A prova de linguagens do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste domingo (3/11) citou um projeto educativo sobre memes e fake news feito pela professora Gilda das Graças e Silva, 48 anos, que leciona língua portuguesa pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF). A questão (confira abaixo) fez com que os candidatos refletissem sobre o impacto dos memes que circulam em aplicativos e, especialmente, nas redes sociais.
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Gilda desenvolveu esse projeto enquanto estava no mestrado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais, entre 2016 e 2018. Na especialização, ela estudou sobre gêneros de linguagem e como usá-los para promover mudanças em relação ao ensino da língua portuguesa nas escolas.
Com os estudos, ela defende que a leitura crítica e a interpretação vai além da linguagem escrita, abrangendo também os conteúdos digitais. Na época, ela percebia que o celular já estava presente na vida dos alunos, o que a motivou a escolher os memes como objeto de pesquisa. No início, a professora fez um recorte temático sobre o tema, com enfoque em como essa linguagem retrata as crianças, analisando a presença de sentidos maliciosos ou preconceituosos.
Aplicação
Como proposta de intervenção para que outros professores também trabalhassem, junto aos alunos, a interpretação e a compreensão dos memes da internet, no trabalho final, Gilda criou um projeto educativo padronizado para que os professores pudessem seguir, disponível no site da UFU.
“A ideia é contar para eles desde quando e como os memes surgiram, porque eles não são de agora, até fazer com que eles entendam que o embasamento é maior que a diversão, e que, por essa linguagem, podemos refletir sobre o que está nas entrelinhas”, explica.
Ao mesmo que tempo que a pesquisa era feita, o projeto foi aprovado pelo Centro de Ensino Fundamental (CEF) 412 de Samambaia, escola que trabalhava, em 2016; com a aplicação em outras escolas da cidade satélite no ano seguinte. “A ideia é fazer com que os alunos tenham uma leitura crítica possam entender que os memes, mesmo que sejam de caráter de descontração, podem apresentar outros sentidos de interpretação”, pontua.
Repercussão
Com a aplicação nas escolas, ela conta que percebeu a repercussão do projeto vendo as expectativas dos estudantes e do próprio núcleo pedagógico que aprovou o trabalho. “Além do engajamento com os alunos, a escola me deu oportunidade de fazer o trabalho com outras turmas, o que foi muito encantador da parte deles”, compartilha.
Com essa experiência, a professora descreve que foi uma experiência “prazerosa”, porque fez com que eles percebessem que os sentidos por trás dessa linguagem podem propagar fakes news e narrativas preconceituosas. “Com a pesquisa, consegui fazer não só com que os alunos compreendessem esses discursos, mas também que houvesse o aprimoração da leitura e do uso da tecnologia a favor deles”, diz.
Realização
Com 28 anos de carreira como professora e lecionando em duas escolas, no Centro de Ensino Fundamental (CEF) Vila Areal e no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) sede 6, ambos em Taguatinga, Gilda se sente feliz e emocionada com a menção à iniciativa na prova do Enem.
O sentimento tem a ver com o tempo que ela passou no mestrado: Gilda fez a especialização em Uberlândia, enquanto também trabalhava e cuidava do filho, à época, adolescente, no Distrito Federal, período em que teve de se deslocar constantemente por dois anos. “Quando se fica de tempos em tempos trabalhando e conciliando trabalho e família, é muito difícil. Então, no momento em que vi a questão, foi um misto de sentimentos de gratidão e da importância que o estudo tem”.
Além disso, a professora cita a importância que o exame tem para o país, possibilitando maior visibilidade para iniciativas como a dela. “O Enem tem um grande valor que trabalha com temas que precisam ser refletidos, e fazer com que outras pessoas conheçam isso, faz a gente sentir alegria e satisfação”, celebra.
*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues
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