ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA

Idosos ganham independência tecnológica com projeto de inclusão digital

Idosos ganham independência tecnológica com o projeto de inclusão digital e celebram cada aprendizado

Isabela Berrogain
Luiz Fellipe Alves
postado em 21/04/2025 06:07
O projeto de inclusão digital 
da UDF ocorre todas as sextas, 
de forma gratuita -  (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)
O projeto de inclusão digital da UDF ocorre todas as sextas, de forma gratuita - (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/D.A Press)

Às sextas-feiras, das 9h às 11h, o laboratório webclass do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) se torna ponto de troca entre novas e antigas gerações. É lá que ocorre o projeto gratuito de inclusão digital para idosos, projeto que reúne alunos dos mais diversos cursos da área de computação e o público 60 interessado em estreitar laços com o mundo virtual. Sem necessidade de cadastro ou inscrição, os idosos aprendem semanalmente a como aprimorar o uso de ferramentas do celular e computador.

Professora e coordenadora do projeto, Kerlla Luz destaca que a principal característica da turma é não funcionar em um regime tradicional. "Percebemos que o formato de encontros é mais interessante para os idosos. Antes da pandemia, trabalhávamos como um curso mesmo, com professor na frente e os alunos prestando atenção. Hoje, funcionamos como um plantão de dúvidas, onde os alunos 60 vêm e tiram todas as dúvidas que têm", explica.

Uma das participantes do projeto, Margarida Rodrigues, 71 anos, afirma estar bem antenada com a tecnologia. "Sem esse aprendizado, nós ficamos para trás". Margô, como gosta de ser chamada, aponta os avanços conquistados a partir dos encontros. "Tudo que aprendemos aqui é útil. Facilitou o dia a dia. Conseguimos falar com as pessoas, marcar um encontro com as amigas, ter uma conta no banco e ficar por dentro do que está acontecendo com o nosso dinheiro, até mesmo ver os preços dos itens no supermercado. Isso, para nós, é muito novo. Sem o projeto para nos ajudar, eu nem sei o que seria da gente", declara.

Antes de entrar no curso, Margô não tinha nenhum tipo de integração com a tecnologia. "Eu não sabia nem abrir um celular. Muitas vezes, compramos um novo celular e pensamos "E agora?". É aí que entram projetos como esses, que nos ajudam bastante para que a gente consiga interagir com a tecnologia e seguir em frente", afirma.

Apesar dos inúmeros aprendizados até então, a aluna ressalta que não pretende parar de ir aos encontros. "Eu ainda tenho muita coisa para aprender. Todo dia o celular tem coisa nova. Ainda temos muito o que aprender", complementa.

Assim como Margô, Sônia Maria, 77, formada em pedagogia pela própria UDF, voltou à universidade para se familiarizar mais com a tecnologia. "Eu dou algumas derrapadas com o celular novo, que ganhei do meu genro, por isso, os encontros estão sendo muito úteis para mim, para tirar minhas dúvidas", relata.

Parafraseando o músico Gonzaguinha, Sônia conta que se sente como "uma eterna aprendiz". "Eu gosto de enfrentar novos desafios. Não é porque somos idosos e aposentados que temos que ficar dentro de casa", afirma.

 09/04/2025. Ed Alves CB/DA Press. Cidades. Caderno 65 Anos de Brasilia. Informatica para Idosos na UDF. Na foto, Margarida Rodrigues.
Lorena Santos (D), 20, orienta Margarida Rodrigues, 71, no uso do celular e do computador (foto: Ed Alves CB/DA Press)

"Por isso, esse trabalho com a professora Kerlla tem sido maravilhoso. É muito importante para nós, idosos. Da pandemia para cá, o mundo ficou cada vez mais virtual, então, durante a quarentena, foram importantes esses aprendizados para a gente se conectar com o mundo", diz.

No curso, um dos principais diferenciais para Sônia é a participação ativa dos monitores. "Temos um atendimento personalizado, trazemos nossas perguntas e somos atendidos maravilhosamente", elogia. Para ela, a diferença de idade entre as gerações não é uma barreira: "Há um intercâmbio muito saudável. A troca de saberes intergeracional é importante e muito boa para todo mundo".

Vivências

Para os jovens monitores, o projeto se converte em horas complementares e também vale como estágio obrigatório não remunerado no histórico acadêmico. Porém, o tempo passado dentro do laboratório de informática da faculdade vai muito além das obrigações universitárias. Estudante de análise de desenvolvimento do sistema, Lorena Santos, 20, afirma que, com os idosos, ela aprende mais do que ensina. "Eu recebo algo diferente com cada pessoa que eu ajudo. Eles têm muitas vivências, muitos ensinamentos para compartilhar", reconhece.

Monitor do curso há cerca de dois meses, Matheus Azevedo, 18, aplica alguns dos aprendizados adquiridos na vida pessoal: "Eu falei para um dos alunos que queria começar a investir, e agora ele está me ensinando sobre o mundo financeiro", compartilha o aluno de engenharia de software.

"Outra aluna minha, que é médica, estava me passando algumas recomendações para eu cuidar melhor da minha saúde. Então, é uma via de mão dupla, ensino algo para eles, e eles me ensinam de volta", acrescenta o estudante que pretende continuar no projeto até o fim da graduação.

Segundo Matheus, que auxiliava o avô com questões tecnológicas, o curso é importante para que os idosos se tornem mais independentes. "Com as aulas, podemos evitar com que eles caiam em golpes ou ajudá-los em coisas básicas do dia a dia, como pedir um transporte de aplicativo ou fazer uma transferência bancária segura pelo celular, por exemplo", cita.

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Segundo Lorena, muitos dos alunos chegam à monitoria sem nem saber por onde começar. "Muitas vezes, eles não sabem nem o que perguntar, porque não sabem o que precisam aprender ou estão fazendo de errado, é nosso papel mostrar", explica. "Portanto, quando os vemos comemorando ao conseguir fazer algo sozinhos é muito gratificante. Muitos se acham incapazes, ficam com medo de fazer alguma besteira, nós ensinamos, e eles entendem, é muito satisfatório para os dois lados", afirma.

* Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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