Movimento estudantil

Mais ex-alunos da USP assinam carta pedindo impeachment de Bolsonaro

O documento foi divulgado por alunos do curso de relações internacionais após manifestação dos ex-estudantes de medicina e direito da universidade

João Carlos Magalhães*
postado em 22/01/2021 19:14 / atualizado em 22/01/2021 19:29
Michele dos Ramos faz parte da comissão organizadora da carta  -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Michele dos Ramos faz parte da comissão organizadora da carta - (crédito: Arquivo Pessoal)

Alunos e ex-alunos de relações internacionais de diversas universidades se manifestaram, nesta sexta-feira (22/1), a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro por meio de carta organizada por graduados na área pela Universidade de São Paulo (USP). Até o momento, o documento conta com 150 assinaturas. 

Ao longo da semana, foram divulgadas cartas assinadas por ex-alunos de direito e medicina da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contabilizaram mais de 2,7 mil assinaturas a favor do afastamento do presidente por crime de responsabilidade e conduta irresponsável durante a pandemia de covid-19


Uma das organizadoras do movimento dos egressos de relações internacionais é Michele dos Ramos, 36 anos. Graduada pela USP e mestra em segurança do trabalho pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences Po, na França, ela explica que o manifesto dá continuidade aos outros pedidos.


“Esse movimento se une a essa sucessão de posicionamentos de alunos de diversas universidades neste momento tão desafiador”, diz. Entre os assinantes do manifesto está o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Guilherme Casarões.


Embora a iniciativa seja dos ex-alunos da USP, qualquer aluno ou bacharel de relações internacionais pode assinar o documento.

Acesse no link.


Já assinaram estudantes da Universidade de Brasília (UnB), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), entre outras.

“Bolsonaro e seu gabinete pervertem instituições democráticas”, afirmam ex-alunos
Para o grupo de alunos e ex-alunos de relações internacionais, o governo de Bolsonaro adotou uma prática prejudicial para o enfrentamento da pandemia: a falta de cooperação internacional.


“Na contramão de sua trajetória de defesa da cooperação multilateral, da diplomacia, dos direitos humanos, da democracia e do respeito à soberania, ao longo dos últimos dois anos, o governo brasileiro pavimentou um caminho inaceitável, que torna o Brasil, assumida e voluntariamente, um pária no sistema internacional”, escrevem os ex-alunos.


“Jair Bolsonaro e seu gabinete pervertem e corrompem as instituições democráticas, em criminoso desrespeito ao histórico compromisso brasileiro com o fortalecimento da cooperação internacional”, continua o documento.


Michele salienta que a pandemia escancarou a importância da cooperação internacional, mas que o Brasil seguiu caminho oposto. “A gente sabe que esses desafios não se limitam às nossas fronteiras, mas o governo brasileiro vai na contramão da nossa tradição de cooperação internacional e coloca em cheque a vida dos seus cidadãos”, explica.


Ela lembra que um movimento de vacinação necessita de uma união de forças que não se restringe às fronteiras brasileiras. “A carta vai neste sentido de reforçar a trajetória do Brasil como uma grande liderança do multilateralismo, a contramão do governo brasileiro e as consequências para a população brasileira”, informa.


Assim como as outras manifestações, a carta sugere o afastamento do presidente da República. “Como ex-alunas e alunos do bacharelado em relações internacionais de diferentes instituições de ensino do Brasil, somamos nossas vozes àquelas que exigem a responsabilização jurídica e política pelas ações e omissões criminosas do presidente”, relatam.

Confira a carta na íntegra:

“Carta de bacharéis e bacharelas em Relações Internacionais pelo imediato afastamento do Presidente Jair Bolsonaro e pela abertura do processo de impedimento pelo Congresso Nacional

Fazemos parte de uma geração que viu o Brasil avançar como um ator de grande relevância na condução de agendas internacionais fundamentais na construção de um mundo mais seguro, inclusivo e sustentável para cada vez mais cidadãs e cidadãos. A crise climática, os limites das antigas estruturas de segurança internacional e a necessidade de uma governança corporativa capaz de garantir compromissos ambientais e sociais ganhavam a ordem do dia dentre os inúmeros desafios colocados na esfera internacional ao longo das últimas décadas.


Na contramão de sua trajetória de defesa da cooperação multilateral, da diplomacia, dos direitos humanos, da democracia e do respeito à soberania, ao longo dos últimos dois anos o governo brasileiro pavimentou um caminho inaceitável, que torna o Brasil, assumida e voluntariamente, um pária no sistema internacional. A irresponsabilidade na condução do país e de suas relações internacionais ganhou uma dimensão ainda mais grave diante da tragédia humanitária imposta pela covid-19.


No momento em que a cooperação entre países e entre os diferentes setores da sociedade se apresenta como o único caminho possível para assegurarmos a vacinação universal, a mitigação das graves perdas sociais e econômicas e a reversão do agravamento das desigualdades resultantes da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro e seu gabinete pervertem e corrompem as instituições democráticas, em criminoso desrespeito ao histórico compromisso brasileiro com o fortalecimento da cooperação internacional.


Ao invés da liderança de esforços no enfrentamento da pandemia, assistimos a defesa e adoção, pelo Executivo federal, de tratamentos que levam seus cidadãos à morte. No lugar da defesa da coordenação multilateral na produção e distribuição de vacinas, testemunhamos agressões contra países e lideranças-chave no esforço global contra a covid-19 e o descrédito em relação à ciência, às custas de centenas de milhares de vidas.


Como ex-alunas e alunos do bacharelado em Relações Internacionais de diferentes instituições de ensino do Brasil, e como profissionais atuantes nas mais diferentes áreas, somamos nossas vozes àquelas que exigem a responsabilização jurídica e política pelas ações e omissões criminosas do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia no país.


É preciso que o Congresso Nacional atue com urgência para que o exercício da Presidência da República seja orientado pelo compromisso com os valores democráticos, com o Estado de Direito e com o protagonismo que o Brasil precisa desempenhar na esfera internacional em agendas urgentes, que determinarão a vida e o bem-estar de sua população. O afastamento do presidente Jair Bolsonaro e a abertura do processo de impedimento não podem mais ser vistos como entraves ao enfrentamento da pandemia e de tantos outros desafios que se impõem ao país; são, ao contrário, condições imperativas para que retomemos qualquer pretensão de desenvolvimento humano, social e econômico.”

 

*Estagiário sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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