Provas entregues. Silêncio. Caneta em mãos. Pronto. A ansiedade torna-se a protagonista do momento, um bicho de sete cabeças tão assustador como aquele conteúdo complicado de aprender. De que forma concentrar-se assim? Sem dúvida, é quase impossível sentir-se plenamente tranquilo, no entanto, priorizar rituais de autocuidado dias antes pode ser bastante benéfico para mente e corpo.
Certamente, trata-se de um exame importante, concorrido e com grande peso para o futuro. “Porém, é relevante lembrar que essa é mais uma seleção de tantas outras, vivenciadas tanto na infância quanto na adolescência. A vida é feita de decisões, de provas e de seleções, para todos”, pondera a psicóloga clínica, especialista em infância e adolescência, Elen Alves.
Assim, refletir como lidou com tais situações anteriormente — frustrava-se com facilidade? Deixava a ansiedade tomar conta dos ânimos? — é um bom começo para repensar o que precisa ser mudado agora, a fim de encarar o Enem com mais calma.
Orientações práticas
Vale destacar que na proximidade da prova, principalmente três dias antes, é essencial dedicar o tempo a atividades que reduzam angústias. “Saia com os amigos, ouça uma boa música, pratique esportes. Dê preferência ao ar livre e desligue-se um pouco das preocupações”, complementa Elen Alves.
Ainda que seja difícil, evite falar sobre o exame com os demais colegas que o farão, visto que isso pode motivar crises de ansiedade e causar o sentimento coletivo de mal-estar. Em casa, organização e planejamento devem ser considerados, então: separe canetas e documento pessoal; prepare o lanche a ser levado; e certifique-se do local da prova. Neste último caso, a depender da distância, programe-se para chegar no horário.
E, por fim, não se compare, afinal questionar a própria capacidade em detrimentos da dos demais não ajuda em nada neste momento. “Até porque cada um tem as suas condições para poder se preparar e para estudar; Confie na sua competência e nível de aprendizagem”, conclui a psicóloga.
Dica de revisão da psicóloga
Faltando cerca de cinco dias para a prova, vale verificar tudo o que anotou durante os estudos e fazer uma espécie de conversa consigo mesmo, como se estivesse ensinando o que aprendeu. Além de auxiliar na memorização dos conteúdos, isso pode ajudar a aumentar a confiança.
Atenção à alimentação
Conforme explica a nutricionista Victoria de Castro, é preciso ter equilíbrio entre o consumo de carboidratos, proteínas e gorduras, para que todo o corpo funcione de forma adequada antes e durante a prova. Assim, pensando especificamente no desempenho satisfatório do cérebro, a ingestão de carboidratos não deve ser negligenciada, por ser substrato cerebral. O ideal, entretanto, é dar preferência ao consumo daqueles integrais, associados a uma boa fonte de proteína ou de gordura.
Frutas e verduras são essenciais quando o assunto é adquirir nutrientes. Consumi-las ao longo do dia, de forma variada, é uma ótima estratégia. No caso das verduras, dê preferência para fontes da cor verde escuro, dado que são fontes de ferro.
A ingestão de doces em excesso, por outro lado, deve ser evitada, poiscausam sede intensa, em vista do excesso de açúcar, e têm alta quantidade de gordura, “o que faz o corpo focar na digestão e não no funcionamento do cérebro”, destaca. Por fim, não esqueça de manter-se adequadamente hidratado.
Dica de refeição e lanche da nutricionista
No dia da prova, é importante fazer uma boa refeição, para evitar a fome. Veja opções de pratos saudáveis e nutritivos:
Opção 1: arroz + feijão + peito de frango + cenoura + couve
Opção 2: macarrão integral + tomate + brócolis + carne vermelha magra
Na hora da prova, o foco deve ser em alimentos que demandem o mínimo de esforço para serem ingeridos, assim como tenham a digestão mais lenta para não dar picos de energia, mas, apenas, manter o rendimento:
Opção 1: sanduíche natural feito com pão integral + queijo branco + uma fruta
Opção 2: Fruta + chocolate 70%
Autocuidado em primeiro lugar
Veja dicas de estudos e, principalmente, de autocuidado que alguns dos candidatos do Enem:
Helena Santos: a estudante de 17 anos almeja passar em medicina veterinária e, apesar de estar se dedicando muito aos conteúdos, não deixa de lado seu bem-estar. Por isso, costuma intercalar momentos de estudos com pausas mais prazerosas, entre estas, ir à academia, atividade que valoriza. Além disso, gosta de praticar meditação e conta com uma rede de apoio bastante eficiente: sua família.
Para ela, não adianta se debruçar sobre os estudos dias antes da prova, visto que isso gera cansaço e ansiedade. Pretende, então, relaxar e manter a tranquilidade. Sua recomendação é que cada um busque na própria rotina atividades que tragam paz e, ao descobrirem, que as exercitem. Para o momento do exame, levará como lanches chocolates, castanhas e barras de cereal.
Filipe Araujo: com 18 anos, o jovem deseja passar em medicina e, devido à concorrência e às altas notas de corte para ingressar no curso, considera a possibilidade de cursá-lo fora de Brasília. Este é seu primeiro ano estudando exclusivamente para o Enem, porém já realizou a prova duas vezes de maneira oficial e uma vez como treineiro. Para a semana do exame, pretende revisar o necessário com redução de tempo e tirar um tempo para si.
Para ele, tal preparação pode proporcionar momentos de ansiedade e crises existenciais, por isso, possui alternativas de autocuidado. “Acredito que para fazer uma boa prova, além da preparação curricular, é necessário estar bem emocionante e, por isso, busco sempre estar perto dos meus amigos e familiares, essenciais para o meu emocional sadio”, conta. Como hobby, costuma-se apegar à leitura e, às vezes, pratica algum esporte.
Cleyton Silva: aos 18 anos, o estudante atualmente cursa odontologia na UnB, mas almeja mesmo entrar para medicina, seja em Brasília, seja em outro estado. Esta será a terceira vez que realiza o Enem, o qual se dedica há cerca de dois anos. Nas últimas semanas, seu foco está em fazer questões das edições passadas e treinar a redação, mas, para os dias antes da prova, planeja relaxar. “Já estudei demais o ano todo, então, para o exame, é preciso estar descansado”, desabafa.
Assim como os demais colegas, concorda que a seleção é motivo de ansiedade. O que tem funcionado para o jovem, enquanto autocuidado, é prestar atenção ao físico, mantendo uma boa rotina com exercícios, além de, no geral, não deixar a vida pessoal de lado, mesmo focado nos estudos. Por fim, acrescenta que sair com os amigos lhe ajuda a ficar com a “cabeça fria”.
Murilo Omni: o estudante de 17 anos realizará o Enem pela primeira vez este ano, visando cursar medicina, e afirma não se imaginar, no momento, estudando em outra universidade que não seja a UnB. Diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada, o jovem confessa ter dificuldades para estudar e manter o foco. Devido a isso, realiza acompanhamento psiquiátrico e terapêutico, além de tomar medicação.
“Tenho tentado estudar de várias formas: lendo, fazendo resumos e questões de vestibulares passados, assistindo a videoaulas e até escutando podcasts, algo que aprecio”, descreve. No que tange ao autocuidado, também realiza atividades físicas (natação e academia) e sente-se muito bem quando canta, já que adora música. Da família, recebe bastante apoio e cuidado, necessidades que lamenta não serem “privilégios” de todos os estudantes.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte