proibição

Escola da Candangolândia restringe uso de celular em sala de aula

Casos de ciberbullying por parte de alunos e o uso constante do aparelho durante as aulas são os principais motivos por trás da medida

Lara Costa*
postado em 28/05/2024 16:11 / atualizado em 29/05/2024 19:43
Medida também pretende proteger a identidade dos alunos. -  (crédito: Eduardo Vanûncio)
Medida também pretende proteger a identidade dos alunos. - (crédito: Eduardo Vanûncio)

O Centro de Ensino Fundamental 01 (CEF 01) da Candangolândia, no Distrito Federal, implementou uma nova política que restringe o uso de celulares no ambiente escolar. A medida, de caráter experimental, entrou em vigor em 20 de maio, com o objetivo de combater o uso inadequado dos dispositivos móveis pelos estudantes. 

Alguns motivos para a adoção dessa política são o uso constante dos aparelhos nas salas, durante as aulas, e também o acesso a conteúdos inadequados dentro da própria escola. 

Além disso, havia casos de cyberbullying (assédio virtual) e "brincadeiras" maldosas por meio da internet, nas quais imagens, memes e mensagens vexatórias sobre os colegas eram compartilhados em aplicativos de mensagens. “Quando isso cai na rede, toma outra proporção e vira vexame, exposição, deixa a pessoa constrangida, e toma uma proporção totalmente diferenciada”, defende Patrícia Trajano, vice-diretora da escola.

Ciberbullying

Patrícia conta que recebia muitas reclamações de pais e responsáveis sobre casos de alunos que eram fotografados de "brincadeira" até mesmo fora da sala de aula, o que fazia com que os filhos se sentissem desmotivados e, às vezes, não comparecessem às aulas.

Diante desses casos, foi realizada uma reunião da diretoria com os pais e responsáveis, junto aos membros dos conselhos escolar e tutelar, em 11 de maio, a fim de discutir o problema. “Nós resolvemos apresentar essas questões aos pais, para expormos as nossas dificuldades e o tanto que estava sendo danoso para os alunos”.

Depois dessa conversa, a escola foi se adaptando à nova regra durante uma semana, com avisos a todos os envolvidos. Nesse período, tanto os estudantes quanto os país e responsáveis foram obrigados a assinar um termo de ciência que permite os filhos a levarem advertência, no caso de uso do aparelho eletrônico.

Em alta

A vice-diretora vê que a escola é um ambiente importante para repercutir a discussão sobre o tema, levando em consideração o bem-estar dos alunos e os impactos na aprendizagem. “Isso é uma demanda da sociedade. Os pais enfrentam as mesmas dificuldades em casa e nós estamos sentindo aqui. É algo que precisa ser discutido”.

O CEF 01 não é a única escola a tomar essa providência. A Prefeitura do Rio de Janeiro e o Colégio Marista João Paulo II, no DF, também já adotaram essas medidas. Nesse contexto, Patrícia reforça a necessidade da participação de entidades políticas, sugerindo a criação de uma lei direcionada, especificamente, para o ensino fundamental nos anos iniciais e finais, que correspondem a esse momento de desenvolvimento que o estudante precisa adquirir e pode desenvolver o próprio potencial, para ter uma certa proteção”.

Além da vice-diretora, a professora de ciências do CEF 01 Gina Karla Rodrigues é uma das profissionais favoráveis à instalação dessa política, acreditando que isso pode ajudar na maior atenção dos alunos aos conteúdos passados nas aulas.

“[A medida] veio para melhorar o desenvolvimento e a compreensão dos estudantes em classe, nos ajudando na abordagem desse conteúdo durante as aulas, porque eu percebo que os estudantes estão mais focados e concentrados, então nós, professores, conseguimos desenvolver, inclusive, mais atividades”.

Juliana Paim, psicóloga comportamental, fala que essa decisão apresenta vantagens e desvantagens, uma vez que o uso dos aparelhos durante as aulas podem prejudicar a atenção dos alunos. No entanto, a psicóloga aponta consequências para os jovens em relação a suspensão do uso do celular, como o aumento da ansiedade. "Se até para nós, adultos, é difícil permanecer off-line, imaginem como é para os adolescentes, que ainda estão aprendendo a controlar os impulsos e a regular as emoções". 

Para ela, existem desvantagens mais contornáveis e outras menos, que vão desde a indisponibilidade para os familiares que precisem entrar em contato em casos de emergência até a dificuldade de entrosamento para adolescentes tímidos e isolados socialmente. "Eles podem se sentir ainda mais excluídos e deslocados sem terem o celular para se distrair nos intervalos, e o simples fato de estarem sem os celulares não fará com que eles automaticamente 'façam amigos'". 

Além disso, a psicóloga ressalta que, apesar da maioria das escolas estejam em fase de adaptação, para mostrar aos estudantes como a importância de manter o foco durante as aulas e de respeitar o trabalho dos professores; precisa existir outras medidas. "Quando o aluno tem dificuldade de atenção, não é a ausência do celular que vai melhorar isso, pois existem outras maneiras de se distrair, como desenhar, conversar baixinho com um colega, ler um revista mangá escondido. Então apenas proibir o celular não é suficiente".

Posicionamentos

Mesmo com uma semana de instalação, e com análises positivas por parte da equipe escolar, alguns pais não veem a medida com bons olhos.

Eudiane Ribeiro, cozinheira e mãe de uma aluna do CEF 01, concorda parcialmente e tem ressalvas com a nova política da escola. “Não sou totalmente de acordo. Levo em conta a concentração do aluno na escola, mas acho que deveria ter flexibilidade em algumas situações, por exemplo, o estudante usar o aparelho no do recreio”.

Já Marcos Victor Cardoso, motorista de aplicativo e pai de duas estudantes da escola, é contrário à medida, acreditando que são os professores quem têm a responsabilidade sobre a forma com que os estudantes devem usar os aparelhos eletrônicos. “Acho que é extremista, porque isso pode acarretar em vários problemas, dentre eles, aluno precisar conversar com um parente ou receber uma informação, uma mensagem”.

*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues

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