Preparar-se para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige uma rotina intensa, principalmente para aqueles estudantes que querem a aprovação em cursos mais concorridos, que, segundo dados do primeiro semestre de 2022 do SiSU, são medicina, direito, ciência da computação e engenharias da computação e civil.
A professora Regina Sucupira, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), aponta que o mercado de trabalho é um fator preponderante na escolha de carreira pelos jovens: "Os vestibulandos estão mais atentos às áreas que mais demandam no mercado de trabalho. Tirando medicina, que segue como curso mais concorrido, a internet tem mais força no trabalho de hoje".
Ana Alice de Oliveira está no terceiro ano do ensino médio no colégio Sigma, pretende cursar direito na UnB e admite que existem pressões envolvendo a preparação para os processos seletivos. "Eu brinco com meus pais que, nesta fase, a escola está sendo a minha segunda casa, mas entendo também que é um período de muita dedicação. Traz essa disciplina de estudo e fazer provas antigas nos deixa mais preparados e seguros", afirma. Para lidar melhor com as pressões e a autocobrança, a estudante busca o equilíbrio da rotina de estudos com a vida social. "Tem que ter muito estudo, mas eu também valorizo tempo para amizades e momentos em família, até para criar uma rede de apoio. Neste momento tão estressante, isso é muito importante para que a gente tenha um resultado positivo na prova", diz.
Hobby
Candidato ao curso de medicina, Matheus Borraz começou a pensar na carreira há alguns anos, quando uma consulta com um pediatra despertou seu interesse sobre a área. "Grande parte da minha família é de médicos, então eu fui aprendendo mais sobre como é a medicina e me apaixonei cada vez mais por cuidar de pessoas, tratar doenças", argumenta. Ao mesmo tempo que se dedica aos estudos para o vestibular, o aluno do 3º ano do ensino médio do Sigma conta que encontrou na academia a maneira de relaxar: "sobra tempo apenas para eu fazer academia e malhar, que é o meu hobby".
Pyeto Disegna também termina o ensino médio este ano e está se preparando para ingressar em engenharia da computação na UnB ou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Sempre tive interesse na área de tecnologia, tanto na parte física do computador, quanto na parte de software. Quando fiquei sabendo que a engenharia da computação juntava as duas partes, decidi que tentaria esse curso", conta. Ele se concentra na preparação para o vestibular durante a semana, ficando todos os dias na escola após as aulas regulares. "Durante o período de estudo, eu faço as fichas de questões do Enem que o curso disponibiliza ou para as provas da escola, então, sobra tempo para fazer outras coisas no fim de semana", explica.
Neste ano, as provas do Enem ocorrerão entre 5 e 12 de novembro, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. A psicóloga Regina Sucupira avalia que, neste momento, a preparação deve ter alcançado um ponto crucial do estudo, o de revisão. "Os estudantes devem se conscientizar da preparação desde o início do ano, nas vésperas, eles têm que revisar", diz.
*Estagiária sob a supervisão de Priscila Crispi
Saiba Mais
Enem se consagra como principal forma de entrada em universidades brasileiras
A primeira aplicação do Enem ocorreu em 1998, registrando 157.221 inscritos. Hoje, já são mais de 3,9 milhões de estudantes em busca de oportunidades. A avaliação é a principal forma para o ingresso em cursos de graduação no Brasil. As notas garantem vagas em universidades públicas, bolsas de estudos e financiamentos para estudantes em instituições privadas ou comunitárias, a depender da pontuação atingida.
Vemos, após 25 anos de aplicação, uma mudança social. Na primeira edição, por exemplo, apenas 9% dos estudantes eram de escolas públicas, enquanto neste ano são mais de 63%. No início, apenas duas instituições utilizavam a nota, o que em 1999 mudou, chegando a 93 universidades. A partir dos anos 2001, as inscrições passaram a ser computadas, rendendo 1,6 milhão de inscritos e garantindo acessibilidade.
Do total de inscritos deste ano, comparado com a edição anterior, o número aumentou 13,1%; em relação a 2021 o crescimento é ainda maior, de 14,2%. Agora, uma informação recente é o incentivo de grupos que não são do terceiro ano em realizar a prova, o que sugere uma maior esperança da população em conquistar vagas de programas federais, tais como: SiSU (universidades públicas), Prouni (privadas) e FIES (privadas e comunitárias) diante da mudança de governo.
Na primeira edição do exame, apenas 184 cidades brasileiras aplicaram a prova. Hoje, cerca de 1,7 mil municípios realizam o exame. Este é um dado muito importante, para garantir a oportunidade de acesso do inscrito, já que o exame é feito no município de residência da grande maioria dos estudantes. A esperança e o desejo do ingresso no ensino superior em alta após quedas sucessivas é, sem dúvida, uma inflexão positiva nos dados.
A versão digital do Enem ocorreu apenas entre os anos de 2020 e 2022, com o objetivo inicial de reduzir os custos, mas por conta da baixa demanda neste modelo, o exame digital ficou para o MEC, que cancelou essa dinâmica.
Com o orçamento federal proposto pelo novo governo, em 2024, a responsabilidade e o desafio de garantir a perenidade desta inflexão e de transformar a esperança de acesso em acesso garantido pertence à gestão atual. E não é papel exclusivo do MEC (Ministério da Educação), mas também do Ministério da Fazenda, do Tesouro Nacional, do FNDE e do Congresso, de uma forma geral.
Rodrigo Bouyer,
avaliador do Inep e sócio da Somos Young