Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveram um jogo digital que une as tradições do povo indígena Maraguá, do Amazonas, e a defesa da Amazônia. A ideia de lançar Kawã na terra dos indígenas maraguá partiu do interesse da professora Maria Silvia Cintra Martins no tema, por meio da leitura do livro de literatura infanto-juvenil Aventuras do Menino Kawã, do escritor indígena Elias Yaguakãg. O jogo é destinado a alunos e professores de escolas de educação infantil e ensino fundamental I e tem o intuito de fundamentar práticas de alfabetização e letramento interdisciplinares.
“Ao jogar, estudantes e professores encontrarão elementos culturais típicos da cultura tradicional Maraguá – e também elementos das histórias de assombração cultivadas por esse povo indígena amazonense. Encontrarão, ainda, elementos que hoje fazem parte da luta política dos Maraguá em defesa de suas terras, bem como de nossa luta global pela sustentabilidade do planeta e a preservação dos animais”, explica Maria Silvia à Agência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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Os indígenas maraguás vivem nas margens do rio Abacaxis e estão divididos em três aldeias no município de Nova Olinda do Norte (AM). A subsistência desses povos é baseada na caça e na pesca, e as tradições culturais incluem a arte de fabricar vasilhas de cerâmica, pinturas corporais e ritos de passagem para a idade adulta.
“Os Maraguá falam um idioma que combina o nheengatu [derivação do tupi antigo que se tornou a língua geral ou língua franca do país durante o período colonial] com o aruak. E também se comunicam em português. Estão organizados em seis clãs, cujas famílias possuem um mesmo ancestral comum: clã do gavião, clã da vespa, clã do boto, clã da onça-pintada, clã da sucuri e clã do peixe-elétrico. Kawã, o herói do jogo digital, pertence ao clã do Gavião”, destaca a pesquisadora Maria Silvia.
O enredo do jogo gira em torno dos rituais de passagem para a vida adulta, que exigem provas de coragem e são rodeados por seres típicos, como a onça-pintada, o gavião-real e a sucuri com mais de seis metros. Na roteirização, os pesquisadores também incluíram personagens que povoam o imaginário do povo Maraguá, a exemplo dos Zorak, que são homens-morcegos que habitavam o território originário no passado, obedeciam e prestavam serviços a Anhãga, o Senhor do Mal.
“Os Zorak entraram no fabulário Maraguá a partir do ataque a jovens caçadores da aldeia, que, desobedecendo o que os velhos ensinam, resolveram caçar à noite. Hoje, essa história possui relação com as discussões sobre a preservação da Amazônia, o cuidado com a floresta e seus recursos e a resistência às invasões ilegais de garimpeiros, madeireiros e pescadores predatorios na região do rio Abacaxis. Tudo isso contextualizado pela luta global pela sustentabilidade do planeta”, cita Maria.
O próximo passo da equipe da pesquisadora do Departamento de Letras da UFSCar é adaptar, para o formato de jogo digital, o clássico livro A Queda do Céu, do xamã e líder yanomami Davi Kopenawa em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert.
O jogo Kawã na terra dos indígenas maraguá pode ser acessado neste link.
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