análise

Especialistas explicam resultados do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica 2023

Apesar de superar resultados da última edição do índice nos anos iniciais do ensino fundamental, o rendimento dos anos finais e do ensino médio ainda deixam a desejar

Lara Costa*
postado em 14/08/2024 22:43
Divulgação dos dados do Ideb na sede do Ministério da Edicação (MEC). -  (crédito: Maria Eduarda Lavocat)
Divulgação dos dados do Ideb na sede do Ministério da Edicação (MEC). - (crédito: Maria Eduarda Lavocat)

A edição de 2023 do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) revelou que o Distrito Federal teve aumento no índice de aprovação nos anos iniciais do ensino fundamental em comparação com a última edição, em 2021. A média nacional é 6 e o DF atingiu o índice de 6,4, ficando atrás de Paraná (6,7); São Paulo (6,5) e Ceará (6,6). No Brasil, o rendimento para os anos iniciais foi de 93%.

Camilo Santana, ministro da Educação, comemorou o resultado, ressaltando a importância de investir em mais estratégias para manter os jovens nas escolas. “O desafio é não perder esse público da escola, tivemos políticas públicas que ajudaram, mas também precisamos de estratégias importantes para não perder essas crianças. Então, é importante fortalecermos essas medidas com os estados e municípios brasileiros”, disse.

No entanto, o índice mostrou discrepância na aprovação entre os anos iniciais do ensino fundamental e o ensino médio. Enquanto o Brasil apresentou índice de 93% para a primeira etapa da educação, no ensino médio, os dados foram inferiores, chegando a 70%.

Nesse contexto, Carlos Moreno, diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, percebe a descontinuidade desse índice para os jovens na faixa dos 16 anos. “Nossa trajetória nos anos iniciais é boa, mas irregular, porque, nos anos finais, esse índice cai e tem muito a ver com as desigualdades no sociais”.

Além disso, saíram as notas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Neste relatório, as pontuações de todos os anos foram um pouco maiores do que as de 2021, porém elas não superaram os resultados do período pré-pandêmico.

Especialistas entrevistados pelo Correio analisam esses resultados e como eles refletem a realidade da educação brasileira.

Pandemia

Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação, comparou os dados entre 2023 e 2019, época pré-pandêmica, e constata que as redes de ensino ainda não se recuperaram da pandemia, o que interfere diretamente nos resultados do Ideb.

Diante disso, o dirigente acredita que a situação é “crítica”, levando em consideração que muitos alunos estavam em níveis muito baixos de aprendizagem em todas as etapas. “Os níveis de aprendizagem estão mais baixos do que os patamares pandêmicos, porque as redes de ensino ainda enfrentam problemas de recomposição, de aprendizagem. Esses estudantes que fizeram a prova em 2023 ainda estão em níveis mais baixos que aqueles que não vivenciaram o período”.

Além disso, Fernanda Seidel, gerente de Avaliação e Prospecção do Itaú Social, acredita que o baixo rendimento nos anos finais do ensino fundamental é algo preocupante. Enquanto, nos anos iniciais do ensino fundamental, vemos que o desempenho volta a subir em 2023, desde a pandemia, esse fenômeno não é o mesmo para os anos finais e o ensino médio”, afirma.

Além do desempenho abaixo dos níveis pré-pandêmicos do Ideb e do Saeb, a gerente fala que existe o baixo investimento dos anos finais por parte de políticas públicas, em comparação com os anos inicias e o ensino médio. “Essa fase é de conclusão do ensino fundamental e de transição para o ensino médio, e na realidade de alunos mais pobres, que precisam trabalhar e, muitas vezes, deixam a escola, é uma época que precisa de atenção”, defende.

Desigualdades sociais

A professora Girlene Ribeiro de Jesus, da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB), lista uma série de motivos que explicam o baixo rendimento do ensino médio, como a alta evasão nessa etapa das escolas, decorrente da realidade socioeconômica dos estudantes. 

Além disso, ela cita um fato histórico que impacta nesse resultado: a incorporação tardia da obrigatoriedade do ensino médio no currículo escolar, prevista na Emenda Constitucional nº 59, de novembro de 2009. “Antes dessa inserção, era obrigatório que o estudante cursasse até os anos finais do ensino fundamental, sendo uma decisão optativa de ele cursar o nível médio, isso até hoje repercute nesses resultados".

Medidas

Para Gabriel Corrêa, o investimento nas políticas públicas é a melhor solução para as etapas dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio da educação brasileira. “O cenário foi aprofundado especialmente nessas fases e ainda merece muita atenção da política pública. De forma alguma podemos passar uma borracha no período pandêmico e dizer que os alunos não sofrem os impactos”.

No contexto de alta evasão escolar, Girlene reforça que medidas, como o Programa Pé-de-Meia, podem criar oportunidades e estímulos para os jovens, ajudando na permanência dos alunos na escolas. Além disso, ela acredita que o investimento do nível médio junto ao técnico pode ajudar tanto no rendimento da educação quanto na empregabilidade do aluno: ”Investir nisso dá mais sentido para o estudante, porque ele pode sair da escola com uma profissão, ajudando a própria família”.

Sobre o Ideb

Criado em 2007, o Ideb reúne os resultados de dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação em um indicador: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O índice agrega ao enfoque pedagógico das avaliações em larga escala a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas.  

A análise oferece um retrato da qualidade da educação por diferentes perspectivas, como a abrangência geográfica, incluindo município, estado/Distrito Federal, região e Brasil; dependência administrativa por meio de redes municipal, estadual, federal e privada; redes pública e privada e por escola. Os resultados são divulgados por etapas dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e ensino médio.

Para as análises, foram estabelecidas metas desse índice para serem alcançadas em nível de Brasil, estados, Distrito Federal, municípios e escolas a cada dois anos, de 2007 a 2021. Os parâmetros são importantes para medir o ritmo da melhoria da qualidade da educação, porque permitem identificar, por exemplo, se um município está acima ou abaixo do Ideb.

No entanto, há aspectos socioeconômicos que devem ser considerados além dos medidos pelo índice, que apresenta, portanto, resultados limitados. 

A secretária de Educação do Distrito Federal, Hélvia Paranaguá, foi contactada para falar sobre a situação da região, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

*Estagiária sob supervisão de Marina Rodrigues

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