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ARTIGO

Enem digital: um caminho sem volta

Professora do Colégio Marista Asa Sul Akemi Vidigal analisa as tendências para o exame a partir da experiência mais recente, marcada por alta abstenção e primeira aplicação on-line

Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 - nas versões impressa, digital e reaplicação - trazem à tona muitas reflexões acerca da prova aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Nesta edição, o Brasil viveu a primeira experiência de provas em formato digital. Como toda inovação, temos pontos positivos e negativos a serem avaliados no inexorável processo de mudança de avaliação dos alunos que concluíram a Educação Básica do país e pretendem ingressar em uma universidade.


De acordo com o Inep, no segundo dia de prova houve uma abstenção de 71,3%. O próprio instituto atribui a pequena participação dos alunos a inúmeros fatores tanto logísticos (instalações inadequadas e falhas em equipamentos eletrônicos) quanto imponderáveis (suspeita ou infecção dos candidatos pelo coronavírus e outras doenças infectocontagiosas).


Recorrendo à memória, o Enem foi criado em 1998 para avaliar o desempenho dos estudantes do Ensino Médio, uma espécie de teste de proficiência. A partir de 2009, as notas do exame passaram a ser usadas como forma de acesso ao ensino superior, tendo o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) papel fundamental na alocação dos candidatos nas vagas disponíveis em todo o país.


Mas, nessa trajetória, nem tudo foram flores. Em diversas edições, o Enem foi alvo de inúmeras críticas devido às diversas dificuldades de se realizar uma prova única em um país com dimensões continentais como o Brasil. Impressa por uma única gráfica, as provas precisam percorrer longas distâncias até chegar aos destinos onde são aplicadas. Nos trajetos já realizados não foram poucas as denúncias de extravio ou até mesmo de atrasos nos cronogramas de entregas, deixando uma nebulosa de dúvidas pelos caminhos.
A cada edição, ao mesmo passo em que os problemas foram surgindo soluções foram apresentadas e o Enem foi se aprimorando até tornar-se um vestibular unificado. Hoje, as notas do exame podem abrir portas em universidades públicas, particulares e até mesmo servir para o ingresso em instituições de ensino no exterior.


A estimativa do Inep é que em 5 anos o exame no formato digital será único no país. Uma mudança inevitável, que tem como um dos fortes argumentos a favor da transformação da prova a economia de aproximados R$500 milhões, somente em papel, a cada edição. E para que a aplicação das provas por meio de computadores seja tão bem-sucedida quanto o tradicional devemos ser corresponsáveis pelo processo de mudança.


Os organizadores da prova também precisam provar, a exemplo do que ocorreu no Enem tradicional, a sua capacidade de garantir a inviolabilidade do conteúdo das provas, se precavendo de todas as formas de ataques de hackers. Compete também ao Inep promover a acessibilidade de todos os candidatos, com os instrumentos digitais necessários para a realização das provas.


É imperativo que as escolas se adaptem para migrar para o novo modelo. Atento às mudanças, o Colégio Marista Asa Sul já navega no ambiente virtual com o uso de plataformas e aplicativos há bastante tempo. Em 2021, operará também com a plataforma estuda.com na qual as avaliações são realizadas no formato digital, muito semelhante ao que começa a ocorrer com o Enem, possibilitando ao estudante uma preparação ainda mais sólida e competitiva.


O estudante também precisa estar atento a essas mudanças desde o início do Ensino Médio. O Inep anunciou que esse ano ocorrerá a primeira edição do Enem seriado que já testará estudantes da 1ª série. A preparação precisa ser constante e assertiva.


Com a pandemia, constatamos que a chegada do ensino remoto e a entrada dos processos escolares na rotina de casa foram recebidas com fluidez pelos nossos alunos, já que a escola é referência em tecnologia educacional.


Problemas sempre ocorrem quando nos lançamos em novos desafios, mas se não nos arriscamos, também não avançamos. O aprendizado adquirido em mais de duas décadas de Enem indica, sobretudo, que devemos aprender com erros, ousar e, por fim, evoluir.


*Professora do Colégio Marista Asa Sul e atua no Conexão Universidade