Enem

"Nota mil" da redação do Enem diz que escrever sempre foi "um sofrimento"

Treinamento e domínio da estrutura de texto foram fatores fundamentais para que a cearense Cássia Aguiar se destacasse na prova

Mariana Andrade*
postado em 22/02/2022 19:31 / atualizado em 22/02/2022 21:21
 (crédito: medalha de Bronze: Colégio Master Fortaleza/Reprodução)
(crédito: medalha de Bronze: Colégio Master Fortaleza/Reprodução)

A tão sonhada nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) alegrou os dias da jovem de 18 anos, Cássia Carolina Aguiar, que revela nunca ter sido fã da expressão escrita. Com a plataforma sobrecarregada com acessos de vários candidatos ao redor do país, atrapalhando os planos da estudante em consultar as notas, Cássia decidiu dormir mais cedo. Porém, perto da meia-noite, acordou com as mensagens de um amigo que queria saber sua nota. “Ele estava mais ansioso do que eu”.

Ela passou então, ao amigo, seus dados de acesso para que ele conferisse sua pontuação. Em seguida, recebeu a notícia que havia alcançado nota mil na redação. “Ele ficou muito feliz, acho que até mais do que eu. Porque na hora de receber a notícia eu não tinha noção de que tinha sido um mil”, revela Cássia. Mas foi no dia seguinte, conta ela, que “a ficha caiu”. Foi quando os colegas da escola a receberam com uma “avalanche” de parabéns. “Eu não estava nem acreditando”, conta Cássia, que coleciona importantes medalhas da área de exatas. Foi ouro na Olimpíada Brasileira de Física (OBF, no 9º ano do ensino fundamental), ouro na Olimpíada Brasileira de Química (OBQ, no 3º ano do ensino médio), e bronze na Olimpíada Internacional de Química.

Cássia afirma que uma boa redação deve ser pautada por métodos que podem funcionar para determinadas pessoas, mas que, ao mesmo tempo podem não ser ideais para outras. “No meu caso, o tempo de escrita era um obstáculo, mas foi o amor que tenho pela leitura que me ajudou a adquirir a habilidade necessária”, revela. “Tenho boas lembranças com os livros, algo compartilhado com uma amiga próxima, que sempre me incentivava e emprestava alguns títulos para depois comentarmos”, conta.

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. (foto: Arquivo pessoal)

Cássia afirma que caso peçam para ela escrever uma redação hoje, ainda vai achar difícil, se estressar e não conseguir pensar direito. “Nunca fui fã de fazer redação, e até agora eu acho que não sou”, diz. Ela diz que está aliviada de ter conseguido uma boa nota no requisito no Enem, pois não queria enfrentar essa situação novamente. “Para mim, isso era um sofrimento”, afirma.

Para Cássia, o tema da redação do Enem 2021 - “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil” - não foi nada fácil. Mesmo assim, conseguiu desenvolver o tema com desenvoltura. “Um dos motivos de ter me saído bem é que conhecia bem a estrutura de uma redação e, independente do tema, dava para escrever uma redação boa. Mas não esperava tirar nota mil”.

Segundo Cássia, o fato de redigir uma redação por semana a auxiliou muito na questão de controle do tempo. “No início demorava muitas horas, mas até o dia da prova conseguia terminar em pouco mais de duas horas. Foi uma evolução crescente”, comenta.

Ela recomenda aos colegas a inserir a prática e análise de “provas mil” de edições anteriores na rotina de estudo, pois foi desta forma que conseguiu extrair a estrutura do texto. Cássia comenta ainda que teve sorte de ter acesso a corretores de redação: “Toda semana corrigia a redação com uma corretora diferente, então eu pude ter várias perspectivas. Cada uma me ensinou uma coisa importante”, revela.

Atualmente, o sonho da jovem é cursar medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela pensa em se especializar na área de geriatria, pois pretende usar seu conhecimento para cuidar da família e de seus professores. “Medicina foi uma escolha recente. Antes me dedicava a vestibulares militares como do Instituto Tecnológico de Aeronáutica e do Instituto Militar de Engenharia, além de estudar para a Olimpíada de Química no Japão”, lembra.

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. (foto: Arquivo Pessoal)

Ela conta que ao fim da sua participação nas olimpíadas, ainda tinha dúvidas em relação a vida profissional, mas sabia que não queria mais concorrer nos vestibulares militares. Cássia chegou a cogitar cursar Ciências Moleculares na Universidade de São Paulo (USP), mas a distância de casa era um grande problema. “Eu sentiria falta da minha família. Tenho aqui dez gatos, muito amor por todos eles, e acho que eu ia ficar um pouco triste indo para longe”, confessa.

Lembra ainda que biologia química era uma de suas matérias favoritas no ensino médio, por isso sempre estudou bastante a disciplina. Além disso, estava à procura de um curso que oferecesse diversas possibilidades de carreira e viu na medicina uma forma de crescer, de se realizar profissionalmente. O que resta para agora para Cássia é aguardar a abertura das inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para tentar uma vaga na Universidade Federal do Ceará (UFC).

 

*Estagiária sob supervisão de Jáder Rezende

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