
Por Fernanda Ghazali* — O Ministério da Educação (MEC) lançou, no último dia 17 de março, a Escuta Nacional de Professores e Professoras que Ensinam Matemática, uma consulta pública voltada a docentes do Ensino Fundamental, Ensino Médio e da Educação Profissional e Tecnológica. O questionário, que segue aberto até 28 de março, busca entender os desafios pedagógicos e metodológicos enfrentados pelos professores e embasar futuras políticas públicas para aprimorar o ensino da disciplina.
A urgência de mudanças é evidenciada pelos índices educacionais. Segundo o Pisa 2022, o Brasil ocupa a 65ª posição entre 81 países avaliados em matemática. Além disso, o Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (Trends in International Mathematics and Science Study – TIMSS) de 2023 apontou que mais da metade dos alunos do 4º ano do ensino fundamental não atingiu o nível básico da disciplina.
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Para o professor Ricardo dos Santos, que atua na rede pública há 25 anos, um dos maiores obstáculos ao aprendizado é o contexto social dos alunos. “O professor acaba sendo professor e psicólogo. Temos estudantes com problemas familiares, envolvimento com drogas e gravidez precoce. Precisamos de políticas públicas para que o aluno possa estudar de fato”, afirmou.
A coordenadora escolar Kátia de Assis, 51, reforça a necessidade de capacitação contínua para os docentes. “O governo deveria investir em formação continuada, com metodologias de ensino atualizadas, além de oferecer apoio psicológico aos professores para que consigam lidar melhor com os desafios emocionais e comportamentais dos alunos”, pontuou.
Já o professor e doutor em Educação Gabriel Petter destaca que os problemas vão além da sala de aula. Ele aponta a baixa qualidade da formação de professores, a falta de valorização da carreira docente e a precariedade estrutural das escolas como fatores determinantes para os baixos índices em matemática.
“A maioria das matrículas em licenciatura está concentrada em cursos privados de baixa qualidade, muitas vezes em formato híbrido ou EAD. Além disso, a desvalorização da profissão leva a salários baixos, excesso de alunos por sala e contratações temporárias, prejudicando a continuidade do ensino”, explicou.
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Segundo Petter, soluções eficazes passariam por um plano de valorização da docência, que inclua melhorias salariais, fortalecimento dos cursos de licenciatura, concursos para vagas efetivas e redução do número de alunos por turma. Além disso, ele sugere que, no curto prazo, sejam adotadas estratégias como reforço escolar para estudantes com dificuldades em matemática.
Os resultados da consulta serão fundamentais para embasar políticas públicas voltadas à qualificação dos professores e ao aprimoramento das metodologias de ensino. A expectativa é que, a partir da análise das respostas, sejam criadas ações que impactem positivamente o desempenho dos alunos e contribuam para reverter os índices preocupantes da educação matemática no Brasil.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes
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