O Festival Marco Zero de dança iniciou, nesta segunda-feira (10/6), uma série de apresentações artísticas em escolas públicas do DF. Hoje, o grupo, que usa a dança como meio de aprendizado e de inclusão dos estudantes, fez três apresentações no Centro de Ensino Médio (CEM) 1 do Gama. O projeto está em sua 7ª edição nas ruas, mas ocorre nas escolas pela primeira vez este ano.
As 12 apresentações e a oficina “Fluir o fluxo”, que integra práticas de dança e yoga, vão até sexta (14/6), em centros de ensino do Gama, de Santa Maria e do Park Way. Em julho, o festival segue nas ruas. O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (Fac-DF) e busca inserir a dança no contexto escolar, como recomenda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
A primeira edição do Marco Zero nas ruas ocorreu em 2006, com a intenção de trazer para as pessoas um olhar sobre a dança que vai além do entretenimento, podendo levar aprendizado e desenvolver o pensamento crítico, como explica Marcelle Lago, idealizadora do projeto. “O nosso objetivo é trazer não só um olhar estético sobre a dança, mas, principalmente, um olhar crítico reflexivo, porque aqui a gente está formando o público, formando o senso crítico”, afirma.
Marcelle ainda destaca o grande alcance do festival quando levado para as escolas, conectando a formação do pensamento com o afeto, “porque você começa fazendo arte gostando”. Por meio da dança, são exploradas relações de trabalho, culturas de povos indígenas e afrobrasileiros, bem como acessibilidade de pessoas com deficiência, promovendo, também, a inclusão.
Apresentações
Pela manhã, o CEM 1 do Gama recebeu a apresentação “Valia +”, do coletivo Terreiro Urbano, que ensinou aos alunos sobre relações de trabalho por meio da figura do motoboy, trabalhador responsável pelo transporte e a entrega de produtos. A performance começou com música e interação com os estudantes para, então, seguir com uma encenação reflexiva, atraindo a atenção pela dinâmica.
“A nossa apresentação mostra não só relações abusivas por meio da figura do motoboy, mas também relações de parceria que acontecem nesse meio do trabalho. A gente começou com um funk que está viralizando na internet e entregou saquinhos com pirulito no início, já ganhando muito bem o público. Depois, seguimos para uma dramaturgia que mostra um tratamento mais pesado, trazendo uma reflexão mais a fundo dessas relações de trabalho. Fomos muito bem recebidos, principalmente, por causa do entretenimento, pois chamamos os alunos para dançar, e eles participaram junto”, descreve Rômulo Santos, dançarino do “Valia +” e produtor-executivo do projeto Marco Zero.
Durante a tarde, ocorreram as apresentações “Condutor e Conduzido”, pelo artista Marcos Davi, e “Antípoda”, da Cia de Dança Libras em Cena. A primeira apresentação retrata uma pessoa viciada no celular, que anda, dança e faz acrobacias sem tirar os olhos do aparelho. Na encenação, o personagem tenta se desvencilhar do vício, mas não consegue, até que pede a intervenção de um aluno, que tira o celular da mão dele e joga no chão. “Quando você está no celular, no seu mundo, as pessoas falam com você, mas você não consegue responder. Quando estamos no celular, perdemos o que está acontecendo fora”, explica Rômulo.
A apresentação “Antípoda” mostra aos alunos a perspectiva de pessoas surdas em um mundo de ouvintes, por meio de uma coreografia na qual a língua de sinais é majoritariamente utilizada, e os ouvintes devem se esforçar para se comunicar. A Cia de Dança Libras em Cena é a primeira companhia de dança bilíngue (libras e português) do Brasil, composta por bailarinos surdos e duas ouvintes fluentes em libras.
Cintia Caldeira, dançarina do projeto, explica, em língua de sinais, que o objetivo é promover a inclusão de pessoas deficientes auditivas e desconstruir preconceitos e opressões. “A gente faz uma reflexão como se o mundo fosse de surdos e tivesse poucos ouvintes, para que estes entendam como a gente se sente excluído e invisibilizado. São muitas barreiras, muita falta de comunicação e de informação. Então, é importante que os alunos compreendam a nossa perspectiva, até porque, aqui na escola, tem alunos surdos; para apoiá-los. É importante a comunicação, essa presença e a troca de ensino e aprendizagem com empatia, para que a gente amplie o amor e diminua o racismo, o preconceito e as opressões”, expõe.
Experiência
Mírian Braga, vice-diretora do CEM 1 do Gama, afirma que o festival na instituição foi muito proveitoso, proporcionando uma experiência lúdica aos alunos, que se sentiram representados com as apresentações. “Os estudantes adoraram, disseram: ‘nossa, dessa vez vocês acertaram’, brincando. É uma abordagem contemporânea, na qual eles se sentem representados e pertencentes à escola. É muito importante a gente trabalhar essas questões no ensino médio, de valorização da arte, de pertencimento dos alunos e da diversidade que vivem e sentem”, compartilha.
Confira a programação completa
11/6 - CAIC Carlos Castello Branco (Gama)
- “Dança-cultura do povo indígena Ticuna Magüta” (manhã)
- “Ilógico” (tarde)
- Oficina “Fluir o Fluxo”
12/6 - Escola Classe 206 de Santa Maria
- “Os dançarinos irmãos Sukulonsky” (manhã)
- “Breve costura ancestral” (tarde)
- “Burnout” (tarde)
- Oficina “Fluir o Fluxo” (tarde)
13/6 - Centro de Ensino Fundamental (CEF) 316 de Santa Maria
- “Dança-cultura do povo indígena Ticuna Magüta” (manhã)
- “Showcase” (tarde)
14/6 - Centro Educacional de Vargem Bonita (Park Way)
- “Rio novo, tempo e minhas mães” (manhã)
- “Os dançarinos irmãos Sukulonsky” (tarde)
- Oficina “Fluir o Fluxo”
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues
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