CELEBRAÇÃO

Cápsula do tempo: ex-alunos do CEM Setor Leste abrem cartas escritas em 2018

Em meio à comemoração dos 61 anos do CEM Setor Leste, ex-alunos abrem cartas que escreveram para si mesmos, há seis anos, quando eram formandos, relembram seus desejos e contam como estão hoje

Maria Eduarda Lavocat
Eduardo Vanuncio
postado em 04/06/2024 06:00 / atualizado em 04/06/2024 17:04
A ex-aluna Beatriz Lara; a vice-diretora Ana Eulália Moura de Paula; a coordenadora pedagógica Márcia Gallina; os monitores do Re(vi)vendo Êxodos, Ana Clara Santos e Bruno Daudt; e o professor Luiz Guilherme Batista, um dos idealizados do projeto -  (crédito: Eduardo Vanuncio)
A ex-aluna Beatriz Lara; a vice-diretora Ana Eulália Moura de Paula; a coordenadora pedagógica Márcia Gallina; os monitores do Re(vi)vendo Êxodos, Ana Clara Santos e Bruno Daudt; e o professor Luiz Guilherme Batista, um dos idealizados do projeto - (crédito: Eduardo Vanuncio)

Já imaginou como seria uma volta ao passado? Apesar de não ser possível viajar no tempo, os formandos de 2018 do Centro de Ensino Médio (CEM) Setor Leste tiveram um gostinho ao revisitar lembranças dos seus últimos anos na educação básica. Isso acontece graças a uma cápsula do tempo feita há seis anos e aberta na última terça-feira, na semana do aniversário de 61 anos da escola. Na caixa, os alunos guardaram cartas com suas expectativas para o futuro.

Uma das alunas foi Beatriz Lara, 22 anos, que agora está concluindo a faculdade de direito. Ela diz que ler seu relato de 2018 foi revigorante. "Na época, a gente não deu tanto valor, mas foi incrível. Na minha carta, eu falei sobre tudo na minha vida de forma corrida. Dei recados para mim mesma sobre coisas que de fato aconteceram. Fiz perguntas que hoje posso responder", relembra. "Aos 17 anos, eu não ligava para o amor, mas hoje namoro e tenho planos de casamento. Também falei sobre fazer o curso de direito, mesmo sem ter certeza. Escrevi que queria continuar com um senso de justiça e correr atrás dos direitos das pessoas", completa a ex-aluna, com emoção. 

O estudante de ciências ambientais da Universidade de Brasília (UnB) Bruno Daudt concorda, ao afirmar que também cumpriu suas metas escritas na carta. "É muito gratificante ver esses projetos ainda ocorrendo no colégio no qual fiz o ensino médio. Ver essas mensagens deixadas por nós na época em que nos formamos é incrível. Eu coloquei que queria passar na UnB, o que foi uma grande conquista para mim. Isso foi o que mais me marcou lendo a carta", destaca Bruno. 

Outra ex-aluna que também passou por um momento de reconexão com o passado foi Lara Teixeira, 23, profissional de educação física formada pela UnB. "Na minha cabeça, em 2018, eu acreditava que não tinha chance de esquecer o que eu tinha escrito na carta, mas a maior parte do que escrevi era muito íntimo ao que estava vivendo e sentindo naquele momento. Consegui me surpreender e me emocionar muito, foi como um reencontro. Além disso, uma parte de mim se situou no tempo e serviu para amenizar a ansiedade de sentir o tempo passar", confidencia Lara. 

A jovem conta que deseja tornar um hábito a confecção de cartas para si mesma. "Grande parte das minhas expectativas foi alcançada. Inclusive, deixei para mim, em 2018, a tarefa de fazer outra carta, em 2024, e manter essa tradição enquanto fizer sentido. A valorização do nosso passado foi um dos pilares do projeto que mudou a minha forma de olhar o mundo. É evidente com o passar dos anos que aqueles momentos foram valiosos para minha formação como cidadã e ser humano", enfatiza.

Empolgada com a proposta, a estudante Úrsula Reis, 17, planeja escrever seus sonhos na carta deste ano e falar sobre seu futuro como universitária, na intenção de que eles se realizem. Sua colega Maria Elys, 17, corresponde. "Minha expectativa é de estar formada na área de biomedicina e conseguir a minha estabilidade por meio de concurso. Pretendo abrir a cápsula e estar realizada, ver que eu me tornei o ser humano que eu queria ser", antecipa.

  • A leitura das cartas é um momento de alegria para os jovens, que comparam o passado com o presente
    A leitura das cartas é um momento de alegria para os jovens, que comparam o passado com o presente Divulgação
  • Além das cartas foram guardados revistas e jornais. Esta edição do Correio Braziliense é do dia 20 de dezembro de 2018
    Além das cartas foram guardados revistas e jornais. Esta edição do Correio Braziliense é do dia 20 de dezembro de 2018 Maria Eduarda Lavocat
  • Caixa com as cartas
    Caixa com as cartas Maria Eduarda Lavocat
  • Placa da Cápsula do tempo de 2018
    Placa da Cápsula do tempo de 2018 Maria Eduarda Lavocat
  • Capsula que será aberta apenas em 2048
    Capsula que será aberta apenas em 2048 Maria Eduarda Lavocat
  • Bruno Daudt, Beatriz Lara, Luiz Guilherme e Ana Clara
    Bruno Daudt, Beatriz Lara, Luiz Guilherme e Ana Clara Eduardo Vanuncio

Re(vi)vendo Êxodos: reflexão

As cápsulas do tempo fazem parte do projeto Re(vi)vendo Êxodos, criado pela equipe de professores da área de ciências humanas do CEM Setor Leste, após uma visita à Exposição Êxodos, do fotógrafo Sebastião Salgado. O objetivo era estimular os estudantes à reflexão. "Desde 2001, nós tínhamos esse projeto que trabalhava com patrimônio, identidade e meio ambiente. Era um projeto de educação patrimonial, no sentido geral da palavra. A ideia de memória sempre fez parte, pois acredito que quando conhecemos nossas raízes, ficamos mais fortes. Isso é algo natural", explica Luiz Guilherme Batista, coordenador-geral e um dos idealizadores da iniciativa.  

Em 2012, os docentes aproveitaram o cinquentenário da escola e, em comemoração, produziram a primeira cápsula do tempo, que será aberta em 2048, após 50 anos. "O Setor Leste é uma das escolas mais tradicionais do Plano Piloto e do próprio Distrito Federal. Então, em 2013, montamos um baú do tempo com cartas, jornais, revistas e outras coisas", relata o professor. Em 2018, próximo de se aposentar, Luiz Guilherme teve a iniciativa de criar uma tradição. "A ideia era de que, após cinco ou seis anos, quando estivessem terminando ou tivessem concluído a faculdade, eles lessem a carta que escreveram quando estavam no 3º ano, um período de muitas dúvidas, algumas certezas e muita vontade de fazer muitas coisas", complementa. "Após o ano de 2021, eu me aposentei, o que dificultou a continuidade do projeto, mas estamos tentando mantê-lo", conclui Luiz Guilherme. 

"O projeto tem um papel crucial na conscientização sobre o que significa ser um cidadão com um olhar atento para sua cidade e seu país. Ele vai além dos muros da escola, promovendo uma compreensão mais profunda sobre a preservação do patrimônio e o papel do indivíduo no mundo. Essa conscientização é fundamental", diz Márcia Gallina, coordenadora pedagógica do CEM Setor Leste.

A vice-diretora do colégio, Ana Eulália Moura de Paula, afirma que, apesar de o período de seis anos ser relativamente curto, é o suficiente para levar a uma reflexão. "Pessoalmente, posso dizer que não sou a mesma pessoa de ontem, o mundo está em constante evolução. Os alunos de 2018, ao retornarem, puderam perceber o quanto suas vidas mudaram", avaliou.

Tradição

Foram feitas quatro cápsulas do tempo — em 2012, que será aberta em 2048; em 2018, aberta este ano; em 2019, que será aberta no ano que vem; e em 2021, com abertura marcada para 2027. Em 2020, a cápsula não foi confeccionada devido à pandemia de covid-19.

A escola pretende dar seguimento à tradição com os formandos deste ano.

*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso

 

 

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