Saúde Mental

UnB: alunos da Casa do Estudante reclamam da falta de apoio psíquico

Segundo os moradores, ausência de atendimento psicológico e restrições sociais estariam potencializando o adoecimento dos residentes. Em nota, a instituição diz acompanhar os casos

Ana Lídia Araújo*
postado em 27/10/2020 12:29 / atualizado em 27/10/2020 13:36
Em reunião feita segunda-feira (26/10), a Universidade de Brasília concordou em criar um grupo de trabalho para discutir o plano de contingência para a flexibilização das regras de isolamento social da CEU. Alunos alegam negligência com a saúde mental -  (crédito: Isa Lima/Secom UnB)
Em reunião feita segunda-feira (26/10), a Universidade de Brasília concordou em criar um grupo de trabalho para discutir o plano de contingência para a flexibilização das regras de isolamento social da CEU. Alunos alegam negligência com a saúde mental - (crédito: Isa Lima/Secom UnB)

A falta de atendimento psicológico clínico e as restrições sociais implementadas pela Universidade de Brasília (UnB) estão sendo apontadas como potencializadoras do adoecimento mental de alunos da Casa do Estudante Universitário (CEU). Segundo moradores, as medidas de combate ao coronavírus não sofreram flexibilizações desde o início da pandemia e os discentes não recebem apoio psíquico, com exceção dos casos mais graves.

A princípio, muitos alunos voltaram para a casa da família, mas nem todos têm a mesma opção por diversas questões. De acordo com a representação discente, aproximadamente 30 alunos estagiam presencialmente e não podem voltar para casa, por exemplo. Outros estudantes não têm estrutura para estudar nas residências familiares ou até mesmo não têm mais para onde ir. 

Atualmente, são cerca de 100 discentes ocupando os apartamentos, segundo o último levantamento da Coordenação Geral da CEU, feito em abril. Ao todo, a casa pode acolher aproximante 300 alunos.

Adoecimento mental dos estudantes

Em março, a instituição desautorizou visitas e pernoites de não moradores e também a circulação de alunos entre os blocos A e B. De acordo com João Emanuel Saraiva, estudante de farmácia e membro da representação discente da CEU, as restrições contribuem no adoecimento dos moradores e o psicólogo que atende os moradores da casa não trata casos clínicos.

Segundo João e mais três alunos que preferiram não se identificar, apenas os casos mais sérios são encaminhadas à Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC). “Os  mais simples não são atendidos e a resposta é que a gente procure um psicólogo clínico”, conta João Emanuel.

No entanto, o tratamento clínico não é ofertado pela instituição. "Eu nunca tive nenhum suporte psicológico ou físico da UnB, precisei procurar por fora. Embora as restrições sejam necessárias, eles não pensaram em como combater as consequências disso", disse um dos estudantes.

Segundo relatos, desde setembro quatro alunos foram resgatados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) após episódios de surtos psicóticos. A UnB não confirmou os casos.

"Cada vez mais estudantes estão piorando. Quatro pessoas tiveram que sair internadas pela ambulância, mas nós temos outros alunos que também tiveram a saúde mental agravada", diz João.

Outro discente contou ao Eu, Estudante que presenciou o episódio de surto psíquico de um colega. Apesar do trauma provocado pela situação, o discente afirma que não recebeu apoio psicológico por parte da universidade. “Isso é negligência", disse. "O adoecimento mental da CEU é palpável”.

Reunião com a instituição

Na noite de ontem (26/10), a UnB se reuniu com membros da representação discente da CEU. Segundo a instituição informou em nota, ficou pactuada a criação de um grupo de trabalho para discutir o plano de contingência para a flexibilização das regras de isolamento social. Porém, prazos não foram citados.

Contudo, segundo os estudantes, as situações de adoecimento mental mais graves ocorridas nos últimos dois meses não foram comentadas. A maior queixa dos alunos é a falta de atendimento psicológico para os casos mais simples, que podem ser tratados antes que se agravem. Essa questão ainda não foi resolvida.

"É uma situação que está sendo muito difícil de lidar e quem era para estar fazendo alguma coisa por a gente não está fazendo", afirma João. "Nós precisamos de soluções para ontem".

Confira a nota da UnB na íntegra:

“A Universidade de Brasília acompanha, com atenção e responsabilidade, a situação dos moradores da Casa do Estudante (CEU) e atua na promoção da saúde e na prevenção a situações de risco de sua comunidade.

Neste período de pandemia, a Diretoria de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária (Dasu/DAC) tem realizado o acompanhamento em saúde mental de mais de 300 pessoas. Também vem fazendo rodas de terapia comunitária on-line semanalmente, das quais participam, em média, 70 estudantes. Quando ocorrem situações de crise, a Dasu (responsável pelo monitoramento dos casos) aciona os serviços públicos de saúde, que são os meios competentes para atuar nestes momentos críticos.

Ainda sobre a CEU, a UnB esclarece ter adotado uma série de medidas de prevenção e cuidado sanitário, desde o início da pandemia, a fim de proteger as pessoas que vivem no local.

Dentre as ações, com foco em todos os estudantes da assistência estudantil, houve o lançamento de editais de assistência emergencial para alimentação (que contemplou mais de 3.000 alunos de toda Universidade) e auxílio transporte a estudantes que quiseram voltar para suas cidades de origem. Houve, ainda, dois editais de inclusão digital, para a compra de equipamentos e de internet de melhor qualidade, para que os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica pudessem participar das atividades letivas não presenciais.

A UnB está particularmente sensível às demandas dos moradores de CEU. Em reunião nesta segunda-feira, 26 de outubro, ficou pactuada a criação de um grupo de trabalho para discutir o plano de contingência para a flexibilização das regras de isolamento social. Algumas propostas são reabertura da sala de musculação e liberação da convivência entre os moradores dos dois blocos da CEU, consideradas as orientações do comitê de contingenciamento da Covid-19 da UnB.”

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá. 

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