A Universidade de Brasília (UnB) informou que não comprou leite condensado com dinheiro do governo federal. No Instituto Federal de Brasília (IFB), a suspensão das aulas remotas reduziu o gasto no item em 2020. Nesta semana, o valor dos gastos com produtos alimentícios tem sido alvo de polêmica e contestação nas redes sociais.
A Administração Superior da UnB afirmou que não houve compra de itens como leite condensado, chiclete, biscoitos e sorvetes. “O Restaurante Universitário opera por meio de um contrato de prestação de serviços, ou seja, cabe à empresa contratada fazer a aquisição dos alimentos", afirmou.
A universidade informou que adquiriu, ao longo de 2020, café e açúcar, por meio de pregão. Ressalta que foram comprados 6 mil pacotes de 500 gramas de café, totalizando R$ 29,8 mil, e 1.200 pacotes de 5 quilos de açúcar, a um total de R$ 10,1 mil. Outros gastos, da ordem de cerca de R$ 10 mil, foram para a aquisição de hortifrutigranjeiros para alimentar os animais da universidade que ficam na Fazenda Água Limpa e em laboratórios.
O IFB, por meio de nota, informou que, em 2020, foram adquiridas 10 latas de leite condensado, 127 pacotes de biscoito e nenhum chocolate em virtude da pandemia e a consequente suspensão das aulas práticas nos laboratórios. “Os mais variados tipos de insumos são necessários para as aulas em cursos como gastronomia, (no câmpus do) Riacho Fundo; alimentos, no Gama; agroindústria, em Planaltina etc.”, informou o instituto.
Além disso, o IFB adquire produtos e alimentos para as refeições diárias servidas aos estudantes internos que residem nos alojamentos do câmpus Planaltina, que funciona ininterruptamente nos sete dias da semana. Com a suspensão das aulas presenciais, o local continuou a atender estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com cestas básicas para mais de 4,6 mil estudantes, além do pagamento de auxílio emergencial.
Na quarta-feira (27/1), ao citar a polêmica em almoço com cantores sertanejos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a quantidade de leite condensado seria para “enfiar no rabo de vocês… de vocês da imprensa”. Logo após, os apoiadores aplaudiram e entoaram: “Mito! Mito!”.
Saiba Mais
Entenda a polêmica
Em reportagem publicada no domingo (24/1), o portal Metrópoles expôs que o governo federal gastou mais de R$ 1,8 bilhão em alimentos. Na conta entram mais de R$ 15,6 milhões em leite condensado e mais de R$ 2 milhões destinados à compra de chiclete. Os principais pagantes foram o Ministério da Defesa, em primeiro lugar, e o Ministério da Educação, em seguida.
Diante da polêmica, o filho do Presidente da República e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atribuiu o gasto com leite condensado e outros itens de alimentação anual aos “quase 400 mil militares, universidades, hospitais e outros órgãos federais.”
Zero de corrupção no Governo @JairBolsonaro, o que resta pra esquerda e imprensa? Mentir e distorcer.
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) January 27, 2021
Os gastos com leite condensado e outros itens vem da alimentação anual de quase 400 MIL militares e também são direcionados a universidades, hospitais e outros órgãos federais. https://t.co/iSCVg4SkPO
Irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, Arthur Weintraub criticou o youtuber Felipe Neto pela divulgação dos números nas redes sociais e afirmou que o leite condensado é “comprado sobremodo para universidades e institutos federais”.
Felipe neto num dia recrimina Machado de Assis para adolescentes. No outro dia critica gastos federais com leite condensado (comprado sobremodo para Universidades e Institutos Federais). Esse é o queridinho da elite bilionária progressista como exemplo dos jovens e crianças.
— Arthur Weintraub (@ArthurWeint) January 26, 2021
Procurado, o MEC informou que as despesas realizadas pela pasta com aquisição de gêneros alimentícios em 2020 foram da ordem de R$ 85 mil. “Como é do conhecimento da sociedade brasileira, o MEC é uma pasta complexa, à qual estão vinculadas autarquias, empresa pública, universidades federais, institutos federais e hospitais universitários, com atividades em todo território nacional”, ressaltou
“A fonte de consulta utilizada na matéria, do portal Metrópoles, de 24 de janeiro último, é o Painel de Compras do governo federal. Nesse sistema, todas as unidades gestoras, isto é, unidades aptas a realizar licitações e celebrar contratos, encontram-se vinculadas ao grupo do órgão supervisor, mas seus processos são independentes em razão da autonomia gerencial e administrativa atribuídas a tais instituições pelas vias constitucional e legal”, ressaltou. “Dessa forma, cada unidade é responsável pela execução do seu orçamento e suas contratações, sem que haja a interveniência do MEC.”
Por meio do seu perfil do Instagram, a União Nacional dos Estudantes (UNE) comentou a quantia de R$ 1,8 bilhão destinada à alimentação pelo governo federal em 2020 e afirmou que “tudo foi gasto com dinheiro público que poderia ter sido revestido com investimentos na Educação”. A entidade ressaltou que o valor gasto com comida é superior ao corte no orçamento da Educação previsto para 2021, de R$ 1,4 bilhão.
Procurada pela reportagem, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirmou que não tem dados sobre os gastos desses produtos nas federais e que não comentaria a respeito.
Internautas criticam e ironizam a situação
Confira posts compartilhados nas redes sociais sobre o assunto:
Alguém aí que estudou em universidade ou instituto federal já comeu leite condensado em alguma refeição, sobremesa, oferecido pela instituição? Porque em 5 anos de graduação e 2 de mestrado eu nunca. https://t.co/iFNDe9z8FW
— Mylla Sampaio (@myllamssampaio) January 26, 2021
Parece piada, mas os bolsominions estão difundindo uma narrativa de que o 1,8 BILHÃO gastos em em 2020 c/ frutos do mar e batata frita foram direcionados aos RU's das universidades.
— Mateus Pordeus (@MateusPordeus_) January 28, 2021
Já é inacreditável, mas piora pois esqueceram de lembrar que não tivemos aulas presenciais em 2020
to pensando aqui, uns gastando 15 milhões em leite condensado e eu não tendo 1 real pro brigadeiro depois do RU
— UnB Sincera (@unbsincera) January 27, 2021
Prioridades:
— Caio Silva (@caiofreds) January 26, 2021
( ) Bolsas para pós-graduação
( X ) Leite condensado.
Tivemos um corte de 95% nas bolsas da pós-graduação da UnB.
Batata frita embalada: 16,5 milhões
Leite condensado: 15,6 milhões
Barra de cereal: 13,4 milhões
Ervilha em conserva: 12,4 milhões
Chiclete: 2,2 milhões
Executivo "gasta" em 2020 com "alimentos" 1,8 bilhão de reais enquanto o povo tem negado seu auxílio emergencial de 600 reais!— Thiago Ávila (@thiagoavilabr) January 26, 2021
no RU da universidade federal eu nunca comi sobremesa com leite condensado
— concurseiro da bad (@gui_concurseiro) January 27, 2021
*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa