ENEM 2023

Enem 2023: alunos relatam apreensão na véspera das provas

Estudantes enfrentam dilemas emocionais e desigualdades para o Enem 2023, que ocorrerá nos dias 5 e 12 de novembro. Profissionais apontam que o equilíbrio emocional será um fator importante para quem busca uma boa nota no exame

Vitória Torres
postado em 03/11/2023 22:15
Cerca de 4 milhões de estudantes realizarão o Enem 2023  nos dias 5 e 12 de novembro -  (crédito: divulgação/Estratégia Vestibulares)
Cerca de 4 milhões de estudantes realizarão o Enem 2023 nos dias 5 e 12 de novembro - (crédito: divulgação/Estratégia Vestibulares)
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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 será realizado nos dias 5 e 12 de novembro, com a participação de aproximadamente 4 milhões de estudantes. A pontuação obtida no exame pode ser usada para competir por vagas no ensino superior público através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e financiamentos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Com a proximidade do Enem, os alunos do ensino médio enfrentam os estágios finais da preparação, lidando com desafios emocionais, como ansiedade, receio e insegurança, que têm o potencial de impactar o desempenho dos candidatos.

Segundo pesquisa de 2022 do Datafolha, na véspera da prova do Enem, 34% dos adolescentes apresentavam dificuldade de controlar as emoções, 24% se sentiam sobrecarregados e 18% estavam tristes ou deprimidos.

A estudante Juliana Sales, de 17 anos, que cursa o terceiro ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio de Taguatinga Norte (CEMTN), compartilhou as preocupações como estudante de escola pública, das quais destacou ter sido afetada por greves de professores, por material programático incompleto e pela ausência da disciplina de redação na grade curricular.

“Eu me sinto super ansiosa e pressionada para essa prova. No colégio público, estamos numa posição desfavorecida por termos, por exemplo, greve dos professores. A gente não vê o conteúdo inteiro e fica tudo incompleto. Esse ano a gente não teve redação na grade curricular, simplesmente tiraram, sendo que todos os vestibulares tem redação, enquanto na escola não”, disse.

Estudante do terceiro ano do ensino médio no Colégio Objetivo, Nathalia Boaventura, 18, revela que o momento decisivo aumentou significativamente o nervosismo dela. São diversos os relatos de que o exame desencadeia um impacto psicológico nos estudantes, por ser uma prova com poder de impactar no futuro. "Eu me sinto ansiosa porque é uma prova importante e extensa. Já tive insônia e crises de ansiedade”, relata. 

Ao contrário da aluna de escola pública, Nathalia relata que a instituição de ensino particular onde ela estuda incluiu a disciplina de redação no currículo regular. Além disso, oferece a opção de se concentrar na prática de redação em um laboratório dedicado a essa finalidade.

“Nós temos aula de redação na grade regular da escola e também tivemos a opção de participar do laboratório de redação, que era voltado para prática das redações”, contou.

Estudante do terceiro ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio 414 de Samambaia (CEM 414), Yasmin Oliveira, 17, expõe que o nervosismo está começando a se manifestar, especialmente quando se trata da redação, por medo de tirar uma nota baixa ou zerar a prova. “É a primeira vez que vou fazer o Enem, então eu estou bem nervosa de chegar na hora e ficar aquela tensão, principalmente na redação, que é o que todos temem”, confessou a estudante.

Ela diz se sentir pressionada a obter notas específicas para ingressar no curso desejado. “Me deixa apreensiva tirar uma nota ruim ou zerar a prova, esse sentimento aumenta muito quando penso que se eu não tiver uma determinada nota, vou ter que estudar outra coisa ou pagar muito caro para fazer uma faculdade”.

Os alunos do Novo Ensino Médio

A reforma do ensino médio, sancionada em 2017, tem sido alvo de críticas desde sua implementação. O novo modelo inclui uma formação geral básica e aprofundamento em áreas específicas, mas os críticos argumentam que ele intensifica as desigualdades educacionais no Brasil, uma vez que a oferta dos itinerários formativos depende da capacidade das redes de ensino.

O anúncio do Ministro da Educação, Camilo Santana, de manter o Enem inalterado em 2024 gerou preocupações entre os estudantes. Muitos argumentam que, devido à carga horária reduzida das disciplinas tradicionais no novo ensino médio, podem enfrentar defasagens nos conhecimentos gerais necessários para o exame.

Estudante do segundo ano do ensino médio no Centro de Ensino Médio 01 no Riacho Fundo 1 (CEM 01), João Pedro Xavier, 17, expressa preocupações em relação ao próximo Enem. Ele enfatiza a necessidade de compensar o tempo perdido com conteúdos que não são ensinados na escola, o que o leva a estudar em casa para cobrir o material necessário.

“Muitas vezes eu chego em casa com cansaço mental. O que estamos aprendendo na escola não é o suficiente para a prova. Nós ficamos cada vez mais ansiosos por termos que dobrar o esforço. Eu tenho que render o tempo perdido, estudando em casa o conteúdo que precisaria ser passado em sala de aula”, enfatizou Xavier.

Estudante do segundo ano do ensino médio no Colégio Educacional Católica de Brasília (CECB), Nicolas Marques, 16, compartilha a diferença na estrutura educacional do colégio particular, elogiando os itinerários e eletivas que ajudam a descobrir os caminhos profissionais. Ele observa as preocupações dos professores, que relatam que a redução na quantidade de aulas prejudica o desenvolvimento das disciplinas, tornando difícil a conclusão do conteúdo.

“A estrutura do CECB faz muita diferença no ensino. Eu estou gostando dos itinerários e eletivas, ajudam bastante para descobrir qual caminho quero seguir. Os professores reclamam da quantidade de aulas ter diminuído por atrapalhar o desenvolvimento das aulas da disciplina. O conteúdo não mudou, continua extenso da mesma forma, só que agora a quantidade de aulas é menor. Por isso, chega no final do ano e tem professores que não conseguem terminar o conteúdo", explicou.

 

O professor de química no Centro de Ensino Médio 05 de Taguatinga, Arthur Carvalho, 23, aponta o prejuízo na qualidade do ensino devido a redução da carga horária em disciplinas básicas para dar espaço ao itinerário formativo. “Houve uma redução de carga horária, principalmente, de química, física, biologia, geografia, história, filosofia e sociologia para implementação do itinerário. Os alunos fazem uma quantidade que não era necessária”.

Carvalho menciona também a disparidade entre alunos de escolas públicas e particulares, o impacto da mudança no Enem e a importância de priorizar a saúde mental dos alunos em relação às pressões dos processos seletivos.

“Com certeza vai afetar a preparação dos alunos para a prova. Há uma disparidade muito grande entre os alunos da educação pública e os alunos da educação particular quando falamos de ensino básico. Eu, como professor, gostaria que meus alunos se sentissem capacitados e seguros para fazerem o processo seletivo. É muito mais uma questão de autoconhecimento em compreender nossa própria saúde mental, do que ter domínio pleno de conteúdo e, infelizmente, poucos alunos conseguem compreender isso”, afirmou o professor Arthur.

Saúde mental na prova

De acordo com a psicóloga clínica Juliene Azevedo, é fundamental lembrar que o Enem não é apenas um teste de conhecimento, mas também um teste de equilíbrio emocional. A pressão está muitas vezes relacionada aos desejos dos próprios estudantes e às expectativas dos pais. Ela ressalta que a ansiedade patológica não surge do dia para a noite, mas se desenvolve gradualmente quando os cuidados básicos são negligenciados, como a higiene pessoal e o sono.

“Não é normal quando a gente deixa de fazer coisas da nossa funcionalidade, por exemplo, tomar banho, escovar os dentes ou ter um branco na prova. O que pode ser feito para diminuir a ansiedade é ter uma boa alimentação, beber muita água, frequentar lugares que tenham natureza, ser feita uma higiene do sono e não estudar um dia antes da prova. Então, para o aluno que vai fazer o Enem no domingo, ele tem que tentar manter um equilíbrio emocional”.

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