Desde a virada dos anos 2000, a forma de lecionar foi repensada para os novos tempos. Diante da necessidade de entender quais eram as principais habilidades necessárias para ingressar no mercado de trabalho e para a convivência social, cunhou-se o termo popularizado como "habilidades do século 21". Elas não necessariamente são regras sociais e, sim, noções gerais do que é preciso saber, aprender e entender nos dias atuais. No caso das escolas, essas habilidades podem nortear os aprendizados fundamentais na formação de crianças e de adolescentes.
Entre as principais habilidades estão: pensamento crítico e resolução de problemas; criatividade e inovação; comunicação e colaboração; alfabetização digital; liderança e responsabilidade; resiliência; empatia e inteligência emocional; e gestão de tempo.
De acordo com Leo Burd, fundador da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, a sociedade é marcada por transformações cada vez mais rápidas, constantes e inusitadas. Ele argumenta que os conhecimentos aprendidos hoje nem sempre serão aplicados amanhã, justamente por essa constante mudança. "É preciso preparar as crianças e os jovens para que eles se sintam confortáveis em saber lidar com essas situações inusitadas, usando os recursos e as conexões que eles têm", frisa.
Burd cita ainda que, nos últimos anos, várias questões, como a pandemia da covid-19, as enchentes no Brasil e as guerras pelo mundo, provaram como é preciso ter adaptabilidade. "Tem o aspecto da empatia, para ter condições de entender o outro e colaborar com pessoas que são diferentes de nós. Também tem a questão da criatividade e do senso crítico, que são extremamente importantes de trabalhar, seja na escola, seja em outros ambientes educacionais."
Aplicabilidade
Segundo a professora Nilce Macedo da Graça, diretora pedagógica da Unidade Sul do Centro Educacional Leonardo da Vinci, todo o processo pedagógico da escola é feito considerando a necessidade de desenvolvimento dessas habilidades.
Para ela, é fundamental que escolas ofereçam atividades, projetos e recursos para que eles possam interagir com uma variedade de situações a fim de ampliar suas experiências e sua cultura. "Com planejamento, recursos adequados e uma mentalidade aberta à inovação, criamos ambientes que promovem o desenvolvimento das habilidades do século 21, formando cidadãos globais mais preparados e conscientes."
O estudante Felipe Francischetti Issa, 18 anos, nota, em várias situações, que essas habilidades estão inseridas na rotina escolar. Uma delas é na questão da liderança e da responsabilidade. "Por meio de trabalhos em equipe e apresentações, você exercita a capacidade de liderança, e eu acho que a educação presencial favorece muito isso. O convívio do aluno em grupos diferentes, em turmas diferentes, nos dão essa oportunidade de liderar em um sentido pedagógico da palavra."
Antes e depois
Camila Tinoco, coordenadora pedagógica na Roda Educativa, pondera que o repertório trazido de outras gerações precisa ser considerado. "Os educadores de 100 anos atrás, até os de 50 anos atrás, não lidavam com os problemas que os educadores de hoje lidam porque as sociedades evoluem e os estudantes também. As pessoas são as mesmas, as perguntas que a gente tem para educação são as mesmas, só que mudam as respostas diante dos diferentes tempos que temos." Para ela, três perguntas do ensino permanecem: o que se ensina, como se ensina e o quanto os estudantes estão aprendendo.
A especialista avalia que, apesar de o acesso a informações escolares, como conteúdos históricos, por exemplo, ser mais fácil por meio das novas tecnologias, esse conteúdo não deixa de ser importante, justamente para que o aluno consiga se posicionar e ter um pensamento analítico e crítico sobre questões atuais. "É preciso tomar cuidado para não desvalorizar os conhecimentos escolares. Dizer que é preciso priorizar algumas coisas sobre outras, ou buscar formas mais instigantes de ensinar, não quer dizer pegar tudo aquilo que a gente construiu como Patrimônio Histórico da Humanidade e jogar no lixo ou dizer 'vai procurar na internet'", acentua.
Lara Francischetti, 55 anos, é mãe do estudante Felipe. Ela conta que procurou escolas para o filho que trabalhassem várias dessas questões. "Sempre busquei que ele se sentisse desafiado e envolvido", observa. "Nós temos 36 anos de diferença para o Felipe, e fomos educados em um tempo em que não se falava dessas habilidades. Eu sinto uma diferença imensa no desenvolvimento dele, e acho positivo."
O pai Bernardo Issa, 55, relembra que, quando estava na escola, costumava pensar que os colégios não preparavam as pessoas para a vida. Hoje, ele vê que isso mudou. "Com os nossos dois filhos, o pensamento crítico sempre foi parte da educação aqui em casa, mas eu acho que a grande diferença é na relação interpessoal, porque éramos preparados sem essa preocupação em como as pessoas se relacionavam."
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