Um dos terrores de muitos dos candidatos do Enem, a prova de redação exige uma série de regras e tem modelo específico a ser seguido. Afinal, ela vale mil pontos na avaliação e merece atenção redobrada para quem quer alcançar boa nota e ingressar em uma instituição de ensino superior. Diferentemente das demais disciplinas, que têm conteúdos programáticos para o estudo prévio, o tema da redação é revelado apenas no momento da aplicação da prova e os estudantes têm poucas horas para pensar no texto, estruturar as ideias no rascunho e passar para a folha de respostas. Mas, sair-se bem nesta etapa é possível. Treino, dedicação e atenção estão entre as principais dicas.

A professora de redação do curso preparatório 4K Educacional Carolina Amorim ressalta que os candidatos em geral ficam preocupados com a construção do texto porque, no Brasil, as pessoas não têm o hábito de leitura e de escrita, o que dificulta na hora de escrever uma dissertação argumentativa, por exemplo, gênero textual exigido no Enem. Embora faltem poucos dias para a aplicação do certame, a especialista afirma que dá tempo de se preparar.

No entanto, na avalização de Carolina Amorim, o estudante deve ter o pé no chão, pois muitos outros vêm se preparando há meses. “Devido ao ano que passamos, em geral, os estudos ficaram para um segundo plano. Mas pode ser que ainda dê tempo. É importante que o candidato tenha em mente que, se o resultado não for positivo agora, deve fazer a prova com tranquilidade e se preparar melhor para uma próxima oportunidade”, aconselha.

Com a pandemia, o método de estudo de muitos candidatos foi diferente. A suspensão das aulas presenciais fez com que aqueles que têm o costume de frequentar cursinho ou participar de grupos de estudo, precisem se adaptar à modalidade on-line e individual. “Acredito que a preparação foi diferenciada. Precisamos nos reinventar, tanto os candidatos quantos os professores. Viramos youtubers, blogueiros da educação”, avalia Carolina.

A estrutura do texto também é importante. A professora de redação Thalita Brito das Chagas, da Rede Certo, afirma que, além de compreensão gramatical, é cobrado conhecimento em todas as áreas, pois é preciso apresentar argumentos sobre o tema. “Não adianta colocar receita de bolo, poema, não pode apelar para a criatividade nesse sentido, tem de apresentar seu tema, com argumentação sólida. Embasamento é importante”, destaca.

Tema

Além do conhecimento gramatical e de assuntos variados, o tema da redação causa apreensão. De acordo com as especialistas, nem sempre os assuntos são atuais, o que exige ainda mais um repertório vasto. Abordagens consideradas óbvias, como é o caso do novo coronavírus, podem não ser o foco deste ano, mas nenhuma possibilidade deve ser descartada. “O tema não deve ser a maior preocupação agora. Quem tem um bom texto já sai na frente. Acredito que possa ser algo relacionado à saúde, mas não ao coronavírus, pelo fato da pandemia. Pode ser algo sobre o SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo”, opina a professora Carolina Amorim.

Com os alunos do curso onde ministra aulas específicas para o Enem, ela trabalhou o tabagismo como questão de saúde pública. “Mas pode ser algo relacionado ao eixo educacional também, como educação domiciliar, ensino a distância, problemas da alimentação escolar”, elenca.

A professora Thalita Brito reforça que o Enem é uma prova social e os temas da redação apresentam problemas sociais, por isso, é preciso saber de tudo um pouco, geralmente assuntos nacionais. “O importante não é ter aprofundamento em algum tema, vai chegar na hora e não ser aquilo. Manter o foco em saúde seria muito óbvio. Não posso dizer que não cairia, mas é um assunto falado o tempo todo e a que todos estão prestando atenção. Acho que pode ser uma surpresa”, destaca a docente.

Preparação

Moradora de Samambaia, a estudante Marília de Castro Dutra, 18 anos, conta que tem dificuldade em redação. Para auxiliar e alcançar nota melhor no Enem, começou um cursinho específico para a disciplina. Devido à pandemia da covid-19, as aulas presenciais foram suspensas e ela precisou adaptar-se aos encontros a distância. “No início, foi difícil estudar em casa. Nunca tinha feito nada à distância e foi um choque e tanto. Consegui me acostumar aos poucos e adequar o melhor horário e não precisar sair de casa deu um tempo a mais para estudar”, diz.

O sonho é cursar direito na Universidade de Brasília (UnB). Para isso, ela criou um cronograma de atividades, com sugestões dos professores e com base nas disciplinas em que tem mais facilidade ou dificuldade. “Para me ajudar ainda mais, leio e assisto aos jornais, que me dão um aparato grande, e a gente fica por dentro de tudo o que está acontecendo. Sempre faço pesquisas, sem deixar nenhum tema superficial. Tudo isso me ajuda muito”, afirma. Sobre o tema da redação, o palpite de Marília é que seja na área da saúde.

Já a estudante Maria Eduarda Xavier de Souza, 18, acredita que o assunto cobrado na redação não seja tão recente. Essa será a segunda vez que ela fará o Enem. Na primeira, em 2019, a média foi 700 pontos. Mas a nota não foi suficiente para o curso e universidade que deseja: biologia na Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Nunca tive problema com a escrita. Sempre me identifiquei, sempre escrevi cartas, porque me expresso melhor pela escrita. Estou fazendo cursinho e também uso ferramentas da internet. Eles focaram muito na redação”, conta. Ela estuda de 10 a 11 horas por dia. Com base nos ensinamentos adquiridos no cursinho, fez o próprio cronograma e diz que o segredo para entregar um bom texto é “treinar de duas a três vezes por semana”, afirma.

Regras

A redação do Enem deverá ser um texto dissertativo-argumentativo com, no máximo, 30 linhas. O título não é obrigatório e, caso seja utilizado, contará como uma das linhas da produção textual. A nota soma de 0 a mil pontos, que serão divididos em cinco partes (veja Avaliação). Para auxiliar os candidatos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou um material de apoio para quem vai participar do certame.

O documento A redação do Enem 2020 — Cartilha do Participante, disponível no link https://bit.ly/390VaMk, traz dicas sobre como o estudante deve estruturar o texto, além de explicar os critérios de correção. Ficar atento aos comandos e orientações da prova é essencial para não zerar a redação (veja Fuja do zero). O texto será exigido no primeiro dia de aplicação do Enem, em 17 de janeiro, junto às provas de Ciências Humanas e de Linguagens e Códigos.

Para brilhar

Veja dicas de preparação para escrever um bom texto no dia da prova:

» Leia sobre todos os assuntos
» Pratique a escrita
» Estude os temas dos exames passados e leia os textos motivadores
» Estude os autores que caíram nas provas anteriores e veja conteúdos extras sobre os assuntos abordados por eles
» Estude o que da história pode ajudar na construção de um bom texto
» Tenha originalidade e, para isso, desenvolva um bom repertório cultural, com música, filmes e séries

 
Fuja do zero

Saiba quais elementos que podem anular a prova de redação:

» Fuga total ao tema
» Escrever texto que não seja dissertativo-argumentativo
» Prova em branco, mesmo que o participante tenha feito a redação no rascunho
» Textos que tenham até sete linhas manuscritas (se for em Braille, provas com até 10 linhas serão zeradas)
» Cópia dos textos da prova de redação ou do caderno de questões sem que haja pelo menos oito linhas de produção própria do participante
» Ofensas, xingamentos, desenhos ou outras tentativas propositais de anulação
» Sinais gráficos ou números que não tenham função no texto
» Parte que esteja desconectada do tema proposto
» Assinatura, rubrica ou qualquer identificação fora do local específico
» Texto que tenha predominância de língua estrangeira
» Texto ilegível

 

Avaliação

Confira as competências levadas em consideração pelos corretores das redações:

Competência 1: ter domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa
Competência 2: compreender a proposta da redação e utilizar conceitos de diferentes áreas do conhecimento para o desenvolvimento do tema
Competência 3: saber selecionar, relacionar, organizar e interpretar fatos, opiniões e argumentos para defender um ponto de vista
Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a argumentação
Competência 5: elaborar uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos