Diante de um cenário de difusão constante de informações (e desinformações), o tema do combate às notícias falsas se tornou central nas discussões, e se engana quem pensa que a educação para as mídias se resume ao combate às fake news. A boa notícia é que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê a inclusão da educação midiática, isto é, a alfabetização para o mundo das mídias, no ensino básico como um dos temas centrais. Mas como saber se o tema é trabalhado de forma adequada com os alunos?
Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta, Daniela Machado explica que a educação para as mídias pode ser incluída nas mais diversas disciplinas escolares. "Quando falamos de educação midiática, estamos falando de um conceito guarda-chuva que dá conta de uma série de habilidades essenciais para que a gente efetivamente participe da vida em uma sociedade conectada", explica.
Entre essas habilidades, está não só saber se uma informação é verdadeira ou falsa, mas desenvolver uma leitura crítica para entender o contexto da mensagem, se é um dado ou uma opinião, além de formar produtores de conteúdo mais responsáveis com o que vão postar ou não.
A especialista explica que, na hora de analisar se uma escola trabalha ou não a conectividade com o mundo virtual, não basta olhar para a infraestrutura, mas também para como o uso da tecnologia é abordado. "Não é suficiente ter os dispositivos, a gente também precisa ter a oportunidade de aprender a navegar neste grande universo da informação para fazer um uso melhor de tudo isso."
Novos leitores
Um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 2021 trouxe um alerta para o cuidado com a nova geração de leitores do país. A publicação Leitores do século XXI: Desenvolvendo habilidades de alfabetização em um mundo digital mostrou que 67%, ou aproximadamente 7 a cada 10, dos estudantes de 15 anos no Brasil não sabem distinguir um fato de uma opinião. O número deixa o país em uma posição preocupante. A média entre os países registrados pela OCDE foi de 53% de adolescentes que não apresentam capacidade de distinção textual analisada.
A preocupação com a formação de novos leitores foi o recorte escolhido pela jornalista Gracielly Bittencourt quando, durante uma oficina para profissionais da área, foi desafiada a pensar em iniciativas para o combate às fake news na região onde mora. À época, antes da pandemia de covid-19, a repórter escolheu um tema que seria ainda mais relevante nos anos seguintes: as campanhas de vacinação.
Segundo Gracielly, a proposta inicial era falar sobre a vacina contra o papilomavírus humano (HPV). "O público-alvo dessa vacina são adolescentes de 9 a 14 anos, então pensei: 'Não tem lugar melhor para fazer isso do que nas escolas'", conta.
Em 2022, nasceu o projeto Conhecimento é vacina para a desinformação, que visita escolas públicas do DF para discutir a disseminação de notícias falsas, em especial na saúde. A iniciativa já passou pelas escolas Centro de Ensino Médio (CEM) 2 de Ceilândia, Centro de Ensino Fundamental (CEF) Queima Lençol, em Sobradinho, e CEM Urso Branco, no Núcleo Bandeirante, com dois dias de programação que envolvem palestras e oficinas com especialistas.
A coordenadora do projeto conta que o grupo aplica um questionário antes das atividades para saber se os alunos se vacinaram e o motivo para terem ou não tomado o imunizante. Ao fim dos dois dias, eles fazem outra pesquisa. "Vejo muitas respostas com 'eu não tomei porque eu achava isso, agora que eu entendi tal como funciona, porque é importante, eu tomaria'. Então tem esse efeito prático nos estudantes". diz. Gracielly destaca ainda o poder "multiplicador" da oficina. Segundo ela, muitos professores querem abordar o tema em sala de aula, mas ainda faltam orientações sobre como trabalhar o assunto.
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