Em 2018, o morador da região rural de Planaltina Cleiton Neves, que sonhava em poder atuar profissionalmente como produtor agrícola, tomou a decisão de se profissionalizar e buscou o curso técnico em agropecuária no campus de Planaltina do Instituto Federal de Brasília (IFB). Ele cresceu na chácara da família, no Núcleo Rural Córrego do Atoleiro, vendo a mãe produzir hortaliças, plantas alimentícias não convencionais e temperos para complementação alimentar e por hobby. "Mesmo com a vivência, não me sentia suficientemente bom na área. A formação me valorizou, sou muito grato pela minha profissão, a qual exerço por amor", conta o agora profissional, de 30 anos.
Nem sempre, porém, o caminho é tranquilo, mas é preciso perseverança. Cleiton percorria 17km de casa até a escola todos os dias, e vendia trufas nos intervalos das aulas para sustentar a família e conseguir permanecer e concluir o curso técnico. No segundo semestre de 2020, ele empreendeu com o Viveiro EM, uma empresa de vendas de mudas ornamentais, nativas e frutíferas, além da produção e venda de insumos orgânicos. O projeto foi iniciado sem investimentos, e o viveirista conta que coletava sementes e as germinava com o próprio substrato em materiais recicláveis, com o conhecimento de técnico agrícola, ele conseguiu dar continuidade. "Até que o programa Filhos Deste Solo, iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), me colocou no mercado", reforçou.
O diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-DF), Vitor Corrêa, ressalta que a profissionalização é um instrumento crucial para a conquista dos objetivos. "A formação profissional dá a vivência de mercado, que é o diferencial para que esse indivíduo consiga o primeiro emprego ou ascender na carreira ou reposicionar sua carreira", explicou.
Carreira reposicionada
Decidido a recomeçar profissionalmente, Leonnardo Augusto, 36, fez um curso técnico de massoterapia, em 2019, no Senac e, hoje, atua como autônomo em sua própria residência, em Águas Claras. No entanto, essa não foi a sua primeira profissão. O massoterapeuta atuava anteriormente como advogado, até que, após 10 anos, percebeu que não se sentia realizado com a sua carreira. "Como advogado eu me sentia limitado ao sistema judiciário para conseguir ajudar efetivamente as pessoas, pelas incertezas dos processos", conta. Ele relata que hoje em dia se sente alinhado com seu propósito, que é ajudar com as dores das pessoas por meio da massoterapia.
A formação foi uma parte essencial para a mudança de vida de Leonnardo, uma vez que o curso técnico proporcionou um olhar aprofundado na área. "Lá eu consegui aprender com todas as ferramentas necessárias. Me trouxe a visão que tenho hoje, da qual eu precisava para exercer minha profissão", indaga. O profissional começou com uma maca e uma tenda, que ele posicionou em frente ao parque de Águas Claras, e atendia pessoas na rua, ou que estavam vindo de exercícios ao ar livre. "Consegui estabilizar minha vida e passei a fazer atendimentos também no Eixão do Lazer no domingo, fazia nas pessoas da corrida de rua, do crossfit porque eu resolvia dores e lesões por meio da massagem, fui ficando muito conhecido e migrei pra sala", comemorou.
Cursos
O Instituto Federal de Brasília (IFB) — onde Cleiton se formou — oferece atualmente cerca de 45 cursos, com 10 campi distribuídos pelo Distrito Federal nas regiões de Asa Norte, na Estrutural, Ceilândia, Gama, Planaltina, Recanto das Emas, Riacho Fundo e Samambaia. Desses, quatro são a distância, e segundo a pró-reitora do instituto, Rosa Amélia Pereira, cerca de 65% dos alunos são do gênero feminino, cuja faixa etária varia de 15 até 25 anos, e cerca de 50% dos egressos são absorvidos pelo mercado de trabalho dentro da área em que se profissionalizam.
É o que a estudante de gestão pública e técnica em serviços públicos no IFB Maiza Souza, 22, busca. "Estou adorando estudar sobre o tema. Eu tinha um conhecimento muito vago sobre gestão e isso tem me ajudado bastante. Conforme vamos adentrando no curso, vamos percebendo ele e a política de uma forma diferente e mais sábia", pontua.
Maiza revela que todos esses esforços agora são para se preparar para concursos públicos. "É uma realidade que eu tenho trabalhado bastante. Conversei muito com meus professores e decidi que é isso que eu quero para meu futuro. Acredito que estou trilhando um bom caminho, espero que ele me dê frutos lá na frente", destaca.
No Senac-DF, são capacitadas pessoas para as áreas de comércio de bens, serviços, turismo e saúde. Mais de 300 cursos são oferecidos pela instituição e 66% deles são gratuitos. Formação para as áreas administrativas e de saúde são as mais buscadas pelos estudantes. Atualmente, a instituição conta com mais de 30 mil alunos matriculados, dos quais, 51% são mulheres e mais da metade são jovens de 15 a 29 anos. Segundo o diretor regional, Vitor Corrêa, de acordo com pesquisas da instituição, nos cursos de média duração e cursos técnicos, a taxa de empregabilidade é de 70% dos egressos. O gestor ainda afirmou que, até o final de maio, estarão sendo lançados três novos cursos: de florista, técnico em gastronomia e barista.
Empreendedorismo
Cristian Lopes, 20 anos, é um dos que se encaixa nessa faixa etária. Quando ele se formou no ensino médio precisou de emprego e tornar-se barbeiro foi a solução encontrada. "Desde pequeno, eu sentia que queria me tornar barbeiro. Em 2021, fiz um curso e, uma semana após a conclusão dele, comecei a cortar o cabelo dos meus colegas na minha residência. Um tempo depois, consegui um emprego em um salão e trabalhei lá por um ano", descreve.
Depois desse tempo de experiência, Cristian conta que decidiu arriscar e abrir seu próprio negócio. "Em janeiro deste ano, veio uma conquista: consegui abrir minha própria barbearia. Meus pais ficaram muito felizes com essa realização. A renda da minha casa aumentou com isso. Muitos sonhos foram sendo realizados e sinto que ainda têm muito mais para serem alcançados", comenta. Ele cita que se sente realizado com a profissão que escolheu e revela que é muito boa para o mercado de trabalho.
*Estagiários sob a supervisão de Patrick Selvatti
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