Pesquisadores do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram um caminho fácil e inédito para ter acesso às proteínas da covid-19 utilizadas nos testes que diagnosticam a doença. Publicado na Science Direct, o estudo utilizou insetos para produzir a proteína do nucleocapsídeo do novo coronavírus. Segundo um dos condutores da pesquisa, o professor Bergmann Ribeiro, essa técnica pode facilitar a produção de testes no Brasil.
“O que fizemos consiste em inserir o vírus na célula do inseto, e ele mesmo produz essa proteína para ser utilizada em testes — que utilizam essa parte do vírus para combinar com o sangue da pessoa e identificar a presença dele no organismo”, explica Bergmann. Ele afirma que a técnica é rápida: “Ela tem apenas uma etapa, que é a inserção do vírus no inseto e a retirada da proteína”, explica.
Bergmann acredita que a descoberta tem potencial. “Algumas empresas fazem kits de testes. Seria algo inédito no Brasil e poderia aumentar a quantidade de testes no mercado”, comenta. Segundo o professor, outras pesquisas da UnB focam na produção desta proteína. “Tem estudos que tentam produzir o insumo a partir de plantas. Ainda não há resultados, mas é algo promissor e inovador”, comenta.
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Editais suspensos
O cientista ressalta a necessidade de se manter um fluxo constante de recursos para a pesquisa. O estudo foi conduzido com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Sem recurso, nenhuma pesquisa acontece. Sem recurso, esses resultados não seriam divulgados. Por isso, é importante deixar claro a importância de programas que fomentem a ciência no Brasil”, diz Bergmann. Ele lamenta a suspensão dos dois últimos editais da FAP-DF.
Nesta semana, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Sociedade Brasileira de Biotecnologia (SBBIOTEC) e a Associação Nacional dos Pesquisadores da Embrapa (ANPE) divulgaram um abaixo-assinado para cobrar a volta de dois editais suspensos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Co-autora do manifesto, a professora do Instituto de Biologia da UnB Andrea Maranhão está preocupada com o futuro das pesquisas no DF.
“Este ano tivemos poucos editais e dois suspensos antes do prazo previsto. O que solicitamos é que esses editais não sejam suspensos e que eles cumpram os prazos e analisem todas as propostas enviadas”, reivindicaa professora. Procurada pelo Correio, a FAP-DF não se pronunciou sobre os cortes.