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UnB: moradores da CEU reivindicam melhores condições de alimentação

Relatos atestam problemas de infraestrutura nos alojamentos da Universidade

Gabriel Bezerra*
postado em 06/05/2021 18:54 / atualizado em 10/05/2021 20:52
 (crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press)
(crédito: Bruno Peres/CB/D.A Press)

Depois que começou a pandemia, os alunos da Universidade de Brasília ficaram impedidos de receber um direito assegurado a eles, a alimentação que é oferecida pela instituição três vezes por dia e viabilizada pelo Restaurante Universitário (RU). A solução foi distribuir marmitas. Mas a solução logo se tornou outro problema, pois a refeição começou a vir com pedaços de plástico, cabelo e larvas.

“É necessário uma atuação imediata da administração superior para resolver o problema, os estudantes têm pressa e têm fome. A universidade deve garantir não apenas a alimentação dos estudantes, mas de qualidade! É direito básico e previsto em lei”, clamam os alunos em nota enviada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) à Universidade de Brasília.

Segundo Ludmila Brasil, líder do Diretório, a alimentação dos estudantes que residem na UnB é uma pauta constante do movimento estudantil e que vem intermediando o diálogo entre os estudantes da casa e a administração da universidade, além de promover campanhas de arrecadação de alimentos para esses estudantes.

 

Discussão


Isadora de Oliveira, 19 anos, estudante e integrante da pasta de Assistência do Diretório Central dos Estudantes da UnB, relatou que vem acompanhando de perto a apuração das denúncias feitas pelos moradores da Casa do Estudante nos últimos meses.

Segundo a estudante, os atos de repúdio começaram assim que houve um surto de infecção alimentar dentro do local com uma aluna chegando a ser hospitalizada. “Foi realizada organizações entre o Diretório e os estudantes da casa e também atos na frente da Reitoria, exigindo que os estudantes da CEU sejam priorizados, já que na prática, são os únicos estudantes que estão presencialmente na UnB, por ser o local onde eles moram”, disse Isadora.

O Diretório promoveu reuniões com os moradores da Casa do Estudante. Nelas, foram produzidos documentos com reivindicações e também uma denúncia na Comissão de Direitos Humanos protocolada pelo deputado distrital Fábio Félix (PSOL-DF) e encaminhada para a Reitoria da UnB no dia 10 de março, exigindo “uma vistoria geral na Casa do Estudante Universitário (CEU), visando à melhoria das instalações e das condições de habitação, além da suspensão das taxas de pagamento, bem como a adequação da alimentação oferecida a padrões mínimos de qualidade”.

Segundo Isadora, o órgão estudantil não recebeu nenhuma resposta da administração sobre a denúncia até o presente momento.

Alguns moradores decidiram ocupar as ruas da L2 Norte em protesto na tarde do dia 29 de março. No ato, os manifestantes exibiram faixas com as frases “Moradores da CEU nas ruas, UnB, a culpa é sua”, “A CEU pede socorro” e “Desde quando larva é comida?”.

Foi instituída, então, em abril, uma comissão semanal de fiscalização no Restaurante Universitário (RU) integrada pelo DCE da UnB e por membros da CEU para verificar os processos de fabricação das comidas. Não foi encontrada nenhuma irregularidade, porém, as denúncias de marmitas continuaram a surgir.

Uma segunda inspeção foi realizada nesta última quarta-feira (5). Os integrantes dos dois órgãos acompanhados por pessoas do Centro de Acolhimento ao Estudante (CAEs) analisaram novamente os procedimentos realizados pela Sanoli Alimentação. Outra vez, segundo Isadora, não foram verificadas irregularidades.

Foi decidido, ao fim dessa inspeção, que nutricionistas da UnB irão fazer repasses semanais destinados ao diretório para avaliar a condição diária dos alimentos. Será realizado também um formulário diário para que os moradores da casa possam avaliar a qualidade da comida.

 

Posicionamento da UnB

A UnB, em nota ao Correio Braziliense, informou que com o fechamento do Restaurante Universitário instituiu o Auxílio Alimentação Emergencial. Em 2020, foram 3.605 benefeciados com bolsas de R$ 465 por mês, pagas em cinco parcelas, de agosto a dezembro. Este ano, informa a instituição 2.845 foram contemplados, todos que atendiam aos requisitos do edital, a bolsa está sendo paga em quatro parcelas, de março a junho. 

Os moradores da CEU estão recebendo marmitas, segundo a universidade.

 

Adoecimentos


Estudante de engenharia mecânica e morador da CEU há 5 anos, Wildemberg Rocha, 22, conta que a sua rotina antes da pandemia de Covid-19 consistia em três refeições diárias no RU. Para o graduando, nascido em Tocantins, a instalação é extremamente importante.

Durante a pandemia, Wildemberg vem consumindo as marmitas distribuídas. “A qualidade do Restaurante Universitário decaiu muito quando as marmitas começaram a ser servidas aqui. Algumas pessoas relataram que tinham larvas nas comidas, os tomates vinham azedos.”, relatou o estudante.

Mesmo após as denúncias feitas pelos estudantes, o jovem disse que a qualidade continuou a mesma, e apontou uma diminuição na quantidade de comida recebida. Denúncias similares foram confirmadas pelo DCE.

O estudante de medicina Thiago Fidelis, 21, morador do local há um ano e meio, relata que come diariamente os marmitex da Sanoli Alimentação mas depois passa mal. “Já cheguei a pegar marmita com arroz azedo, carne crua e frutas estragadas. Por causa desses problemas cheguei a ter náuseas, vômitos e diarréia. É um descaso com o cidadão a forma como estão tratando a alimentação estudantil”, disse.

Segundo a assessoria da Universidade de Brasília, o controle de qualidade das refeições é feito pela equipe de fiscalização do contrato, formada por servidores. "No caso do episódio de intoxicação alimentar mencionado pela reportagem, não foi possível comprovar a relação entre os relatos e a qualidade da comida", informa a instituição.

As análises biológicas não encontraram problemas é o que afirma a UnB. Entretanto, quanto às contaminações físicas relatadas pelos estudantes, a universidade afirma que foram aplicadas aplicadas quatro notificações de advertência à Sanoli, e um encaminhamento de advertência com inscrição no Sicaf (o sistema de fornecedores do governo federal) e com aplicação de multa. Os dois últimos estão em fase de conclusão.

Infraestrutura


Ao ser perguntado sobre a situação da alimentação dos moradores dos alojamentos, João Emanuel, 23, estudante de farmácia e representante discente do local, relatou que após a veiculação dos ocorridos com as marmitas pela imprensa, as denúncias sobre a qualidade da comida diminuiu. “A última vez que alguém reclamou sobre a comida foi na semana passada.”, relembra.

João também se alimenta com as marmitas da Sanoli que, segundo ele, teve melhora na qualidade após as reclamações feitas em março. Porém, o estudante diz estar com suspeita de verme nos últimos dias e acha que a origem da doença pode estar relacionada aos alimentos.

O representante disse que a principal denúncia que recebe além da questão alimentícia é sobre a infraestrutura da Casa do Estudante. Segundo ele, os moradores enviam pedidos de manutenções para a Prefeitura da Universidade de Brasília, porém os problemas não são resolvidos. “Existem apartamentos desde 2018 que possuem o piso quebrado e até hoje não foram consertados.”, observa.

O estudante disse que deseja se reunir com órgãos da instituição para discutir os problemas de manutenção. Perguntado sobre qual era o problema de infraestrutura mais comum nos lotes, João respondeu que são as infiltrações e as rachaduras. “Estão presentes em quase todos os apartamentos.”, disse.

Nas recentes reuniões de moradores do local com a administração da Universidade, um dos principais temas foi a falta de vigilância na região, que, segundo João, dispõe de um vigilante para resguardar a área. Após as reuniões, nenhuma solução foi obtida.

A UnB informa ao Correio Braziliense que estão sendo realizadas reformas de emergência na casa, em parceria com a Prefeitura do campi. Mesmo assim, o ritmo de trabalho é afetado pela pandemia, principalmente no que tange a reduções orçamentárias. 

"De todo modo, a instituição busca sempre priorizar os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, seja com a liberação de recursos para pagamento de bolsas seja com a busca de mais qualidade de vida", conclui a instituição.

Como estudante, João diz que é bastante prejudicado pela conexão de internet da Casa, que é baixa e costuma cair. O representante relatou que para conseguir uma boa conexão, prefere colocar internet móvel em seu celular para ser possível estudar durante o ensino remoto — modelo de ensino adotado pela instituição durante a pandemia. Isso faz com que ele chegue a gastar R$120 todos os meses.

Por conta do isolamento, somente os moradores do apartamento podem trafegar dentro dos prédios, o que acarreta a falta de convívio entre as pessoas. João Emanuel observa que temas relacionados à saúde mental são frequentes nas reuniões da Casa do Estudante. “O que o morador da casa precisa é de um psicólogo clínico para poder conversar, e alguns funcionários que nem são da área acabam fazendo esse papel de abrir uma escuta, um acolhimento para poder suprir essa necessidade.”, relata.

Em uma carta de reivindicações da assistência estudantil feita pelo DCE, no dia 15 de março, uma das exigências do corpo estudantil era a da retomada das ações de saúde mental no local.

Sobre o adoecimento mental dos estudantes, a universidade esclarece que oferece acompanhamento psicológico aos moradores, inclusive com a possibilidade de atendimento em modo presencial, caso seja preciso. 

*Estudante sob a supervisão da subeditora Ana Luisa Araujo

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