Passe estudantil

Estudantes da UnB denunciam falta de liberação do passe livre para estágio obrigatório

Alunos da instituição que fazem sem remuneração e presencial arcam com os custos de deslocamento durante a pandemia devido ao não funcionamento do cartão

Isabela Oliveira*
postado em 10/02/2021 19:34 / atualizado em 10/02/2021 21:27
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Alunos da Universidade de Brasília (UnB) que fazem estágio obrigatório não remunerado e presencial estão sem o Passe Livre Estudantil (PLE) liberado. Os estagiários, principalmente, da área da saúde que devem fazer a atividade de forma obrigatória e presencial, como parte da grade curricular do curso, estão tirando do próprio bolso o custo com passagens durante a pandemia.

Paloma Gomes, 25 anos, é estudante do 7º semestre de fonoaudiologia e faz estágio obrigatório na Asa Norte, mas, como mora em Ceilândia, tem que usar vários meios de transporte para chegar ao local de trabalho.

“Eu pego dois ônibus, gastando R$ 11. Porém, quando o ônibus atrasa ou não passa, tenho que ir para o metrô e, de lá, pegar outro ônibus. Então, são R$ 3,80 para pegar o metrô, R$ 5,50 da passagem do metrô, mais R$ 3,80 para chegar à Asa Norte e mais R$ 5,50 de volta para Ceilândia, onde moro”, explica a estudante.

Paloma também conta que, antes mesmo de o semestre letivo da UnB começar, ela procurou o BRB e a universidade para não ter gastos com passagem, mas não adiantou. O nome da estudante não constava na lista enviada pela universidade. “A UnB e o BRB estavam jogando a culpa um para o outro e a gente tendo de ir para estágio pagando passagem”, desabafa.

A estudante de fonoaudiologia não tem renda própria e o gasto para ir ao estágio pesa no orçamento familiar. “Eu estou tirando do próprio bolso, não tenho emprego fixo ou estágio remunerado. Então, meus pais estão me dando dinheiro”, disse.

Paloma Gomes, estudante de fonoaudiologia, tem tirado do próprio bolso para pagar as passagens de ônibus
Paloma Gomes, estudante de fonoaudiologia, tem tirado do próprio bolso para pagar as passagens de ônibus (foto: Arquivo Pessoal)

Carla Ester Marçal Azevedo, 22, também estudante do 7º semestre de fonoaudiologia, está contando com a ajuda de terceiros para arcar com os custos do transporte. Ela mora em Taguatinga e, para se deslocar para a Asa Norte, às vezes, tem de pegar quatro ônibus. Boa parte da renda da estudante vem do auxílio socioeconômico da universidade.

“Eu moro sozinha, dependo do auxílio e, às vezes, recebo ajuda de terceiros”, explica. “Estou tendo que economizar ao máximo, pois minha única renda é o auxílio da universidade.”

A estudante de fonoaudiologia Carla Ester usa o auxílio que recebe da UnB para pagar o transporte
A estudante de fonoaudiologia Carla Ester usa o auxílio que recebe da UnB para pagar o transporte (foto: Arquivo Pessoal)

 

UnB enviou três listas à Semob

Em nota, a assessoria de imprensa da Universidade de Brasília informou que as listas com os nomes dos estudantes que estão fazendo estágio obrigatório presencial foram enviadas à Secretaria de Mobilidade (Semob). Ao todo, foram enviadas três listas. A primeira, em 29 de janeiro, com 1.325 nomes; a segunda, na última sexta-feira (5/2), com 338 nomes; e a terceira, nesta terça-feira (9/2), com 205 nomes.

A assessoria ainda reitera que envia as listas a partir de documentos encaminhados pelos coordenadores de graduação. Além disso, a Semob costuma pedir um prazo de sete dias até a conclusão da liberação do passe livre, que, geralmente, ocorre antes desse período.

O Banco de Brasília (BRB) Mobilidade disse que a lista enviada no fim de janeiro foi processada e enviada. A lista enviada em 5 de fevereiro foi processada nesta terça (9/2). Portanto, os demais 205 nomes ainda estão em processamento.

“Alunos com problemas de acesso devem atualizar o cadastro no site, checar com a instituição ou no próprio BRB Mobilidade se seus nomes foram incluídos na listagem e/ou verificar, também junto ao BRB Mobilidade, se o plástico do cartão não se encontra danificado”, informou a instituição em nota.

Como tem funcionado o passe na pandemia

Em 2019, o governador Ibaneis Rocha (MDB) extinguiu o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) e transferiu parte das atribuições do órgão para a Semob e o Banco de Brasília. O BRB assumiu a responsabilidade pela comercialização e pelo processamento dos créditos do Sistema de Bilhetagem Automática e a pasta ficou responsável por várias atividades, entre elas a emissão de cartões como o do passe livre.

Com a pandemia, os cartões do Passe Livre Estudantil ficaram bloqueados em razão da suspensão das atividades nas escolas e universidades, mas foram desbloqueado para os estudantes que façam estágio obrigatório e precisam do benefício. Todo semestre letivo, é necessário que a instituição envie lista atualizada à Semob.

Contato com a universidade não foi fácil

A estudante de fonoaudiologia Hyandra Lorena, 23, estava recendo auxílio da família para pagar as passagens, mas hoje conseguiu desbloquear e voltar a ter acesso ao passe. Mas, antes disso ocorrer, ela conta que teve que ir ao BRB Mobilidade três vezes para conseguir resolver a situação.

"Eu tentei ouvidoria e entrei em contato com a UnB com várias pessoas, coordenação do curso, centro acadêmico, diretório estudantil, mas estávamos sem resposta da parte responsável por essa lista pela instituição", afirma. "Acho que faltava a UnB fazer alguma coisa, pois, de alguma forma, a lista não chegou para o BRB e eles não tinham o que fazer."

Quem também não teve contato fácil com a UnB foi Carla Ester. A estudante explica que, como a instituição está com aulas remotas, todo o contato também tem sido feito de maneira virtual. "A gente manda muitos e-mails, mas a própria UnB não avisava como estava a situação. O BRB foi muito solícito, mas a gente está esperando um posicionamento da UnB", pondera.

Demais estudantes aguardam os sete dias de processamento da última lista 

Paloma Gomes deseja que o BRB e a UnB resolvam a situação e reforça que a passagem não está barata e a questão financeira tem complicado cada vez mais para todos os brasileiros, devido à pandemia.

“Já que temos que cumprir com as nossas obrigações de estar presente no estágio todo dia pontualmente, que tenhamos pelo menos o mínimo que é o passe livre estudantil”, cobra.

Caso o estudante tenha dúvidas quanto à inclusão do nome nas listas enviadas à Semob, deve entrar em contato com a Central de Acolhimento ao Estudante (CAEs), pelo e-mail saaatendimento@unb.br. Já o BRB mobilidade disponibiliza a central telefônica (61) 3120-9500.

*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá

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