Pensar o futuro e escolher a carreira com responsabilidade é um desafio na vida de qualquer jovem do Ensino Médio. Com o objetivo de promover uma imersão nas oportunidades e nos desafios que moldam o cenário profissional atual, o Correio Braziliense realizou ontem, em parceria com o Colégio Marista Asa Sul, o webinar Futuro em foco: explorando carreiras. O evento teve a presença de 45 estudantes do Ensino Médio, além de profissionais que atuam em orientação de carreira.
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Apresentado pela jornalista Sibele Negromonte, o webinar foi gravado e está disponível no canal do Correio no YouTube. O evento contou com a presença de Joaquim Neto, professor de química e um dos responsáveis pelo projeto Conexão Universidade do colégio Marista Asa Sul; de Ana Clarissa Masuko, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV); e do psicólogo Matheus Kaiser. Os profissionais debateram os aspectos que envolvem a escolha da carreira e responderam às perguntas tanto dos alunos que estavam presentes como de quem acompanhava o evento on-line.
O psicólogo Matheus Kaiser entende que o autoconhecimento é uma ferramenta importante para a escolha da profissão a ser seguida. Kaiser pontuou que a escolha da carreira é um desafio tanto para os jovens quanto para os professores e profissionais que acompanham esse momento da trajetória dos jovens. "É uma demanda emocional intensa. A gente tenta identificar neles, por meio do autoconhecimento, características que eles têm, o que eles gostariam de ser na vida, qual o projeto de vida deles, para que a ansiedade diminua e eles possam fazer essa escolha com mais tranquilidade", salientou.
"Um evento dessa natureza é de grande importância para colocar os jovens em conexão com questões emocionais, de carreira e de projetos de vida", declarou o psicólogo. "A escolha da profissão é um elemento importante na vida das pessoas e a perspectiva desse evento vem ao encontro disso", acrescentou.
O estudante Rafael Arcanjo Vieira, 15 anos, aprovou o debate. "Acho incrível esse tipo de oportunidade. Bom para ajudar a decidir o que vou querer fazer. Vai dar muito suporte para minhas decisões", declarou o estudante da segunda série do ensino médio. "Minha disciplina preferida é matemática", afirmou. "Eu gostei muito porque eles interagiram conosco, eu pude tirar minhas dúvidas sobre carreira. Deu um direcionamento sobre o caminho que devo seguir", concluiu.
Lauane Raquel, 16, também está no segundo ano do ensino médio e já escolheu o curso universitário. "Quero fazer medicina, mas acho muito bom estar aqui, pois esse tipo de evento cria experiência e ajuda a determinar o que quero para o meu futuro e a ver como funcionam algumas coisas na prática. É uma experiência maravilhosa", destacou.
Professor de química e orientador de carreira do Colégio Marista da Asa Sul, Joaquim Neto é um dos docentes envolvidos no projeto Conexão Universidade promovido pela instituição de ensino, que orienta os estudantes do Ensino Médio na busca por qual universidade cursar e em qual carreira investir tempo e estudos. "Percebemos que é importante cada aluno ter seu espaço individual para conversar sobre seus planos de vida. Porque muitos são tímidos para falar na sala de aula", explica o professor. Durante o webinar, o professor destacou os quatro cursos atualmente em alta entre a juventude: ciência e engenharia da computação, psicologia e medicina.
No colégio, cada estudante pode marcar um horário com um dos orientadores caso esteja em dúvida sobre o curso, ou até para conhecer mais possibilidades. Em cada turma há os chamados mentores, profissionais focados em montar um planejamento da rotina de estudos dos estudantes, com ênfase no desejo universitário de cada um.
Diálogo
Cada bloco do webinar levantou questões trazidas tanto da web quanto dos estudantes participantes da atividade. Uma inquietação levantada foi sobre a presença da família na escolha da carreira. "Nós sempre falamos da importância do diálogo entre pais e alunos nessa fase da vida. Não é uma escolha unilateral do adolescente, assim como também não é uma decisão dos pais", acrescenta o orientador do Colégio Marista. Às considerações do professor, Matheus Kaiser, psicólogo especialista em psicopedagogia, coordenação e orientação escolar e em teoria cognitiva-comportamental da psicologia, acrescentou a questão: como os pais podem ajudar os filhos nessa escolha?
Para o especialista, "mães e pais precisam se aproximar dos filhos e reconhecer que os adolescentes têm as próprias escolhas. Muitas vezes, quando os adultos não fazem essa distinção, eles afastam ainda mais os filhos", pontuou. De acordo com o psicólogo, a escolha por um curso universitário é um fator ansiogênico para os jovens, além de potencialmente depressivo. "Nesse momento, é essencial que a família se comporte como aliada e apoiadora, e não como um agente causador de ansiedade", concluiu.
IA e biotecnologia
A preocupação sobre uma possível ameaça de a inteligência artificial e a biotecnologia eliminarem postos de trabalho tem sido presente na vida de estudantes do Colégio Marista da Asa Sul. Quando foi aberto o espaço para perguntas, uma das primeiras questões dos estudantes foi sobre o futuro das oportunidades de trabalho com o avanço da IA.
"O importante é nós aprendermos a trabalhar com a IA e se perguntar: como posso usar essa ferramenta aliada à minha profissão e ao meu curso?", explicou o professor e orientador de carreira do Colégio Marista, Joaquim Neto. Segundo o docente, não adianta existir a tecnologia se a pessoa não souber como formular uma pergunta para ela.
Para o psicólogo Matheus Kaiser, a IA vai sim tirar alguns postos de trabalho do mercado, ao mesmo tempo que vai criar profissões. "Nós ainda nem sabemos sobre algumas ocupações que surgirão no futuro e que já nascerão em um mundo onde a IA é uma realidade", aponta.
Os especialistas também afirmam a urgência de se aprender a usar os dispositivos de IA para nos auxiliar nos processos de trabalho e alertam que quem não sabe usar essa ferramenta deve buscar meios de aprender.
Diversidade
Para a professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ana Clarissa Masuko, a diversidade está em alta no mercado de trabalho, principalmente com a adoção de políticas ESG, ligadas a sustentabilidade, responsabilidade social e ética nos negócios. "A preocupação com a questão ambiental só tende a crescer. Todas as profissões ligadas ao meio ambiente são do futuro. Por exemplo, cada vez mais as empresas vão contratar analistas de sustentabilidade", sugeriu.
A diversidade também deve aparecer nas universidades. A Universidade de Brasília (UnB) tem programas de inclusão. "Atualmente, metade das vagas são para escola pública e a outra metade para estudantes da rede privada. Dentro disso, ainda existem as políticas de cotas para pretos, pardos e indígenas", lembrou o professor Joaquim Neto. Mas, e se pensarmos no âmbito da carreira e realização de planos de vida? Como fica a questão da diversidade social?
Quem respondeu a essa questão foi o psicólogo Matheus Kaiser. "É importante construir uma carreira em torno de uma atividade com a qual você se sinta realizado, que não seja pesaroso. Nesse sentido, a discussão sobre as minorias é essencial", disse. "Cada um de nós temos um papel social. Vale se perguntar: qual papel você desempenha na sua casa? E no seu bairro? A escolha profissional precisa refletir isso", adicionou. E foi categórico ao concluir: "Se o seu trabalho não te realiza, mude de trabalho".