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Novo PNE detalha ações para metas de educação

Nova versão do Plano Nacional esmiúça e padroniza informações para que sejam atendidos os objetivos do aprimoramento, em 10 anos, na formação de estudantes. Texto deve ser apresentado pelo ministro Camilo Santana, na Câmara

Mayara Souto
postado em 25/06/2024 03:55
Sala de aula     -  (crédito: Reprodução/Freepik)
Sala de aula - (crédito: Reprodução/Freepik)

A nova proposta para o Plano Nacional de Educação (PNE), elaborada pelo Ministério da Educação, esmiúça e padroniza as ações para que as metas de aprimoramento educacional nos 10 anos seguintes sejam atingidas. Isso porque, no programa atual — cuja vigência expira hoje —, as 20 metas estabelecidas em 2014 eram abrangentes e deixavam com os estados e municípios o detalhamento para sua implementação. O Correio teve acesso ao texto do novo PNE, que deve ser apresentado ao Congresso amanhã.

Ao todo, a normativa estabelece 18 objetivos a serem alcançados por meio de 58 metas, que estabelecem prazos menores e itens mais específicos para se alcançar um propósito maior (veja no quadro ao lado). É o caso, por exemplo, da alfabetização. O PNE atual diz que todas as crianças devem ser alfabetizadas até o final do 3º ano do ensino fundamental. Na atualização que será apresentada pelo ministro da Educação, Camilo Santana, a previsão é de que, nos cinco primeiros anos, 75% das crianças estejam alfabetizadas no final do segundo ano do fundamental — e que a porcentagem cresça para 100% até o fim da década. Atualmente, o país tem índice de alfabetização em 97%, o que representa que ainda há 11,4 milhões de pessoas que não sabem ler e escrever — o equivalente à população da cidade de São Paulo.

Outro ponto em que o novo PNE esmiúça é a educação em tempo integral. O texto define a carga horária de aulas da modalidade para sete horas diárias ou 35 horas semanais, algo que até agora não estava definido. A versão atualizada do plano aumentará para 55% o número de escolas públicas que oferecem a modalidade (era 50%), e para 40% o percentual de estudantes da Educação Básica até o fim do novo plano (era 25%).

Conectividade

Além disso, é incluído no ensino integral um tópico sobre conectividade nas escolas, que garante internet de alta velocidade em metade das escolas públicas da Educação Básica até o quinto ano do novo plano — esse percentual deve ser de 100% em 10 anos. Os estudantes também deverão ter uma formação em educação digital, que deve alcançar ao menos 60% dos alunos. De acordo com o governo, a intenção da modalidade na nova versão do PNE é ir além do maior número de horas na escola e alcançar o "desenvolvimento pleno dos estudantes".

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comparacao pne 2014 2024 (foto: pacifico)

A garantia da qualidade educacional, que aparece em vários objetivos e, em especial, na Educação Básica, é outro detalhamento do novo PNE. Na versão atual, a meta era mais genérica — diz apenas sobre "fomentar a qualidade da Educação Básica em todas etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e aprendizagem para atingir as médias nacionais do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)". O resultado do último Ideb, em 2021, mostrou que o ensino fundamental inicial estava com nota 5,8 (média 6), o fundamental nos anos finais aparecia com 5,1 (média 5,5) e 4,2 no ensino médio (média 5,2).

Agora, uma série de itens compõe o objetivo de melhorar a aprendizagem no ensino fundamental e médio. Entre eles, estão assegurar o nível adequado de aprendizagem, em cinco anos, de 70% dos estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental; de 65% dos anos finais do fundamental; e de 60% para o ensino médio. Ao final do plano, todos percentuais devem ser 100%. A redução das desigualdades de aprendizagem na Educação Básica, considerando raça, sexo, classe e região do país, também está definida no novo PNE.

Balanço

A especialista em educação Sonia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, considera positivo o detalhamento que é realizado no novo PNE. "O PNE era mais abrangente com a expectativa de que os planos estaduais e municipais pudessem definir melhor as metas, a partir de seu contexto", observa.

Mas as diferentes realidades entre as unidades da Federação e entre os municípios para atingir as metas se mostrou um problema. "O plano foi feito em um período em que estávamos num avanço progressivo. Tinha expectativa de continuidade e colocamos a régua mais alta. A gente tinha, em 2014, outro momento. Então, foram projetadas metas que, à época, se entendiam como ambiciosas, mas necessárias. Aí temos a crise econômica e a pandemia", lembra.

O balanço do cumprimento das metas do PNE até 2023, feito pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, mostrou que apenas três das 20 metas do plano foram cumpridas. O relatório aponta série de retrocessos do governo Jair Bolsonaro que pode explicar a não conclusão do plano. "O PNE não está sendo cumprido. No lugar dele, é colocada uma série de políticas públicas que vai à contramão do que ele preconiza: políticas discriminatórias, excludentes, de censura, e de esvaziamento da escola como lugar vivo, democrático, transformador e livre", diz o balanço.

Heleno Araújo, coordenador do Fórum Nacional da Educação, salienta que a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/16 limitou o investimento em educação. "Para alcançar as metas (do PNE), tem que dar as condições. O Custo Aluno Qualidade, por exemplo, não foi regulamentado até hoje", explica, citando o valor mínimo que o poder público deve investir por aluno para que haja uma educação de qualidade.

O novo PNE deve ser apresentado ao Congresso amanhã. "A expectativa é de que se possa criar uma comissão especial para debater profundamente o PNE. A ideia é fazer um debate puramente técnico", explica o deputado Rafael Brito (MDB-AL), presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação.

Apesar de expirar hoje, o PNE atual deve ser prorrogado até dezembro de 2025.

 

 

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