Ainda incerto, o cronograma do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 tem recebido críticas e causado tensões entre estudantes, professores e entidades da educação, apesar de o Ministério da Educação (MEC) ter afirmado que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) trabalha para que as provas sejam aplicadas ainda este ano.
O comunicado veio após informação de que o presidente da autarquia, Danilo Dupas Ribeiro, teria informado ao Conselho Nacional de Educação (CNE) que a prova seria aplicada somente em 2022 por falta de recursos. O Inep ainda ressalta que há recursos para realizar o exame em 2021.
Nas redes sociais, estudantes e entidades estudantis subiram a hashtag #FicaENEM2021, contra o adiamento da prova. Internautas também criticaram os cortes orçamentários nas instituições federais.
Sensação dos estudantes é de medo e desânimo
Thayane Nunes, 18 anos, é uma entre os milhões de estudantes que pretendem fazer o Enem em 2021. A jovem de Teresina (PI) relata que a reação dela, assim como a da maioria da turma, foi de desânimo. “É muito cansativo pra gente ter que passar o ano inteiro estudando para fazer o enem em janeiro fevereiro”, explica.
“Por um lado é bom porque sobra tempo para estudar mais, só que ao mesmo tempo é cansativo, a ansiedade aumenta e é muito chato ficar estudando para uma coisa que você não sabe quando vai ser”, declara a estudante.
Na dúvida entre psicologia e direito, ela teme não conseguir entrar na universidade devido ao corte de verbas. “Se aconteceu na UFRJ, que é uma das maiores do Brasil, quem sabe se não pode acontecer na UFPI (Universidade Federal do Piauí) ou na Uespi (Universidade Estadual do Piauí)?”, destaca. “Eu fico com medo, dá vontade de desistir, mas tenho esperança”.
Para ela, a esperança de que a voz dos estudantes seja ouvida está nas redes sociais. Mesmo assim, Thayane aponta que a opinião dos estudantes não é de importância para o governo e cita o exemplo da consulta pública sobre a data do Enem 2020, quando a organização seguiu o voto da maioria.
Ubes convoca estudantes para luta contra o adiamento
“Eu, como estudante de pré-vestibular, acredito que só a luta muda a vida. Apesar de ser um momento muito difícil, se a gente não lutar, se a gente não barrar, se não for contra essas medidas, aí mesmo que fica mais fácil para eles que nós chamamos de inimigos da educação”, declara a presidente da União Brasileira dos Estudantes (Ubes), Rozana Barroso.
Em nota, a Ubes, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) convocaram estudantes para mobilizações em 29 de maio.
“Além de novamente estarmos inseguros em relação ao Enem, nós, estudantes, vivemos um desmonte geral da educação. O que significa para a sociedade hoje, e para as futuras gerações, universidades públicas e institutos federais “fecharem suas portas”? Logo essas instituições que realizam pesquisas tão essenciais para o combate à pandemia”, aponta o texto da nota.
Rozana afirma que os cortes nas universidades, junto com o adiamento do Enem, cria “um corpo de destruição”. “Quem já está lá (na universidade) querem tirar e, quem não entrou, eles querem impedir de entrar”, afirma. Ela ainda aponta que “não há Brasil que supere a crise da pandemia do coronavírus se a educação não estiver no centro do debate”.
Adiamentos geram incertezas e desmotivam alunos
Rubenilson Cerqueira, professor do Galt Vestibulares e doutorando da Universidade de Brasília (UnB), comenta que esses adiamentos, juntos aos cortes na educação, geram muita angústia por parte dos estudantes e exige uma capacidade maior de motivar por parte dos professores. “Já estava difícil pensar em como entrar na universidade, aí chega em um ponto que, quando você ingressa, a universidade já está sucateada ou pode nem estar trabalhando com o mínimo”, afirma.
“É quando a gente vê que, na verdade, a educação está sendo posta sempre no segundo plano”, comenta o professor. “Isso impacta em muitas coisas na produção de ciência e na capacitação de novas mentes”.
Segundo o professor, o exemplo do Inep é prova de que “a crise na educação é feita em vários pontos”. Isto é, desde a educação básica até o ensino superior. Ele acredita que, para manter alguma motivação diante das incertezas, a alternativa é se agarrar às oportunidades que a universidade pode trazer. Para além disso, é preciso acreditar na educação como fator de mudança social e cobrar esse direito.
Para Pedro Rocha, gerente pedagógico da Pensi, o papel dos professores agora é tentar passar tranquilidade para os estudantes. Ele afirma que notícias como essas do Enem pegam os alunos de surpresa e fazem com que eles recorram aos professores.
“É muito ruim para o emocional dos nossos alunos que estão já sensíveis por conta de toda essa questão de pandemia, por conta de adiamentos”, conta. O docente comenta que a forma como são passadas as informações sobre esses vestibulares, por vezes de forma incorreta, geram impactos nos alunos.
Mesmo assim, ele ressalta que, nesse momento, o melhor é tentar se manter calmo e preparado para a prova independente da data. Ele afirma que é necessário professores e alunos reajustem os cronogramas para estarem juntos até o momento da prova.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá