O segundo e último dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ocorreu, ontem, com a aplicação de 90 questões, sendo 45 de matemática e 45 de ciências da natureza (química, física e biologia). Foram cinco horas para realizar a prova, que, este ano, completa 25 anos. Para muitos, a grande quantidade de cálculos dessa fase foi motivo de preocupação; para outros, a possibilidade de ter um desempenho melhor. No entanto, na avaliação dos professores, a avaliação contou com poucas contas e muito conteúdo conceitual.
No começo da tarde, quando os portões abriram, às 12h, estudantes, pais e vendedores ambulantes já se concentravam em frente à Universidade Paulista (Unip), na Asa Sul. Helena Stein, 18 anos, que estava acompanhada dos pais, relatou sentir mais facilidade com as disciplinas de exatas do que de humanas, algo favorável à sua escolha de curso, medicina. "Seria um presente eu conseguir ser aprovada nesta prova", comentou, aos risos, referindo-se ao seu aniversário, comemorado ontem.
A sirene, avisando sobre o término do exame, tocou às 18h30, mas os candidatos puderam sair com o caderno de questões meia hora antes. Helena saiu cinco minutos antes do fim e relatou estar com boas expectativas para o resultado. "A prova de ciências da natureza não estava tão difícil quanto eu pensei que estaria. Em matemática, infelizmente, não consegui organizar bem o tempo, então, não resolvi adequadamente algumas questões. No geral, gostei da prova e acho que me saí bem", detalhou.
"Tranquilas" foi como Vitória Melasso, 18, resumiu as questões do segundo dia de Enem. No Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), ela comparava suas respostas com as dos colegas, que também saíram com o caderno. "Tive mais facilidade que no primeiro dia. Matemática foi, de longe, a parte menos complicada", disse a estudante que quer ser aprovada em psicologia.
Já para Larissa Nascimento, 22, pensar em contas é motivo para ficar com os cabelos em pé. A jovem, que deseja passar para ciências sociais, fez o exame pela oitava vez, tamanha determinação em ser aprovada. "Gostei muito das questões e do tema da redação da semana passada, mas, para hoje (ontem), estou bastante nervosa", reconheceu, antes de entrar para iniciar a prova.
Quem também sentiu na pele o nervosismo foram as amigas Ester Cavalcante, 20, que veio de Fortaleza para fazer o exame, e Kelsy Gaviria, 22, que é venezuelana e pretende cursar letras no DF. Assim como Larissa, elas contaram que gostaram das provas de humanas e de linguagens, mas, para exatas, não se sentiam preparadas. "Não consegui estudar o quanto gostaria, então, não me sinto tão confiante", confessou Ester, que deseja se tornar fisioterapeuta.
Balanço
Em coletiva de imprensa, no final do dia, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apresentou as estatísticas da segunda fase. No Distrito Federal, 72.982 pessoas se inscreveram para a prova, das quais 50.279 estiveram presentes e 22.703 se ausentaram, representando 31,11% de abstenção, 4,11% a mais que no primeiro dia de prova, cujo índice chegou a 27%.
De acordo com o ministro da Educação, Camilo Santana, em 2023, houve, no total, 13,1% a mais de inscritos do que em 2022. No primeiro dia, 71,9% do total de candidatos compareceram para realizar a prova em todo o Brasil, havendo a abstenção de 28,1%. Além disso, 4.293 participantes foram eliminados e 905 foram afetados por problemas de logística.
Os inscritos que não conseguiram realizar a primeira etapa do exame foram autorizados a fazer a segunda fase neste domingo. No entanto, a assessoria do Inep explicou ao Correio que esses candidatos não poderão ter acesso aos resultados para pleitear os programas de educação superior que o Enem é porta de entrada. Assim, puderam fazer a prova na modalidade de trainee, ou seja, para testar seus conhecimentos.
Resultados
A previsão é a de que em 24 de novembro seja divulgado o gabarito oficial das provas. O resultado final com as notas dos candidatos está previsto para ser publicado em 16 de janeiro de 2024.
Os participantes que tiveram algum problema durante a execução da prova poderão fazer um requerimento para solicitar a reaplicação do exame ao Inep, entre os dias 13 e 17 de novembro. As novas provas serão realizadas em 12 e 13 de dezembro, no entanto estes pedidos serão analisados pela comissão responsável pelo Enem. Candidatos que perderam a prova por questões pessoais, como chegar atrasado, não serão contemplados.
O Enem avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. Ao longo de mais de duas décadas de existência, o exame se tornou a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e de iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni).
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Palavra dos professores
Logo após o final da prova, o Correio conversou com professores das quatro matérias abordadas no 2º dia de Enem. De modo geral, os educadores do Sigma avaliaram o exame como tranquilo e com questões bem elaboradas, exigindo do aluno conhecimento conceitual sobre os temas. Confira abaixo a análise de cada professor:
Professor de matemática, Paulo Luiz Ramos
"A prova teve muitas questões de geometria plana e espacial. É a matéria mais cobrada historicamente e, neste ano, não foi diferente. As questões, no geral, não ficaram muito fora do que é trabalhado no Enem. Está dentro da regularidade. Algumas diferenças foram que caíram mais questões sobre sequências. Um pouco mais do que é de costume. Além disso, nesta prova, todas questões de análise combinatória estavam juntas com probabilidade, o que não é comum ocorrer. É interessante pontuar que 80% da prova é feita com conhecimentos que você adquire no fundamental e no 1º ano do ensino médio. Os alunos do primeiro ano conseguem fazer uma boa prova como treineiro."
Professor de física, Paulo Ferrari
"Via de regra, foi uma prova de física simples. Menos da metade das questões de física tinha que fazer algum tipo de conta. A prova foi muito conceitual em saber os princípios por trás dos conteúdos. O segundo ponto é que a matéria do 3º ano costuma ter um volume razoável na prova, com cinco ou seis questões de circuitos. Neste ano, teve só uma questão sobre o tema e outra questão de eletromagnética, sendo que só questões das 15 foram de matéria do 3ª série. Mais da metade da prova de física, sendo oito das 15 questões, foi de matéria do 2º ano com destaque especial para a ondas, e caiu muito conteúdo básico da primeira série, como cinemática. Essa quantidade de questões sobre ondulatória não é novidade. É razoavelmente comum ter, mas este ano teve mais do que usual. De modo geral, foi uma prova razoavelmente simples com poucas questões de nível mais elevado dentro da física, o que é ruim para quem é um aluno de alto desempenho, porque os erros são menos perdoados."
Professora de química, Juliana Gaspar
"A prova de química deste ano veio com assuntos como ligação química e, na parte de química orgânica, foi explorada desde nomenclatura até a parte de tensoativos, reações e oxidação. Tivemos também funções inorgânicas sendo abordadas e propriedades coligativas. Uma surpresa foi o conteúdo de gases, que fazia tempo que não caia. Essa prova foi bem mais tranquila em relação ao ano anterior. Não tinham muitos cálculos, eram contas mais simples, apenas uma questão de estequiometria tinha um cálculo mais puxado. A parte teórica estava muito benfeita. As respostas, muitas vezes pelo enunciado, davam para ter noção de qual seria a resposta. Em relação aos conteúdos recorrentes no Enem, estequiometria, radioatividade, reações orgânicas e isomeria são conteúdos que vemos todos os anos e neste ano caiu de novo. A prova contou com questões dos três anos de ensino médio, mas tinha muito assunto da 1ª série."
Professor de biologia, Leonardo Carneiro
"Os temas mais abordados em biologia foram a parte de ecologia, botânica e metabolismo energético. A prova estava bem conteudista. A gente sempre fala com os alunos tomarem cuidado com ecologia, que é uma tema fácil, mas que devem ficar atentos na leitura. Temas como metabolismo energético, chamamos a atenção pela complexidade que essas questões devem ter. No Enem, as questões de ecologia são um carro-chefe. Ficou um tempo desaparecido e sem cair, mas voltou com força total agora. São temas que para os alunos irem bem na prova tem que ter se preparado bem no ano. Tivemos em torno de três questões que eu falo que foram mais complexas na interpretação, mas nada absurdo. De modo geral, achei a prova excelente, porque teve muitas questões, principalmente de ecologia, e eles tiveram a assertividade de pegar temas que abordaram os três anos de ensino médio. Foi uma prova bem elaborada."