No último dia da Bett Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou o relatório final da pesquisa Social and Emotional Skills for Better Lives (Competências socioemocionais para uma vida melhor, na tradução), resultado da segunda rodada do Estudo SSES (Survey on Social and Emotional Skills).
Esta é a primeira vez que o Brasil integra a pesquisa, que teve sua primeira rodada em 2019. A participação foi em parceria com o Instituto Ayrton Senna e a Secretaria Municipal de Educação de Sobral, no Ceará, onde foi realizada a coleta de dados no país.
O foco foram estudantes de 10 a 15 anos, de 16 países e entidades subnacionais ao redor do mundo. O estudo avaliou o desempenho de tarefas, de regulação emocional, de engajamento com os outros, de abertura ao novo e de colaboração. Essas competências, de acordo com a OCDE, estão associadas a melhores resultados na saúde, na educação e, posteriormente, no mercado de trabalho.
Karen Teixeira, gerente de pesquisa e membro do eduLab21, laboratório de ciências para educação do Instituto, vê a necessidade da pesquisa também para que profissionais da educação entendam os aspectos socioemocionais dos alunos e possam adaptar as abordagens de ensino.
“Isso leva à discussão, levanta as competências na escola; e a avaliação dessas competências deve ser base para a formulação de políticas públicas, que podem ser colocadas nos currículos e usadas no trabalho dos professores a partir dessas intervenções em sala de aula”, descreve a pesquisadora.
Resultados entre grupos sociodemográficos
Em todos os territórios analisados, o estudo constatou que alunos socioeconomicamente desfavorecidos — com, por exemplo, menos acesso a recursos educativos e de aprendizagem de qualidade — reportam níveis mais baixos de todas as habilidades socioemocionais em comparação com alunos favorecidos. Além disso, é intrínseca a relação entre o contexto econômico, social e cultural e as competências de criatividade, tolerância, assertividade, curiosidade, iniciativa social e empatia.
Na cidade de Sobral (CE), estudantes de 10 anos em situação desfavorável relataram níveis mais baixos na maioria das competências. Aos 15 anos, alunos em contextos desfavorecidos relataram níveis mais baixos de competências de abertura ao novo (como curiosidade, tolerância e criatividade) e engajamento com os outros (assertividade e sociabilidade) do que aqueles em situações mais favoráveis.
Perspectiva de futuro
De acordo com os dados, o município brasileiro é destaque em expectativa de conclusão do ensino superior; com 84% dos estudantes esperando concluir o ensino superior, enquanto 57% espera ter emprego gerencial ou profissional aos 30 anos. Além disso, 97% dos jovens de 15 anos espera concluir o ensino superior, enquanto 60% espera ter um emprego gerencial ou profissional aos 30 anos.
Em Sobral, esses níveis mais desenvolvidos da maioria das competências foram associados a melhores notas em matemática, leitura e artes entre estudantes de 15 anos. Aqueles que relataram níveis mais elevados de entusiasmo também tenderam a obter melhores notas em matemática e em artes, enquanto estudantes com níveis mais elevados de assertividade tenderam a obter melhores notas em matemática e leitura.
Também uma questão de gênero
A pesquisa revelou que meninas e meninos avaliam suas competências sociais e emocionais de forma diferente e essas diferenças são mais pronunciadas aos 15 anos. Em média, os meninos relatam maiores habilidades de regulação emocional (resistência ao estresse, otimismo e controle emocional) e energia do que as meninas aos 15 anos em todos os locais participantes.
A análise incluiu alunos que optaram por autodeclarar o gênero. Além de “masculino” e “feminino”, a opção “outro” foi disponibilizada na maioria dos sites, segundo o documento.
No tocante ao bem-estar, na cidade brasileira, os meninos também têm nível superior ao das meninas, além de índices mais baixos de ansiedade durante testes e aulas. Ainda, os estudantes favorecidos relatam níveis mais elevados nas cinco medidas positivas de bem-estar e saúde em relação aos desfavorecidos.
Quando se trata de hábitos saudáveis, os dados mostraram que, em Sobral, 9 em cada 10 alunos nunca fumaram cigarros ou consumiram álcool, um índice menor do que a média geral.