Eu, Estudante

cotas

Jovem é impedido de se matricular em universidade após se declarar pardo

Aprovado em medicina, autodeclarado pardo, Sâmulo Oliveira não passou pela Comissão de Heteroidentificação da Universidade Estadual do Ceará

O estudante Sâmulo Oliveira Mendonça, 27 anos, alcançou sua aprovação em medicina, classificado em 5º lugar pelo sistema de cotas da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O que era motivo de alegria virou logo uma frustração, porque foi impedido de efetuar sua matrícula quando se autodeclarou pardo ao se inscrever no sistema de cotas. Sâmulo foi reprovado pela Comissão de Heteroidentificação da Instituição.

A comissão divulgou, na última segunda-feira (30), que a decisão do caso de Sâmulo, e demais alunos, tem como objetivo evitar fraudes. O resultado da avaliação do jovem considera características físicas dele, como cor da pele, textura do cabelo, formato do rosto, nariz e lábios, como de uma pessoa não-parda, O resultado foi a desclassificação como cotista. Sâmulo recorreu da decisão, mas a Banca Recursal também não validou sua autodeclaração. O jovem espera que a universidade mude seu posicionamento, que ainda permanece o mesmo, e diz que nunca passou por isso antes.

“Sempre me autodeclarei pardo, é como eu sou e como as pessoas me reconhecem. Eles não deram nenhum parecer. É como se toda a minha história e o meu estudo não valessem. Nunca pensei que pudesse passar por isso porque, inclusive, já tinha estudado na Universidade Federal do Ceará como cotista pardo e nunca houve nenhum problema'', afirmou o jovem.

Em nota, a UECE afirma que não tem conhecimento de qualquer reprovação injusta. Segundo a instituição, todas as solicitações recursais foram atendidas, e os candidatos que recorreram, foram avaliados por nova comissão de heteroidentificação.

Ao ser questionado sobre a nota divulgada pela instituição, Sâmulo diz estar muito triste. Ele afirma estar decepcionado: "Basicamente, não falaram nada. Além do meu caso, ainda tem outras 44 pessoas que também foram eliminadas do vestibular devido às ações dessa banca de heteroidentificação”.

O jovem tem certidão de nascimento e um documento emitido pelo Sistema de Identificação Humana, do Governo do Estado, comprovando que é pardo .“Gostaria que houvesse justiça, passei 10 anos da minha vida tentando passar para o curso de medicina e a trajetória foi muito difícil, mesmo sendo para a cota pardo, o vestibular da UECE é muito difícil e concorrido", desabafa.

Sâmelo conta que a mãe é técnica de enfermagem e o pai caminhoneiro. "Eles estão muito tristes, pois eu seria o primeiro médico da família e o primeiro a ingressar em uma universidade pública. Nós estamos com o psicológico abalado, minha mãe anda chorando muito e meu pai também, fico preocupado com eles", conta.

O futuro é incerto, mas ele afirma que não vai desistir dos sonhos dele e continuará se definindo como pardo. "Já senti na pele como é ser pardo, a minha luta não vai parar. O meu desejo de se tornar médico ainda vive”, diz. 

Nota da Universidade Estadual do Ceará:

 

Print/Reprodução -


 

*Sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo