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INCLUSÃO

Estudantes da UFPE criam aplicativo para auxiliar comunicação de crianças com autismo

Alunos decidiram criar o aplicativo AuTime, possibilitando a interação de familiares e crianças com TEA durante realização de atividades cotidianas

O acolhimento da família nos primeiros anos de vida é primordial para o desenvolvimento de cada criança. É durante a infância que aprendemos a dar os primeiros passos, a verbalizar as primeiras palavras e socializar. Foi percebendo a dificuldade de um primo —  diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) — em se comunicar que o estudante de design Eduardo Ramos, de 28 anos, idealizou um projeto que pudesse auxiliar as crianças com autismo a realizarem atividades do cotidiano.

A experiência pessoal de Eduardo foi compartilhada com outros três amigos — Hélio Silva, 23; Matheus Andrade, 21, e Victor Vieira, 24 — todos alunos da Universidade Federal de Pernambuco, que decidiram criar o aplicativo AuTime, possibilitando a interação de familiares e crianças com TEA durante realização de atividades cotidianas de forma lúdica.

"A motivação inicial veio de um interesse em comum que nós tínhamos na área da educação e da acessibilidade. Quando juntamos com a parte afetiva, tivemos uma identificação muito grande com o assunto, porque Victor, assim como eu, tem uma prima com autismo. Durante o processo de desenvolvimento sentamos e passamos horas seguidas pesquisando sobre o tema, conversando com especialistas e famílias para tentar compreender esse universo. Por mais que tivéssemos alguma vivência na área, essa ainda era uma situação externa para nós. A gente também precisou entender quais são as principais dificuldades das famílias, as diferenças e características de cada espectro e trazer essa empatia para um projeto mexeu muito com a gente”, contou Eduardo.
(Foto: Cortesia)
Foto: Cortesia

O app foi inicialmente desenvolvido há dois anos, quando os alunos foram selecionados para o programa Apple Developer Academy, projeto de capacitação criado em parceria entre o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco e a Apple, com o objetivo de habilitar estudantes a resolverem problemas reais por meio da tecnologia.

“O programa é dividido em desafios, que podem ser mais longos ou mais curtos. Nós começamos a entender a manutenção de rotina que os pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista realizam e decidimos fazer essa solução para IPhone. Com os feedbacks dos profissionais da área de tecnologia da Apple compreendemos que o resultado seria melhor em um aparelho com uma tela maior, então resolvemos adequar ao modelo do IPad”, explica Hélio.

O AuTime funciona através da utilização de dois perfis: um para os pais e outro para as crianças. O perfil dos pais possibilita a criação de atividades da rotina da criança, a criação de horários, dias de repetição e a escolha de uma imagem que represente as atividades. Já o perfil das crianças -que une as linguagens verbais e não verbais- possibilita o acompanhamento das atividades de rotina através de imagens. O perfil dos pequenos também possui uma função onde as crianças podem apresentar um retorno emocional sobre as atividades.

Para as ações diárias que não apresentam grande interesse para as crianças, mas que são fundamentais para o desenvolvimento, o AuTime oferece um tipo de recompensa, que pode ser conquistada após a finalização da rotina.

“No momento em que conversamos com os pais, me surpreendeu o fato de ser um mercado pequeno. Quando tem alguma ferramenta disponível para auxiliar essas famílias ou elas têm um preço muito alto ou não atendem totalmente as necessidades deles. Na conversa com esses familiares eles se disponibilizaram a dar ideias de melhorias e assim fomos desenvolvendo o aplicativo”, informou Matheus.

Projeto de Camping
O desenvolvimento do projeto foi o ponto de partida, mas não o de chegada. Os estudantes também se inscreveram no camping de empreendedorismo da Apple e se tornaram os únicos participantes fora do eixo Estados Unidos - Inglaterra a serem aprovados.

“Depois desse projeto, nós inscrevemos o aplicativo em um camping de empreendedorismo da Apple, que acontece geralmente na Califórnia, e que é focado em minorias empreendedoras. Nós participamos da categoria para empreendedores negros, que tinha que ter pelo menos um desenvolvedor negro. Fomos a única empresa aprovada fora do eixo Estados Unidos-Inglaterra. Precisamos estruturar o aplicativo para poder lançar na loja. Nós tínhamos planos para lançar em fevereiro, mas acabamos adiando para março. Agora estamos na fase de teste”, afirmou Hélio.

 

A experiência pessoal aliada ao desejo de possibilitar melhorias no âmbito educacional e do desenvolvimento emocional e cognitivo pode auxiliar diversas famílias e crianças com Transtorno do Espectro Autista. Para Eduardo, Victor, Matheus e Hélio, o projeto ultrapassa as barreiras tecnológicas e se confunde com a experiência única de poder ajudar, também, os familiares.

“Eu achava que ajudar a minha prima seria o meu maior ganho, mas eu percebi que antes de ajudar, eu consegui entender ela. Aprendi a conversar e me comunicar melhor,” conta Victor.

Eduardo relembrou a relação com o primo João durante a adolescência, e afirma que poder ajudar pessoas com autismo e os familiares é gratificante.

“Mesmo antes do meu primo João ser diagnosticado com autismo, eu já percebia algumas dificuldades aparecendo, principalmente na comunicação. Eu sempre notei que nós tínhamos uma conexão muito forte e eu aprendi a trocar experiências com ele através da comunicação não verbal. Eu utilizava muito os gestos e, a partir disso, o meu objetivo se tornou ajudar ele. Me anima muito pensar o que podemos fazer para melhorar a vida dessas pessoas”, finaliza Eduardo.