A Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, cidade na região central de Minas Gerais, suspendeu o uso da obra O menino marrom, de Ziraldo, nas salas de aula do município. A suspensão ocorreu após a reclamação de pais de alunos, que consideram o conteúdo da obra "agressivo".
Escrito em 1986, o livro conta a história de dois amigos, um negro e um branco, que querem entender juntos as cores. Na narrativa, eles buscam entender o que é branco e o que é preto e se isso os torna diferentes. Trechos do texto, para alguns pais, induzem crianças a "fazer maldade".
Em nota publicada no Facebook, a prefeitura defendeu a obra de Ziraldo ao dizer que é "um recurso valioso na educação, pois promove discussões importantes sobre respeito às diferenças e igualdade". Além disso, "aborda de forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade".
A prefeitura informa que a Secretaria Municipal de Educação solicitou a suspensão temporária de trabalhos sobre a obra para "melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas".
"A Secretaria, em sua função de gestão e articulação entre escola e comunidade compreende ser necessário momento de diálogo junto aos responsáveis para que não sejam estabelecidos pensamentos precipitados e depreciativos em relação às temáticas abordadas", completa a nota.
Reação
Nos comentários da publicação, moradores se revoltaram com a medida. "Meu SENHOR, QUE TEMPOS SOMBRIOS, que gentinha chata e ignorante se converteu essa tal "extrema direita"! Que VERGONHA ALHEIA ao meu País! Um horror, insuportável esses pais, insuportável essa secretaria sem NOÇÃO", comentou Marcinha Botolai.
"Se estão conseguindo criar interpretações equivocadas nas obras do ZIRALDO, o que vai ser bom pra esse povo? Que os filhos não tenham acesso a literatura? Que os filhos não tenham acesso a cultura? Sinceramente, me assusta a prefeitura e a secretaria dar palco pra maluco", comentou Gabriela Oliveira. "Deveriam sugerir aulas de interpretação pra esses pais, isso sim. Ziraldo não pode, mas o tiktok tá liberado!", completou ela.
"A tendência é voltarmos a Idade Média, estarei ao lado das Bruxas", criticou Sandro Santos.
Ao Correio, a prefeitura lamentou as "interpretações dúbias" acerca da nota postada nas redes sociais. "[...] a suspensão [da obra] foi apenas pelo tempo necessário para formalizar um plano de trabalho que evitasse qualquer dupla interpretação ou preocupação junto à comunidade escolar. Para tanto, o Secretário Municipal de Educação, a Secretária Adjunta de Educação, a equipe técnica pedagógica e o Serviço de Psicologia Institucional realizaram reuniões na manhã desta quinta-feira, para organizar o trabalho com a comunidade escolar", informou a administração municipal.