Eu, Estudante

CULTURA POPULAR

Violas brasileiras: estudantes conhecem os diferentes tipos do instrumento

Projeto leva os diferentes tipos de viola a escolas públicas de Taguatinga, onde os estudantes têm a oportunidade de descobrir sobre a diversidade da música brasileira

O projeto Violas Brasileiras leva a escolas da rede pública do Distrito Federal apresentações musicais que despertam atenção para os tipos de viola que são tocadas em diferentes tradições brasileiras. A intenção é trazer para a comunidade escolar, público-alvo do projeto, o reconhecimento das violas menos conhecidas como instrumentos importantes no desenvolvimento cultural do Brasil.

“Algumas dessas violas são muito regionalizadas, não obtendo um alcance de conhecimento nacional expressivo por grande parte da população. Com exceção da viola caipira e da viola nordestina, a viola caiçara e a viola de buriti são praticamente desconhecidas por uma grande parcela da comunidade em geral e, até mesmo, no meio musical. Com isso, o legado desses instrumentos acaba se encontrando apenas nas regiões onde foram criados e seu uso fica restrito à tradição local”, explica Thiago Ribêiro, organizador da iniciativa, realizada com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF). 

As próximas apresentações serão na terça-feira (18/6), no Centro de Ensino Médio Taguatinga Norte (CEMTN) e no Centro Educacional (CED) 02, também em Taguatinga. Além das violas caipira e nordestina, citadas por Ribêiro, os estudantes também têm a chance de prestigiar de perto músicos tocando as violas de buriti, encontradas mais comumente no Jalapão (Tocantins) e no noroeste de Minas Gerais, e a caiçara, originária dos litorais dos estados de São Paulo e do Paraná. 

A apresentação também conta com a participação do músico João Santana, trazendo o tradicional repente junto à viola nordestina, além da mediação da arte-educadora Luciana Meireles. “Esses instrumentos são importantes porque têm impacto direto na cultura local. Essas violas são utilizadas em festas tradicionais, procissões, Folia de Reis, entre outras manifestações culturais”, acrescenta Thiago Ribêiro, formado em viola de gamba na Escola de Música de Brasília (EMB) e em licenciatura em música na Universidade de Brasília (UnB).

Davi Mello -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
 

Na escola 

Correio foi à primeira apresentação do projeto, no Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga (Cemeit). Estudantes das três séries do ensino médio se reuniram no auditório do colégio para prestigiar as performances dos músicos, que também se encarregaram de explicar a origem de cada tipo de viola tocada no palco. 

As primeiras a serem apresentadas foram a caiçara e a de buriti, tocadas por Thiago Ribêiro e Thiago Alves, também organizador do projeto. Cada uma chama atenção pelas peculiaridades, seja pelo som que emite ou pelo material do qual é feita, aspectos que revelam parte da vasta música brasileira.

O repentista João Santana levou o Nordeste para o auditório do Cemeit. Enquanto os dedos tiravam acordes da viola nordestina, a voz improvisava rimas que animaram os estudantes. O desafio foi improvisar dentro de temas sugeridos pela plateia: Flamengo, Vasco, guaxinim e o jogador de futebol Neymar. Os adolescentes adoraram. “É muito legal trazer um pouco de conhecimento sobre as violas brasileiras, que são de muitos tipos, representando diferentes regiões. É bom para eles se apropriarem da diversidade cultural do país deles”, analisou o repentista. 

A arte-educadora Luciana Meireles, encarnada na personagem Maria das Alembrança, conduziu o espetáculo com leveza, também informando sobre as violas e arrancando algumas risadas do público presente.  

Finalizando a apresentação, Thiago Ribêiro e Thiago Alves retornaram ao palco para apresentar a viola caipira, a mais conhecida todas, devido à popularização da música sertaneja. Com detalhes, os dois explicaram a diferença entre a moda de viola e o pagode de viola. Os versos entoados pela dupla completaram o show para os jovens do Cemeit. 

"Nossa cultura é incrível"

O estudante da primeira série Felipe Rodrigues Costa, 16 anos, estava no auditório e acredita que o conhecimento da própria cultura é o caminho para a superação da ignorância. “Eu achei espetacular. É algo fora da rotina e que deveria ter desde os anos iniciais do ensino fundamental, para as pessoas já terem esse conhecimento enraizado. Nossa cultura é incrível e a gente precisa conhecê-la e estudá-la mais, principalmente a cultura nordestina”, destacou o adolescente. 

Já Roberta Kamilly da Luz Pereira Schutze, 15, também da primeira série, ficou encantada com a viola caipira. “Lembrei dos meus avós”, disse a jovem. “Eu achei muito legal para a gente saber mais sobre as outras culturas do nosso país. Muita gente não as conhece, o que as inviabiliza, muitas vezes”, observou Kamilly. 

Viola no Brasil

A viola veio ao Brasil com as primeiras levas de colonizadores e jesuítas. Utilizado como ferramenta na catequese, o instrumento, aos poucos, foi ganhando a cara da nova terra nas mãos de bandeirantes, tropeiros e cantadores.