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Metodologias ativas ajudam a diversificar e a transformar a sala de aula

Metodologias ativas vêm sendo pesquisadas e estudadas por acadêmicos da área de educação desde os anos 1980, mas o termo se consolidou a partir dos anos 2000

Estefania Lima
postado em 03/09/2024 11:37 / atualizado em 03/09/2024 12:09
26º Summaê, na UnB Gama -  (crédito:  Estefania Lima/CB/D.A.Press)
26º Summaê, na UnB Gama - (crédito: Estefania Lima/CB/D.A.Press)

O relógio marca exatamente 7h30 quando o professor entra na sala segurando um livro grosso de capa azul. Ele cumprimenta a turma e os alunos, em uníssono, respondem de maneira mecânica. A sala de aula é composta por filas de carteiras. O tom de voz do docente, embora firme, é monótono e sem variações. Com o pincel atômico ainda na mão, ele se vira para a turma e começa a explicação. Enquanto escreve a fórmula de Bhaskara no quadro, detalha cada passo sem olhar para os estudantes, que silenciosamente copiam as informações em seus cadernos.

Esse é o método de ensino tradicional a que a maioria das pessoas teve acesso na escola e que, hoje, passa por uma transformação essencial. Pesquisas da ciência cognitiva mostram que os alunos devem fazer algo mais do que simplesmente ouvir para que a aprendizagem seja efetiva, conforme apotam os autores do artigo Metodologias ativas de aprendizagem: uma breve revisão, publicado na revista Acta scientiae.

O professor de biologia da Universidade Federal de Santa Maria Élgion Loreto, um dos autores do artigo, pesquisa metodologias ativas há mais de 20 anos. Ele diz que pegar um aluno que na sua formação escolar sempre ‘assistiu a aulas’ e fazê-lo ‘participar da aula’ não é uma proposta simples, porém também aponta que atividades experimentais feitas por ele, como a construção de equipamentos de biologia simples, mostraram bons resultados.

“Nessas metodologias, o aluno torna-se o protagonista. Suas aplicações permitem o desenvolvimento de novas competências, como a iniciativa, a criatividade, a criticidade reflexiva, a capacidade de autoavaliação e a cooperação para se trabalhar em equipe. O professor atua como orientador, supervisor e facilitador do processo”, explica o docente do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), em Pelotas (RS), e também autor do artigo Fabricio Luís Lovato.

O professor conta que metodologias ativas vêm sendo pesquisadas e estudadas por acadêmicos da área de educação desde os anos 1980, com o termo se consolidando a partir dos anos 2000. Ele também destaca que, apesar disso, várias das ideias pedagógicas que as fundamentam têm uma origem mais antiga. 

“John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, já no começo do século 20 destacava em suas obras a importância de um ensino que enfatize a experiência e as ações práticas por parte dos alunos, em oposição a uma metodologia que fosse puramente expositiva”, complementa.

Entre as metodologias amplamente pesquisadas e aplicadas, Lovato destaca a Aprendizagem Baseada em Problemas (em inglês, "Problem-Based Learning" ou PBL), a Aprendizagem Cooperativa e a Aprendizagem Baseada em Projetos.

“Cada metodologia é mais ou menos eficaz dependendo de uma série de fatores, por exemplo: de como ela é implementada, do contexto de sua aplicação, dos objetivos que o professor tem em mente ou do ‘perfil’ da turma. Por isso, não se pode falar de uma ‘receita infalível’ para a sua aplicação, ou de qual metodologia é mais ‘eficaz’”, explica.

O professor também compartilha experiências na integração de mídias audiovisuais em suas atividades pedagógicas. "A utilização das mídias audiovisuais pode organizar as atividades de ensino e desenvolver nos alunos a competência de leitura crítica do mundo", diz. 

Ele cita exemplos pessoais, como o uso do episódio O peixe de três olhos, do desenho animado Os Simpsons, para abordar temas de educação ambiental; e a simulação de uma investigação criminal, inspirado em séries policiais como CSI, Criminal Minds e Chicago P.D., para ensinar conceitos de DNA e genética – Lovato dá aulas nas áreas de ciências biológicas e educação.

A vez dos games

O professor Fabricio Luís Lovato também menciona a gamificação como uma das metodologias ativas em ascensão. "Envolve elementos de jogos para engajar os alunos e envolvê-los no processo de aprendizagem", explica. 

Ele relata que, embora a aceitação por parte dos docentes seja positiva, há desafios como a falta de cursos específicos e limitações no acesso à internet e equipamentos nas escolas. "Esse é um campo que vale a pena continuar pesquisando", conclui.

Na onda dos jogos, o professor da UnB Ricardo Fragelli, da Faculdade de Engenharias da Universidade de Brasília (UnB), no Gama, criou a metodologia Summaê, em 2011. “É a junção da palavra summae (do latim, somas) com o acento circunflexo ‘^’, que representa a união de pessoas para o estudo de um determinado tema, mas todas vestindo chapéus criativos”, contextualiza Fragelli.

Resumidamente, funciona como um jogo de perguntas e respostas. As perguntas, porém, não são feitas por Fragelli ou por qualquer um dos professores convidados. São os alunos que fazem as perguntas por meio de vídeos criados por eles próprios também.

A questão vai ao telão e os estudantes presentes devem respondê-la dentro do tempo estipulado pelo apresentador – nesse caso, o próprio Fragelli. Quando acabar o tempo, é hora da correção, que é feita por algum dos professores. Cada questão, a depender do grau de dificuldade, vale mais ou menos pontos. 

Ao final, são indicados os melhores vídeos, os chapéus mais criativos e anunciados os vencedores do Summaê, que são os participantes com as maiores pontuações.

  • Alunos de exatas da UnB que participaram do 26º Summaê, UnB Gama
    Alunos de exatas da UnB que participaram do 26º Summaê, UnB Gama Estefania Lima/CB/D.A.Press
  • 26º Summaê, UnB Gama
    26º Summaê, UnB Gama Estefania Lima/CB/D.A.Press
  • Professor Ricardo Fragelli, apresentador do 26º Summaê, UnB Gama
    Professor Ricardo Fragelli, apresentador do 26º Summaê, UnB Gama Estefania Lima/CB/D.A.Press
  • Estudantes que participaram do 26º Summaê, UnB Gama
    Estudantes que participaram do 26º Summaê, UnB Gama Estefania Lima/CB/D.A.Press

Para o professor de matemática da UnB e convidado do Summaê Matheus Bernandini, 35 anos, é “nítida a empolgação dos alunos em participarem do festival, gravando os vídeos e confeccionando os chapéus”. Ele, que participa do Summaê desde 2018, e também observa que os estudantes apresentam melhor desempenho nas provas após participarem do evento, em comparação com as provas anteriores ao evento. “Qualquer atividade que incentive os alunos a aprenderem é muito bem-vinda”, compartilha.

Ricardo Fragelli criou a metodologia para ajudar estudantes do ensino superior a conseguirem a aprovação na tão temida disciplina de Cálculo 1, um verdadeiro carrasco dos estudantes da UnB. Com a aplicação da técnica de metodologia ativa, os níveis de reprovação diminuíram consideravelmente. 

Premiação

O “Oscar do Summaê”, como chamou Fragelli, é um festival que reúne e premia os melhores vídeos do país no contexto Summaê. Há 10 categorias, que vão desde “melhor animação” a “melhor vídeo com celebridade”. Este ano, o Festival Summaê ocorre em 29 de novembro, em Brasília. As inscrições foram prorrogadas até dia segunda-feira (9/9).

Podem participar professores dos ensinos fundamental, médio e superior, incluindo pós-graduação. O edital completo com as categorias, datas, e muitas outras informações pode ser acessado no site oficial do evento.

Escolha a escola do seu filho

As metodologias ativas são uma tendência na educação, em podem ser aplicadas em diferentes etapas do ensino. O Correio deu a largada para o especial que, todos os anos, mostra essa e outras novidades so mundo da educação para ajudar os pais na importante decisão a respeito da trajetória escolar de seus filhos. O especial Escolha a escola do seu filho chega à 18ª com podcasts, vídeos e reportagens para ajudar na escolha. Confira no site especial, que você pode acessar aqui, e também na edição impressa e digital, que será publicada em 15 de setembro!

 

*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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