Mogi das Cruzes (SP) — O vice-presidente da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação (CNE), Paulo Fossati, afirma que há conversas no Ministério da Educação (MEC), e com o governo federal, para a realização de uma segunda prova especial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os estudantes do Rio Grande do Sul. A informação é confirmada por outros representantes do setor, apesar de ainda não haver confirmação sobre em qual data o exame poderia ser aplicado.
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Em entrevista concedida ao Correio, Fossatti, que também foi reitor por 12 anos da Universidade La Salle, em Canoas, no Rio Grande do Sul, também conta sobre os desafios para a reconstrução da educação no estado. Segundo o conselheiro, há um diálogo constante das entidades que representam o ensino básico e superior no Brasil com o ministro Paulo Pimenta e com o governo federal, para discutir a retomada das aulas na rede pública.
A entrevista ocorreu durante a 16ª edição do Congresso Brasileiro de Educação Superior Particular (CBESP), que conta com mais de 500 representantes de universidades e instituições de ensino superior de todo o Brasil e termina nesta sexta-feira (7/6). O evento é promovido pelo Fórum Brasileiro da Educação Particular (Brasil Educação), em parceria com o portal Linha Direta.
Confira os principais trechos da entrevista:
Avaliações
"Estamos pedindo, já trabalhamos com a Marta (Abramo), do Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação — MEC), trabalhamos com o Manuel Palácios, presidente do Inep, em primeiro lugar, para suspender temporariamente as avaliações e supervisões no Rio Grande do Sul. Isso já foi concedido. Já estamos com a documentação, o que dá um alívio, porque agora temos que salvar vidas".
Enem
"Alguns estudantes vão passar meses sem aula. Que condições vão ter para fazer o Enem e, ao mesmo tempo, para o Enade? E quantos vão voltar on-line? Na minha universidade, apenas 49% dos alunos apareceram na primeira aula on-line. O que está acontecendo com os outros 51%? Ainda estão nos abrigos? Ainda não tem conexão? Então nós estamos mapeando as áreas atingidas. O que Inep nos disse é: ‘Olha, vai ser muito difícil fazer um segundo Enem', e nós falamos: ‘Se não tivermos um segundo, o Enem vai ser muito difícil para que o nosso aluno participe e concorra em condições igualitárias com outros estudantes do Brasil’. O que nós estamos pedindo? Um Enem especial para o Rio Grande do Sul. Primeiro, deixe as coisas se ajeitarem. Vamos ver quantos dias vamos ficar de fora da sala de aula. E aí, joga para a frente e faz uma prova especial. Vários especialistas nos disseram que dá para fazer".
Financiamento
"Enviamos um pedido de financiamento ao governo federal a esses estudantes que perderam tudo. Um financiamento não reembolsável, seguindo a metodologia do Prouni, para nós podermos acolher, ao menos, até o final da graduação desses estudantes, seja a graduação de bacharelado ou licenciatura, para que eles não parem no caminho. Nós estamos pedindo ao governo federal uma política para recompor as bibliotecas, os laboratórios e equipamentos para alunos, com juro muito baixo. Estamos, também, com uma campanha de doação de material de informática, computadores, mas sabemos que isso é necessário, mas não é suficiente. Estamos trabalhando com o governo para que, de fato, tenha alguma linha de crédito a juros zero ou em condições suficientemente amigáveis para que as pessoas se animem a voltar a estudar".
Evasão de estudantes
"Nós precisamos que esses estudantes, para conter uma migração interna no país, para outros estados, nós precisamos, também, apoiá-los para que eles tenham uma política de financiamento estudantil diferenciada. E aí, com o apoio do CNE, estamos reunindo os reitores do Rio Grande do Sul, para que trabalhem com o ministro Pimenta, ou seja, com o Governo Federal, para ter uma política especial de financiamento, porque Porto Alegre, por exemplo, teve 30% dos alunos com as casas debaixo d'água e na região metropolitana, tivemos perto de 60% dos estudantes com as casas alagadas até o teto por um período de duas a três semanas".
Soluções práticas
"A pergunta agora é: a educação agora vai virar que prioridade e para quando? Já na segunda semana do evento climático, os alunos começaram a entrar em contato com as suas universidades para cancelar a matrícula. Isso é assustador. Agora eu tenho alguém que não tem em casa, que não está gerando renda, que não tem emprego e também que não tem universidade. Precisamos dar soluções permanentes e não apenas soluções imediatas. Contudo, no momento de calamidade pública, agora se trata de cuidar do bem estar, da integridade dessas pessoas, mas estamos pensando a curto e médio prazo, que as pessoas possam ter uma esperança de continuar".
Perdas
"Alguns municípios, a exemplo dos que ficam ao longo do Rio Taquari, as escolas foram totalmente destruídas. Agora nós precisamos de escolas de campanha e numa outra modalidade. Há municípios próximos à grande Porto Alegre, inclusive em Porto Alegre, em que muitas escolas ficaram totalmente debaixo d'água. No município de Canoas, que é grande Porto Alegre, de 83 escolas municipais, 41 ficaram submersas por três semanas. E aí se perdeu material escolar, registros de secretaria, biblioteca, laboratório, se perdeu tudo".
Contenção de desastres
"O CNE está dialogando com vários ministérios e, principalmente, com essa secretaria especial para a reconstrução do Rio Grande do Sul, sob a liderança do ministro Paulo Pimenta, estamos dialogando com ele, questões como pesquisas para novos eventos climáticos. A exemplo do que já nos disseram os especialistas, que este foi o pior evento climático dos últimos 200 anos. Contudo, não é o pior evento climático que está para vir nos próximos 10 anos. Se não tivermos um plano de diques, um plano que dê segurança para eventos climáticos, a população não vai voltar para essa região alagadiça na beira dos rios e na beira dos diques. Então você vai ter que deixar esse espaço na beira dos rios, para que seja um espaço permanente das águas, e assim por diante".
*O jornalista viajou a convite da Abmes