“Não tem palavras que expressem o amor, a gratidão, o respeito e a admiração que sinto pela minha mãe”, disse a recém-graduada em pedagogia Roberta Mascena, 25 anos, que vestiu o uniforme de faxineira da mãe, Marlene Cordeiro de Oliveira, para fazer uma homenagem durante a sessão de fotos na solenidade de colação de grau.
Roberta se formou como pedagoga pela Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e conta que a ideia sempre esteve presente, desde o primeiro semestre da faculdade. O momento com o fotógrafo foi o único em que pôde estar sozinha com Marlene, por isso aproveitou para tirar a beca e surpreendê-la.
“Eu estava procurando uma maneira de agradecer a ela por tudo que fez por mim, meu irmão e meu pai, de uma maneira sincera e simples”, explica. Segundo a jovem, na hora, não houve palavras para descrever a emoção dela e da mãe dura a expressão de um gesto simples, mas carregado de amor, gratidão, respeito e admiração. “Só o fato de a gente estar juntas foi suficiente.”
A colação de grau ocorreu na faculdade, em 3 de fevereiro. Devido à pandemia, apenas algumas pessoas puderam estar presentes: o paraninfo, alunos e poucos familiares e a coordenadora do curso. Roberta nasceu e foi criada em Santos (SP) e hoje vive em Ubatuba (SP).
Mãe se formou pela EJA
A mãe de Roberta morava em Afogados da Ingazeira (PE) e teve que escolher entre estudar e trabalhar, para sobreviver. Marlene foi forçada a optar pela segunda opção e interrompeu os estudos durante o ensino fundamental.
Depois se mudou para São Paulo, formou família e, quando a filha estava no 9º ano, ela resolveu retomar os estudos pela educação de jovens e adultos (EJA). Roberta conta que a mãe se sentiu motivada a se formar na educação básica para ajudar a filha na escola.
“Ela me disse que começou a estudar por minha causa, como não sabia o que eu estava aprendendo, ela se sentiu mal e se matriculou para me ajudar nas matérias”, compartilha.
Homenagem também se estende a outras Marlenes
Depois que a foto de mãe e filha foi postada nas redes sociais da Unimes e teve grande repercussão, Roberta reforça que apenas quis demonstrar o amor que sente pela mãe e agora espera que a homenagem se estenda a outros pais com histórias parecidas com a de Marlene.
“Essa história da minha mãe se repete pelo Brasil todo e eu quero que as pessoas que vivem uma história parecida também se sintam homenageadas. Eu entendo que essas pessoas só existem quando acontece algo assim. Elas não são respeitadas devido à sua profissão”, pondera a jovem.
Roberta escolheu cursar pedagogia por se identificar com a grade curricular do curso e por se sentir responsável quanto à transformação das pessoas. No futuro, ela espera conseguir ajudar os filhos de tantas Marlenes espalhadas por aí a mudarem de realidade e a viverem num país melhor.
“A educação é uma maneira de manifesto, é uma forma de a gente transformar o mundo. Ser professor é difícil porque é uma profissão desvalorizada, mas estou aqui lutando”, diz.
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*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá