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mudanças climáticas

Programa Jovens Embaixadores 2025: estudantes desembarcam nos EUA

Alunos da rede pública brasileira são selecionados para intercâmbio nos Estados Unidos, com direito a preparatório em Brasília. Requisitos incluem participação em projetos de impacto socioambiental

Representando diferentes estados do Brasil, 30 estudantes da rede pública foram selecionados para participar do programa Jovens Embaixadores 2025, embarcando, ontem, para uma aventura diplomática nos Estados Unidos. Os participantes, que estão no ensino médio e têm entre 15 e 18 anos, destacam-se pela excelência acadêmica e pelo domínio da língua inglesa, além do engajamento em projetos de impacto socioambiental em suas comunidades. Desta vez, não há representantes do DF.

Nesta edição, o intercâmbio tem como foco as mudanças climáticas, alinhando-se à 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que, este ano, será sediada no Brasil. Antes da viagem, a última parada foi na capital federal, onde os integrantes puderam fazer visitas guiadas e dinâmicas para desenvolver habilidades, como autoconhecimento, comunicação, liderança e espírito empreendedor, que serão trabalhadas ao longo da experiência. O grupo chegou nos EUA hoje, por volta de 6h30 (horário de Brasília).

Engajamento

Felipe Menezes/U.S Embassy Brasilia - Diego Soares, 15, está viajando pela primeira vez: "Chance única"

Para serem aprovados na seleção, os alunos tiveram de cumprir alguns requisitos, entre eles, ter baixa renda e integrar uma iniciativa social ligada ao tema da COP 30. Diego Soares Silva, 15 anos, de Divinópolis (MG), submeteu um projeto que transforma TV boxes — aparelho que torna a televisão analógica em digital — em computadores funcionais para ensinar informática em escolas públicas. Já a estudante Beatriz Fernandes Honorato, 18, que concluiu recentemente o ensino médio e mora na ilha Cotijuba, em Belém (PA), integra o projeto Ameaça Invisível: Lixo nas Ilhas de Cotijuba, voltado para a gestão de resíduos sólidos na região.

As ideias surpreendem tanto pela criatividade quanto pela relevância, sobretudo em áreas que não têm acesso a direitos básicos, como tratamento de água e saneamento. É o caso da carioca Ana Karolina Fagundes, 17, que participa de um projeto de iniciação científica em Itaboraí (RJ). "Eu coleto água das casas do meu bairro, já que é uma região que não tem acesso ao tratamento d'água. Utilizo os laboratórios do Instituto Federal para realizar análises de pH, turbidez, amônia, nitrito, nitrato e coliformes totais e fecais. Em seguida, escrevo um material didático para enviar para as casas, explicando o porquê dos resultados da água e dando sugestões de como deixá-la mais potável", detalha.

Felipe Menezes/U.S Embassy Brasilia - Ana Karolina, 17, aprendeu inglês por conta própria para participar

Ana também foi destaque nos testes que mediram a fluência oral e escrita em inglês. Ela conta que aprendeu o idioma por conta própria, praticando com vídeos no YouTube e exercícios na internet. "Sempre foi uma vontade minha aprender, dar orgulho para minha mãe, e agora terei a chance de me desenvolver ainda mais", diz a autodidata.

Murilo Ferreira Ribeiro, 17, de Imigrante (RS), também impressiona pelas habilidades em disciplinas de humanas e linguagens. Ele participa do projeto Empreender e Inovar para a Sustentabilidade, focado na promoção de práticas individuais e coletivas de cuidado na produção, para tornar os negócios social e ambientalmente mais responsáveis. "Principalmente com as enchentes, percebemos que o governo não consegue dar conta de tudo. Então, nos unimos pelo bem comum", defende.

Felipe Menezes/U.S Embassy Brasilia - Murilo Ferreira, 17: "Conhecer os EUA sempre foi meu sonho"

Experiência

Nos Estados Unidos, os jovens passarão por Washington, D.C., onde participarão de workshops sobre liderança e sustentabilidade, e depois seguirão para outras cidades, como Pensacola, na Flórida, e Cleveland, em Ohio. A programação inclui oficinas, encontros com representantes do governo, visitas a escolas locais e apresentações sobre o Brasil. Nas cidades anfitriãs, cada estudante será recebido por uma família voluntária, promovendo uma verdadeira imersão cultural. 

Em Brasília, os jovens puderam conhecer a Embaixada dos Estados Unidos e o Itamaraty, passando pelos principais pontos turísticos da capital, como a Praça dos Três Poderes, o Congresso Nacional e a Torre de TV. "O que mais me chamou a atenção foi ver os prédios do governo, ver onde tudo acontece para movimentar o nosso país e saber que tudo é real, que não é coisa da TV", comenta Murilo. "A gente conheceu alguns pontos turísticos e é tudo lindo, maravilhoso. Com certeza, pretendo vir mais vezes, futuramente", completa Beatriz.

Felipe Menezes/U.S Embassy Brasilia - Em visita à capital federal, jovens de todas as regiões do país conheceram o Itamaraty

Para muitos deles, essa foi pela primeira experiência fora do estado onde nasceram, como relata Ana Karolina e Murillo, que nunca haviam viajado de avião e dizem estar realizando um sonho. Assim como eles, Diego, que nunca foi para o exterior, está empolgado com a oportunidade. "É a primeira vez que viajo para fora do país, e logo para os Estados Unidos, que sempre foi meu sonho de infância. Quero aproveitar cada momento e aprender o máximo possível", afirma.

Beatriz compartilha o entusiasmo. "A minha expectativa para o intercâmbio é a melhor possível. Estou indo de mente aberta e quero viver tudo intensamente. Quero praticar o inglês, conhecer novas pessoas e poder melhorar os nossos projetos", diz.

Felipe Menezes/U.S Embassy Brasilia - Beatriz Fernandes, 18: "Quero criar mais conexões no exterior"

Portas abertas

Promovido pela Embaixada e Consulados dos EUA e implementado pela Associação Grupo Mais Unidos, o programa também conta com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), das secretarias estaduais de Educação e da rede de Espaços Americanos. A parceria proporciona a cobertura de quase todos os custos, incluindo passagens aéreas, hospedagem, transporte e alimentação. 

A coordenadora do projeto na Embaixada do EUA, Márcia Mizuno, compartilha os efeitos positivos do programa, que influencia, inclusive, nas escolhas profissionais dos participantes. "Os alunos voltam renovadíssimos, cheios de ideias, de vontade de fazer a diferença. E o que a gente quer é isso, protagonistas que busquem melhorar suas comunidades. Nosso objetivo é aproximar as nações e promover impactos positivos para o Brasil", conclui, projetando um futuro promissor para os jovens brasileiros.

*Estagiário sob a supervisão de Marina Rodrigues