Emanuelle Severino, 20 anos, e Carolina Barros, 21 anos, hoje celebram um feito histórico e almejado por todo estudante que fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem): o de tirar nota máxima na redação. Emanuelle é de Belo Horizonte (MG) e sonha em fazer medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já Carolina é de Juiz de Fora (MG) e compartilha do mesmo sonho que a conterrânea.
Carolina fez o Enem pela terceira vez no ano passado, e não é a primeira vez que comemora o feito, já que conseguiu gabaritar a redação do exame pela segunda vez, sendo a primeira em 2019. Já para Emanuelle este é o seu quarto Enem, porém também é o terceiro como candidata de fato, uma vez que o seu primeiro foi como treineira.
Para este ano, Emanuelle resolveu implementar uma rotina de estudos recheada. Assim que assistia às aulas de manhã, o que consistia em cinco horas diárias, ela ainda usava seu tempo à tarde para fazer exercícios e estudos complementares.Emanuelle conta ainda que produzia de duas a três redações por semana, seguindo as recomendações do cursinho preparatório onde estava matriculada, o Bernoulli, e aos finais de semana realizava simulados preparatórios para o Enem.
Em toda essa preparação, a garota conta que foi um período de altos e baixos: “Tinha dias que ficava super confiante, que achava que daria super certo, e outros que eu achava que daria errado, que eu não conseguir”. Porém, mesmo assim, ela seguiu em frente, contou com o apoio de pais, amigos e professores e foi fazer a prova. Embora tenha tido todo o preparo possível, Emanuelle confessa ter se surpreendido com o tema da redação. “Eu fui fazer a prova confiante, qualquer coisa que viesse eu ia escrever, mas quando vi o tema, eu fiquei surpresa, nunca tinha pensado no assunto”, disse.
O tema foi “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, e gerou bastante discussão entre os estudantes depois da aplicação da prova. Mas, mesmo com a surpresa, a estudante disse não ter sentido muitas dificuldades em produzir o texto, e aproveitou de boas referências para embasar sua argumentação no texto, como dados que refletem a desigualdade social no país e alusões ao modelo democrático da Grécia Antiga.
Agradecida pelo apoio e satisfeita com todo o seu esforço e dedicação, Emanuelle comemorou bastante a sua conquista. “Eu fico muito feliz, muito emocionada. Eu não tenho palavras. Parece um sonho”, comenta. Ela também incentiva que outros jovens brasileiros continuem firmes nos estudos e tentem o Enem de novo nos próximos anos também. “O negócio é persistir e não desanimar, porque em um ano as coisas podem mudar muito”, disse.
Carolina, assim como Emanuelle, também fez cursinho no Bernoulli, e seguia a mesma rotina de produção de textos, que também complementava com diversas leituras nos fins de semana, buscando referências que pudessem ser usadas na redação, além de filmes e músicas. Ela conta que a redação era seu foco maior para o Enem 2021, já que na primeira vez que fez o exame, em 2019, foi algo no qual ela teve um processo de preparação bem mais difícil de lidar. “2021 foi um ano que eu resolvi focar bem mais no conteúdo da redação porque o Enem tem trazido uns temas que assustam os estudantes de primeira”, conta.
Para ela, o ensino remoto no cursinho preparatório teve seus prós e contras. Pois mesmo não tendo que se deslocar para Belo Horizonte para seguir seus estudos, o fato de estudar sozinha, em casa, sem contato com colegas para poder prestar um auxílio emocional foi algo bastante difícil de lidar para ela. “É necessário ter um controle emocional muito grande para fazer o Enem, o ponto-chave é como o nosso psicológico fica no dia”, disse.
Sua experiência em 2019 a ajudou bastante para se preparar em 2021, contudo, ainda ficou preocupada com o tema, já que, assim como Emanuelle, ela foi pega de surpresa também: “Eu não saí tão confiante da prova, eu achei uma discussão importante, mas muito complexa, eu não esperava, foi uma surpresa muito grande. Tanto que saí da prova com o coração apertado”, relata. Mesmo preocupada com a redação, Carolina conseguiu a tão sonhada nota mil, e pela segunda vez, conseguiu um feito bastante surpreendente e que ficará para a história da Educação brasileira, o que, para ela, é um privilégio imenso. “Na hora que eu vi foi um misto de choro, de riso, de tentar entender o que estava acontecendo. Foi a sensação de não acreditar que o raio caiu duas vezes no mesmo lugar”, conta.
Marcelo Batista, professor de redação do Bernoulli, e que deu aula para ambas as alunas, disse se sentir privilegiado por saber que conseguiu trabalhar bem com pessoas de tanta qualidade, a ponto de conseguirem chegar ao grande feito de gabaritar a redação do Enem. Ele mesmo conta que ambas já apresentavam um perfil de alto rendimento, que eram alunas dedicadas. “Elas produziam tudo que era proposto, e sempre com uma rotina de notas que era muito semelhante à nota mil do Enem”, conta.
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Marcelo fez menção também às dificuldades que o ensino remoto proporcionou, e a como as normas de correção das redações têm ficado mais rígidas ao longo dos anos, o que pode ter causado muitas dificuldades aos alunos na realização do Enem deste ano. Ele também se sentiu surpreso com o tema, contudo, ele achou interessante pelo fato do Enem ter mantido uma variedade de abordagens ao longo dos anos, e que este, uma vez relacionado à cidadania, foi um assunto importante para se refletir.
Mesmo assim, ele não esconde sua alegria ao ver duas de suas alunas conseguindo chegar à marca dos mil pontos na redação do Enem. “Para o aluno conseguir um resultado tão bom, ter uma qualidade tão boa na redação, tem que ser alguém que se dedica demais, e é gratificante poder trabalhar com esses alunos que estão se esforçando para alcançar o melhor resultado possível”, disse.
*Sob a supervisão de Ana Sá