Um exemplo inspirador de inclusão, que mostra o poder da vontade, da união em prol de uma causa. Uma ideia que reflete o poder da tecnologia e do apoio no ambiente escolar para a transformação de realidades. É o que acontece no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 213 de Santa Maria, onde 11 estudantes do 7º ano juntaram esforços, com a ajuda do professor de ciências, William Vieira, e criaram uma caixa robótica capaz de driblar as dificuldades de comunicação de uma colega com paralisia cerebral, Ana Vitória Soares, 16 anos. Confira abaixo o vídeo da matéria completa.
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A ideia surgiu quando o professor de ciências William Vieira de Araújo decidiu adaptar as atividades de Ana Vitória, e notou que a estudante demonstrava facilidade com a escrita e a leitura digital. "Eu trouxe um tablet para a Ana, e logo percebi a habilidade que ela tinha, pois entendia completamente as coisas que eu perguntava", descreve ao Correio. Em seguida, o professor levou a questão ao grupo de 11 meninas da aula de robótica, que já existia. "As colegas se empolgaram muito em tentar resolver essa situação e começamos a estudar mais profundamente", relembra.
Com base nessa demanda, o projeto intitulado A Voz da Ana surgiu em busca da criação de uma solução para as dificuldades de comunicação da estudante. Após dois meses de pesquisa, as alunas descobriram, sozinhas, a existência de uma ferramenta que dá voz ao texto escrito no Scratch, plataforma de desenvolvimento de jogos, que serviu de base para a produção da caixa robótica.
Segundo Vieira, para construir o equipamento de suporte foi necessário desenvolver habilidades em programação e pensar na engenharia do protótipo que, no início, era feito de papelão. A partir disso, criou-se o dispositivo de voz e teclado, que Ana utiliza para digitar. O equipamento também dispõe de botões na interface inicial, para comentários, frases e respostas de uso frequente, como "está certo", "está errado", "presente", "eu gosto" e "eu não gosto". À reportagem, Ana mostrou a funcionalidade do equipamento: digitou as palavras Correio Braziliense e o próprio nome. E antecipou que, em seu aniversário, quer ganhar do professor William uma caixa de som para amplificar o volume de seu dispositivo. Ela fará 17 anos em 12 de outubro, Dia da Criança.
As estudantes Vitória Medeiros e Kássia Dias, ambas com 13 anos, são as responsáveis pelo desenvolvimento da caixa robótica. Com o apoio do professor e das demais colegas, criaram a estrutura tecnológica e se sentem muito felizes por contribuir com a inclusão de Ana Vitória. "Esperamos que, a partir desse projeto, outras pessoas também possam ser beneficiadas", comemoram.
Parceria
O programa que permite a comunicação da aluna com os colegas é resultado da parceria do projeto escolar Roboticraft, da unidade de ensino de Santa Maria, e do grupo de Meninas e Mulheres no Instituto de Ciências Exatas (M²ICE), da Universidade de Brasília (UnB). O intuito dessa equipe é incentivar meninas e mulheres a se interessarem pelas ciências exatas e, consequentemente, promover uma presença delas nessa área do conhecimento.
Resultado
De acordo com o professor William, a adolescente se familiarizou rapidamente com o uso da caixa robótica, feito que também melhorou a aprendizagem de Ana. "Esse equipamento quebrou a barreira da comunicação que nós tínhamos. A partir desse momento, descobrimos o que ela pensava, e a Ana passou a ser ouvida", celebra Vieira.
A mãe da adolescente, Rejane Soares, 43 anos, está feliz e se emociona com a ajuda que o projeto proporciona. "É muito gratificante saber que os professores e os alunos se prontificaram para incluir a Ana em sala de aula, dar voz a ela, sou muito grata", enfatiza. Ela comenta o impacto que a iniciativa trouxe para vida da estudante. "Ana tem mais vontade de ir para escola. Em casa, ela conta como foi o dia. A felicidade dela é notória e ficamos mais felizes ainda", acrescenta.
A Voz da Ana ultrapassa a sala sala de aula. O diretor do CEF 213 de Santa Maria, Luciano Pereira, 45, ressalta a importância da iniciativa para incentivar outros estudantes e escolas a criarem projetos semelhantes. Existem plataformas mais avançadas no mercado, mas, o custo é maior, tornando-se inviável para uma escola pública. Além disso, o equipamento criado é mais simples de ser operado. "Acreditamos que qualquer inovação que possa promover a inclusão dos alunos é muito bem-vinda, até porque o grande desafio de todos os colegios é a promoção da inclusão", reflete Pereira.
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