Garantir uma oportunidade em uma das mais renomadas instituições do mundo pode parecer desafiador. No processo de aplicação deste ano, 33.240 estudantes tentaram garantir uma das vagas oferecidas pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, sigla em inglês), localizado nos Estados Unidos. Entre eles estava Jamile Falcão Rebouças, 18 anos, que foi aprovada já na primeira tentativa.
Jamile confessa que, apesar de um sonho, considerava que garantir uma vaga no MIT era algo pouco palpável. Ela recebeu o resultado em 14 de março e o esperado é que comece as aulas em setembro deste ano, com previsão de formatura para dezembro de 2025. Mesmo ainda aguardando resposta de outras instituições, assegura: “O MIT é de longe a minha primeira escolha”. Ela receberá bolsa para financiar a permanência durante a formação.
“Quando eu estava considerando para quais faculdades aplicar e pensava no MIT, considerava que, para mim, a faculdade não vai ser só um lugar para eu crescer somente profissionalmente, mas também como pessoa”, justifica a escolha. “Uma coisa que me chamou atenção foi o departamento de economia do instituto”.
Apesar de decidida, escolherá a formação daqui a dois anos
A jovem pretende cursar economia, com foco no campo comportamental e na neuroeconomia. Jamile considera a área atrativa por relacionar o comportamento humano à economia, além de misturar aspectos de neurociência, psicologia e economia. Ela ressalta que o instituto já tem um laboratório voltado para a área e professores excelentes no tema.
No entanto, destaca que não começa a graduação com matérias específicas do curso que pretende, pois terá dois anos para explorar novas áreas de interesse, fazendo aulas em departamentos diferentes. “Hoje, eu penso em me formar em economia, mas ainda não bati o martelo, o que ocorrerá daqui a dois anos para que eu possa fazer uma escolha mais segura”, afirma. Jamile ressalta que pensa em voltar ao Brasil e aplicar os conhecimentos adquiridos no exterior no setor educacional.
O incentivo da família foi fundamental
A mudança de vida em busca de mais conhecimento não é novidade para a estudante. Crescida em Pacajus, no interior do Ceará, Jamile decidiu que queria participar de olimpíadas de conhecimento. Assim, precisou se mudar para Fortaleza (CE), a pouco mais de 50 km de distância, onde teria mais oportunidades. A partir de 2015, já na capital do estado cearense, conseguiu participar das competições. De medalhista de bronze em 2015, avançou o pódio e recebeu medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática de 2016.
Para viabilizar a mudança para a capital do estado, a jovem se dedicou aos estudos para conquistar uma bolsa de estudos no Sistema Farias Brito de Ensino, e conseguiu. Além disso, no processo contou com o suporte da mãe que é professora de matemática na rede pública do município de Horizonte (CE) e do pai, que vive de renda.
“Sempre tive a sorte de ter um grande incentivo por parte da minha família para a educação, dar meu melhor e ter excelência acadêmica. A gente sempre viu a educação como uma ferramenta para abrir portas para que a gente pudesse alcançar o nosso sonho independente de qual fosse”, pontua sobre o papel da família.
Apesar da questão financeira não ter sido um empecilho, ela acredita que o principal desafio foi desenvolver a autoconfiança. “Principalmente no começo da minha participação em competições, tudo parecia algo muito fora do possível e acreditar na minha capacidade de superar limites era um exercício diário. Nesse contexto, precisei desenvolver a maturidade para estudar para olimpíadas aos 12 anos. Depois, quando voltei da minha primeira olimpíada internacional, na Suíça, aprender inglês foi o grande desafio da vez”, observou.
Jamile participou de olimpíada internacional de matemática
A conquista abriu a porta para participar da delegação brasileira da Olimpíada Europeia de Matemática para Garotas. O evento foi realizado na Suíça e, além de ser a primeira oportunidade da estudante de sair do país, representou um marco na vida da jovem. “Se eu tivesse que escolher uma medalha ou premiação que mudou completamente minha visão de mundo, foi essa competição”, ressalta.
“Meu mundo começou a se abrir muito. Ao passo que eu conhecia outras pessoas, eu percebi que o futuro não estava restrito a minha cidade ou ao meu estado e que eu podia sonhar muito mais alto, que eu poderia viajar para outros lugares do mundo e fazer uma faculdade fora do Brasil”, afirma.
No 9° ano do ensino fundamental, se envolveu em um projeto social de plataforma on-line de democratização das olimpíadas do conhecimento. No Núcleo Olímpico de Incentivo ao Conhecimento (Noic), que oferecia simulados, aulas e um jornal com novidades sobre as competições, trabalhava na equipe de marketing. Em 2019, assumiu o posto de presidente da organização.
Candidatura no exterior é diferente do Brasil
A candidatura para instituições no exterior difere de candidaturas no Brasil, segundo Jamile, por “não consideram apenas a nota de um teste padronizado, mas também de redações e cartas de recomendação". "Eles tentam entender ao máximo como aquele aluno vai se encaixar na instituição não só como estudante, mas também como podemos contribuir como pessoa”, ressalta.
Para esse processo, contou com o suporte das mentorias gratuitas do Prep Estudar Fora, da Fundação Estudar, e também da Brasa (sigla em inglês para Associação de estudantes brasileiros no exterior). Com essas iniciativas teve acompanhamento e explicação do processo. Além disso, ressalta o papel da escola, o Sistema Farias Brito de Ensino, que ajudou com a documentação para a candidatura enviada em 6 de janeiro.
Jamile acredita que as boas notas e as premiações em olimpíadas influenciaram na escolha pelo seu perfil. Mas observa que as atividades extracurriculares e a forma como difunde o conhecimento recebido também contribuíram. A jovem pontua que, para quem quer tentar uma vaga em uma instituição do exterior, o primeiro passo é entender suas ambições e como pode contribuir para o mundo, depois, ser proativo buscando oportunidades.
*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá