EDUCAÇÃO

"Estamos pedindo um Enem especial para o RS", diz vice da Câmara de Educação Superior

Paulo Fossatti foi reitor da Universidade La Salle, em Canoas, no Rio Grande do Sul, por 12 anos, e explica situação de calamidade no ensino do estado

Raphael Pati
postado em 06/06/2024 21:13 / atualizado em 06/06/2024 21:13
Paulo Fossati, vice-presidente da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação (CNE) -  (crédito: Raphael Pati/CB/D.A Press)
Paulo Fossati, vice-presidente da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação (CNE) - (crédito: Raphael Pati/CB/D.A Press)

Mogi das Cruzes (SP) — O vice-presidente da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação (CNE), Paulo Fossati, afirma que há conversas no Ministério da Educação (MEC), e com o governo federal, para a realização de uma segunda prova especial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para os estudantes do Rio Grande do Sul. A informação é confirmada por outros representantes do setor, apesar de ainda não haver confirmação sobre em qual data o exame poderia ser aplicado.

Em entrevista concedida ao Correio, Fossatti, que também foi reitor por 12 anos da Universidade La Salle, em Canoas, no Rio Grande do Sul, também conta sobre os desafios para a reconstrução da educação no estado. Segundo o conselheiro, há um diálogo constante das entidades que representam o ensino básico e superior no Brasil com o ministro Paulo Pimenta e com o governo federal, para discutir a retomada das aulas na rede pública.

A entrevista ocorreu durante a 16ª edição do Congresso Brasileiro de Educação Superior Particular (CBESP), que conta com mais de 500 representantes de universidades e instituições de ensino superior de todo o Brasil e termina nesta sexta-feira (7/6). O evento é promovido pelo Fórum Brasileiro da Educação Particular (Brasil Educação), em parceria com o portal Linha Direta.

Confira os principais trechos da entrevista:

Avaliações

"Estamos pedindo, já trabalhamos com a Marta (Abramo), do Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação — MEC), trabalhamos com o Manuel Palácios, presidente do Inep, em primeiro lugar, para suspender temporariamente as avaliações e supervisões no Rio Grande do Sul. Isso já foi concedido. Já estamos com a documentação, o que dá um alívio, porque agora temos que salvar vidas".

Enem

"Alguns estudantes vão passar meses sem aula. Que condições vão ter para fazer o Enem e, ao mesmo tempo, para o Enade? E quantos vão voltar on-line? Na minha universidade, apenas 49% dos alunos apareceram na primeira aula on-line. O que está acontecendo com os outros 51%? Ainda estão nos abrigos? Ainda não tem conexão? Então nós estamos mapeando as áreas atingidas. O que Inep nos disse é: ‘Olha, vai ser muito difícil fazer um segundo Enem', e nós falamos: ‘Se não tivermos um segundo, o Enem vai ser muito difícil para que o nosso aluno participe e concorra em condições igualitárias com outros estudantes do Brasil’. O que nós estamos pedindo? Um Enem especial para o Rio Grande do Sul. Primeiro, deixe as coisas se ajeitarem. Vamos ver quantos dias vamos ficar de fora da sala de aula. E aí, joga para a frente e faz uma prova especial. Vários especialistas nos disseram que dá para fazer".

Financiamento

"Enviamos um pedido de financiamento ao governo federal a esses estudantes que perderam tudo. Um financiamento não reembolsável, seguindo a metodologia do Prouni, para nós podermos acolher, ao menos, até o final da graduação desses estudantes, seja a graduação de bacharelado ou licenciatura, para que eles não parem no caminho. Nós estamos pedindo ao governo federal uma política para recompor as bibliotecas, os laboratórios e equipamentos para alunos, com juro muito baixo. Estamos, também, com uma campanha de doação de material de informática, computadores, mas sabemos que isso é necessário, mas não é suficiente. Estamos trabalhando com o governo para que, de fato, tenha alguma linha de crédito a juros zero ou em condições suficientemente amigáveis para que as pessoas se animem a voltar a estudar".

Evasão de estudantes

"Nós precisamos que esses estudantes, para conter uma migração interna no país, para outros estados, nós precisamos, também, apoiá-los para que eles tenham uma política de financiamento estudantil diferenciada. E aí, com o apoio do CNE, estamos reunindo os reitores do Rio Grande do Sul, para que trabalhem com o ministro Pimenta, ou seja, com o Governo Federal, para ter uma política especial de financiamento, porque Porto Alegre, por exemplo, teve 30% dos alunos com as casas debaixo d'água e na região metropolitana, tivemos perto de 60% dos estudantes com as casas alagadas até o teto por um período de duas a três semanas".

Soluções práticas

"A pergunta agora é: a educação agora vai virar que prioridade e para quando? Já na segunda semana do evento climático, os alunos começaram a entrar em contato com as suas universidades para cancelar a matrícula. Isso é assustador. Agora eu tenho alguém que não tem em casa, que não está gerando renda, que não tem emprego e também que não tem universidade. Precisamos dar soluções permanentes e não apenas soluções imediatas. Contudo, no momento de calamidade pública, agora se trata de cuidar do bem estar, da integridade dessas pessoas, mas estamos pensando a curto e médio prazo, que as pessoas possam ter uma esperança de continuar".

Perdas

"Alguns municípios, a exemplo dos que ficam ao longo do Rio Taquari, as escolas foram totalmente destruídas. Agora nós precisamos de escolas de campanha e numa outra modalidade. Há municípios próximos à grande Porto Alegre, inclusive em Porto Alegre, em que muitas escolas ficaram totalmente debaixo d'água. No município de Canoas, que é grande Porto Alegre, de 83 escolas municipais, 41 ficaram submersas por três semanas. E aí se perdeu material escolar, registros de secretaria, biblioteca, laboratório, se perdeu tudo".

Contenção de desastres

"O CNE está dialogando com vários ministérios e, principalmente, com essa secretaria especial para a reconstrução do Rio Grande do Sul, sob a liderança do ministro Paulo Pimenta, estamos dialogando com ele, questões como pesquisas para novos eventos climáticos. A exemplo do que já nos disseram os especialistas, que este foi o pior evento climático dos últimos 200 anos. Contudo, não é o pior evento climático que está para vir nos próximos 10 anos. Se não tivermos um plano de diques, um plano que dê segurança para eventos climáticos, a população não vai voltar para essa região alagadiça na beira dos rios e na beira dos diques. Então você vai ter que deixar esse espaço na beira dos rios, para que seja um espaço permanente das águas, e assim por diante".

*O jornalista viajou a convite da Abmes

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