Eu, Estudante

NOVO MANDATO

Comunidade da UnB comemora, aliviada, a nomeação de Márcia como reitora

A decisão, que segue o que se definiu nas urnas, foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (20) e pôs fim à espera de alunos, técnicos e docentes

A publicação da nomeação de Márcia Abrahão como reitora da Universidade de Brasília (UnB) no Diário Oficial da União (DOU) pôs fim à espera e a temores da comunidade universitária. O Poder Executivo empossou a candidata mais votada nas eleições da universidade e no Conselho Universitário (Consuni).

A decisão foi recebida com alívio por docentes, discentes e técnicos da UnB. A reitora também compartilha esse sentimento. “Foram meses de muita apreensão, mas, no fim, tivemos o reconhecimento do nosso trabalho e seriedade, minha e do professor Enrique Huelva, na condução da universidade, expressos nessa nomeação. Também foi uma conquista da nossa comunidade”, afirma Márcia Abrahão. 

Consulta UnB / Reprodução - Márcia Abrahão e Enrique Huelva, respectivamente reitora e vice-reitor da UnB, foram reconduzidos para nova gestão

 

Em outras 17 universidades pelo Brasil, segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não seguiu a vontade da comunidade acadêmica na escolha da gestão e nomeou candidatos que não tinham sido os mais votados nas urnas. Por isso, existia o receito de que isso ocorresse na UnB.

A professora Márcia Abrahão ressalta que essa "conquista" é fruto da pressão da sociedade do Distrito Federal, por ter se unido em torno da nomeação da chapa vencedora. A escolha de Márcia também contou com o apoio do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) e de parlamentares. “Termos sido indicados nos deixa muito felizes, mas também conscientes da nossa responsabilidade”, destaca.


Márcia observa que a comoção em torno da indicação trouxe aprendizados quanto à importância de uma comunidade unida. “Nós temos muitos desafios pela frente e é importante que a comunidade veja a importância da união para superá-los”, pondera. Entre os desafios, ela elenca a realização do próximo semestre e o orçamento para 2021.


A chapa de Márcia Abrahão garantiu 54% dos votos


Márcia e o vice, Enrique Huelva, ganharam o pleito realizado com a comunidade entre 25 e 26 de agosto com 54% dos votos. A chapa deles, a Somar, disputava com outras três, encabeçadas pelos professores Virgílio Arraes (Unifica UnB), Fátima Sousa (Tempo de Florescer UnB) e Jaime Santana (UnB pode muito mais). O resultado foi levado ao Conselho Universitário (Consuni/UnB) e a lista tríplice foi formulada em 17 de setembro.


A lista encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) era capitaneada pelo nome de Márcia e outras duas professoras que não concorreram à consulta à comunidade acadêmica da UnB: Olgamir Amancia Ferreira e Germana Henriques Pereira.


Estudantes comemoram o resultado, mas pedem atenção


O vice-presidente regional da União Nacional dos Estudantes (UNE) no DF, Artur Nogueira, 19 anos, considera a nomeação da professora Márcia uma vitória para a democracia universitária. “Foi respeitada, com essa decisão, a vontade da comunidade acadêmica que foi expressa na consulta feita pelas entidades representativas da universidade”, ressalta.


Artur, que também é estudante do 3° semestre de design na Universidade de Brasília, espera uma “gestão democrática, que ouça as necessidades dos três segmentos da universidade, para que possamos construir as melhores alternativas para o momento de pandemia e posterior a ele”.


O presidente da UNE, Iago Montalvão, considera a escolha de Márcia uma vitória diante da “movimentação autoritária por parte do governo Bolsonaro nas nomeações para reitoria”. Ele destaca que o calendário de lutas e mobilizações contra "intervenções" continua em outras universidades e a UNE segue alerta, junto a outras entidades, quanto a essa possibilidade.

CUCA DA UNE - O presidente da UNE, Iago Montalvão, destaca que já são 17 nomeações que desrespeitam a escolha da comunidade universitária pelo Brasil


Iago ressalta que Bolsonaro está nomeando reitores que não ocupam os primeiros lugares nas listas votados pela comunidade acadêmica. “Era o que costumava ocorrer em todas as nomeações para reitor desde o fim da ditadura militar. O nome mais votado assumia o cargo. Jair Bolsonaro quebrou essa tradição democrática e, em menos de dois anos, são 17 intervenções.”

 

Docentes da UnB não deixarão de lado o apoio à democracia e à autonomia


O presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), Jacques de Novion, destaca que “hoje é um dia de festa para a UnB”. No entanto, ele vê a situação com atenção, pois, em outras instituições, não houve respeito à democracia e à autonomia universitária.

 

Arquivo Pessoal - O presidente da ADUnB, Jacques de Novion, alerta para a situação em outras universidades


“Por mais que a situação da UnB tenha sido positiva com relação ao respeito à democracia e à autonomia universitária, isso também nos coloca na condição de seguir nessa luta juntamente com as universidades que já estão em processo de intervenção e as que ainda passarão por processos de consulta”, ressalta.


“Para nós é o sentimento de dever cumprido”, ressalta José Almiram Rodrigues, coordenador de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), sobre a nomeação de Márcia. Ele ressalta que o sindicato está satisfeito, pois defende a democracia interna da comunidade, independentemente de quem seja eleito.


Arquivo Pessoal - José Almiram Rodrigues, coordenador de comunicação do Sintfub, destaca que, apesar da posição crítica à gestão, o sindicato defendeu o respeito à decisão da comunidade

 

O coordenador destaca que a posição do sindicato é crítica desde a primeira gestão de Márcia Abrahão, mas defendeu o respeito da decisão da comunidade. “O que nós temos é disposição para lutar em defesa dos trabalhadores e da universidade pública e gratuita”, pondera.


Andes também aposta nas ações que estão no STF para frear novas investidas


O 2° tesoureiro do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), Cláudio Mendonça, considera a escolha do primeiro nome uma decisão acertada, mas ele pede cuidado, pois, nesta semana, o presidente nomeou o segundo colocado para reitor da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Assim, o Andes continuará com apoio às manifestações.

 

Arquivo Pessoal - O 2° tesoureiro do Andes-SN, Cláudio Mendonça, avalia a escolha do primeiro nome como acertada e destaca a defesa do sindicato por uma nomeação direta


O sindicato também solicitou a ingresso com suporte de informações na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo Cláudio, o Andes pretende ajudar nas justificativas e evidenciar “ações que possam frear esse avanço autoritário do governo Bolsonaro que desrespeita a eleição nas universidades”.


Além da ADI, que foi proposta pelo Partido Verde, também tramita no STF uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ambas questionam o uso da lista tríplice e a possibilidade de serem nomeados outros nomes que não seja o dos vencedores nas urnas.

 

*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá