem para admissão. Na Inglaterra, há quatro universidades que incluem o exame no processo de aplicação, são elas as universidades de Bristol, Kingston, Birkbeck (Londres) e a altamente renomada Universidade de Oxford. Nelas, é preciso também apresentar histórico escolar e nível de proficiência em língua inglesa. Na França, há oportunidades no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon e na Université Paris-Saclay, por exemplo. Mas, além do exame, é preciso ter sido aprovado em alguma universidade brasileira, pública ou privada, em um curso semelhante ao que se pretende fazer em território francês.
Ainda na Europa, as universidades de Dublin e Cork, na Irlanda; a de Glasgow, na Escócia; e a de Jaén, na Espanha, também são opções para quem busca sua graduação no exterior. A de Jaén, inclusive, está oferecendo 108 bolsas de estudo para graduação e 20 para mestrado. Destas, cinco serão destinadas exclusivamente a brasileiros que fizeram o Enem 2021.
Partindo para a América do Norte, Estados Unidos e Canadá possuem instituições que aceitam o Enem para a aplicação. Nos EUA, a New York University (NYU) criou a Flexible Testing Policy, uma medida que admite os sistemas de avaliação de ensino médio de cada país para aplicar em cursos na universidade. Além dela, as universidades de Temple e Northeastern também estão aceitando o Enem nas aplicações. No Canadá, a renomada Universidade de Toronto é uma das instituições que aceitam, assim como as universidades de Ryerson, Trent e Humber. Em ambos os países também é necessária a apresentação do histórico escolar e certificado de nível de proficiência em inglês, tal como na Inglaterra.
Experiência no exterior
Inês Scherer, 21 anos, é uma entre vários estudantes brasileiros que partiram para o país lusitano após o exame. Inês é de Brasília, e embora ir para Portugal não estivesse nos seus planos desde o início, ela resolveu aplicar para a Universidade de Lisboa, e partiu para lá em 2019 para estudar serviço social, curso em que também está se graduando pela Universidade de Brasília. “Vim também por questão de experiência. Pôr em um currículo que você estudou no exterior, ainda mais na Europa, tem um peso muito maior”, conta.
Mesmo que a adaptação não tenha sido tão fácil, principalmente por estar longe da família, dos amigos e da cidade que ama, além das complicações causadas pela mudança de sistema de ensino e até a própria língua portuguesa nativa, Inês se sente realizada por estar estudando no país, e não se arrepende da decisão. “Eu acho que é algo que ajuda muito no nosso amadurecimento e ter uma visão mais ampla de futuro, saber que há outras possibilidades de futuro além do lugar onde você nasceu. Isso abre nossos olhos, é uma sensação muito boa, é algo libertador”, relata.
Inês está no penúltimo semestre estudando em Lisboa, e se mostra alegre também por ter conhecido pessoas de vários países ao redor do mundo, e que esse encontro de culturas também foi algo que a edificou bastante na sua formação.“Eu estou bem feliz agora com minha decisão porque eu consegui crescer bastante, ser uma pessoa responsável muito nova, e é uma sensação boa saber que as pessoas maravilhosas que eu tenho ao meu redor aqui eu consegui por mérito próprio”, conta. Ela ainda relata que, embora queira muito voltar para o Brasil, por sentir um amor imenso pela cidade de onde veio, isso irá ficar para um futuro um pouco mais distante, até porque ela deseja seguir carreira acadêmica e pretende fazer mestrado e doutorado ainda em Portugal.
Ela também quer motivar outros jovens brasileiros, que queiram seguir seus estudos no exterior, a não desistir porque a aplicação não é tão complexa assim. “Se a pessoa quer vir, acha que é algo que vai acrescentar muito à vida dela, eu digo que tem que vir. A Europa dá muita oportunidade de trabalho, tem um peso muito grande no seu currículo, eu acho que só tem coisas a acrescentar”, incentiva.
*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo