Qual o seu limite? Sonhos têm idade? Até quando se pode sonhar? Edicleia de Arruda Zanini sabe bem a resposta para todas essas indagações. Sabe mais: ela é prova de que não há barreiras que impeçam o desejo de ir em frente.
Aos 72 anos, ela foi aprovada em 2º lugar para cursar letras-português a distância na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A aposentada se formou no ensino médio pelo Educação para Jovens e Adultos (EJA) e decidiu prestar o vestibular para realizar um sonho que a acompanhava há anos.
Edicleia soube do vestibular on-line da UFSM e decidiu tentar. A prova foi feita em setembro, mas segundo ela, não ficou com expectativas de passar, pois não havia estudado, apesar de gostar muito de se dedicar aos estudos. “Sempre gostei muito de ler, escrever e ler poesia. Quando fiz o EJA, tirei nota máxima em todas as matérias”, conta.
O resultado saiu em 25 de novembro, e Edicleia só ficou sabendo quando foi à casa de uma de suas filhas. “Quando vi que estava em segundo lugar, eu não acreditei e fiquei muito feliz. Meus filhos e netos ficaram muito felizes também”, compartilha a mais entusiasmada caloura da UFSM.
Notícia viralizou nas redes sociais
A comemoração do resultado do vestibular de Edicleia Zanini foi postada no Twitter da neta, Alice Siqueira, 21 anos. A publicação rendeu mais de 120 mil curtidas e muitos usuários deixaram mensagens de apoio e de celebração.
No momento que soube da conquista da avó, Alice não pensou muito e resolveu compartilhar com os amigos na rede social. “Eu estava feliz e quis compartilhar com os meus amigos, porque foi muito inesperado. A minha avó já queria ter entrado na faculdade há muito tempo e foi uma conquista muito grande para a família”, compartilha estudante de artes visuais da UFSM.
Doença fez a aposentada adiar o sonho
Edicleia conta que há 70 anos os pais não davam tanta importância para os estudos como é hoje. Ela teve que interromper o ensino fundamental aos 14 anos para ajudar a mãe com costuras, casou aos 20 e continuou trabalhando para ajudar o marido e criar os três filhos.
Depois de muito tempo trabalhando e já separada do marido, ela percebeu que precisava retomar os estudos. Edicleia começou o EJA em 2013, finalizou em 2014 e pretendia prestar vestibular logo em seguida, mas foi surpreendida por um linfoma.
Foram três anos de tratamento e sessões de quimioterapia, até que finalmente surgiu a oportunidade da UFSM este ano.
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Idade não deve ser motivo para desistir
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A idade nunca impediu Edicleia de persistir no sonho e fazê-lo se tornar realidade. Para a faculdade, ela espera dominar bem o conteúdo e estudar as matérias que ela mais gosta: português e literatura.
Em relação ao ingresso na faculdade depois de tanto tempo, Edicleia avalia que a idade não deve ser um motivo para desistir do ensino superior. “O que eu tinha para fazer eu já fiz, mas eu acho que tenho capacidade de fazer muita coisa ainda”, complementa. “As pessoas nunca devem desistir dos seus sonhos por causa da idade.”
Para a neta Alice, a avó é uma verdadeira inspiração. “Eu fico muito feliz, porque me dá um sentimento de reconforto por pensar que nunca é tarde demais para a gente continuar buscando a nossa felicidade e aquilo que a gente quer fazer”, pontua a estudante da UFSM.
A aposentada, que mora sozinha, agora prepara o antigo quarto de costura, para se tornar um espaço de estudos, pois o curso será na modalidade a distância (EAD). Alice e os familiares estão felizes que Edicleia é a prova de que sonhos existem para que sejam realizados.
*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá