Temida pelos candidatos, a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é sempre um desafio a ser enfrentado durante a realização da prova. Mas para a moradora de Itapiranga, interior do Amazonas, Rilary Coutinho, 18 anos, a nota 1.000 foi conquistada com muito empenho, sem cursinho e sem internet em casa. O resultado foi recebido com um misto de surpresa e êxtase pela amazonense que estudava apenas para os programas da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Ela pretende cursar engenharia civil por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), cujas inscrições começam nesta quinta-feira (16).
"Com mais de 40 alunos, as salas de aulas da Escola Estadual Tereza dos Santos, onde fiz o ensino médio, sempre estavam superlotadas, fator que impossibilitava os professores dispensarem a devida orientação educacional a todos", conta a jovem. “Ficava difícil atender, em particular, todos os estudantes da sala. Então, eu me dedicava ao máximo para absorver as temáticas principais e me especializar nos assuntos em casa”, completa.
O livro Acerta Mais Enem e as demais publicações didáticas oferecidas pela instituição foram os principais aliados para Rilary garantir um bom resultado na redação e em outras seletivas universitárias. A estudante sempre estudou sozinha em casa até as 22 horas. Na escola, o período era integral, das 7h às 16h.
Sucesso em outras avaliações
Além do excelente desempenho no exame, a estudante ainda se destacou no vestibular para o qual vinha se empenhando há muito tempo. Porém, os 1.890 km que separam sua cidade natal e Boca do Acre, onde fica um câmpus da UEA, impediram Rilary de iniciar antes sua vida acadêmica.
Ela conta que no início do ano perdeu sua vaga no curso engenharia de materiais, pelo Vestibular 2023 Macro da UEA, por não ter condições financeiras para custear a passagem e se matricular na instituição. A estudante depende da aposentadoria da avó e mora também com o irmão mais velho, de 24 anos, que não trabalha e dedica seu tempo aos estudos.
Com personalidade introvertida, a estudante menciona que os estudos sempre foram seus melhores amigos e que, por esse motivo, seus colegas de turma começaram a se afastar, principalmente pelo fato dela abdicar do fim de semana para seguir rígido cronograma de estudo. Por morarem no interior e não enxergarem oportunidades futuras de se desenvolverem em instituições de ensino federais, ela lembra que seus colegas de turma consideravam um desperdício investir na aprendizagem.
“Sempre ouvia deles que ‘nenhum estudo leva a sair de Itapiranga’, por ser uma cidade do interior. Eles não acreditavam que valia a pena. Independente disso, sempre investi nos estudos”, afirma a jovem, que aposta todas as fichas nas oportunidades acadêmicas que estão por vir.
Num futuro próximo, Rilary pretende fazer pós-graduação no exterior. A estudante comenta que não sabe ao certo qual país escolheria para fazer um intercâmbio, mas está decidida a aprimorar seu inglês.
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende